Heejin vs The Homo Sapiens Agenda

CAPÍTULO 25

Pois é. Eu fui descuidada. Parece que deixei uma trilha de pistas e eu não devia ficar surpresa por Kat ter descoberto quem eu sou. Acho que talvez eu quisesse que isso acontecesse.

Acontece que Tian Ji Zhen é a romanização de 田姬振 que é o meu nome em chinês. E obviamente não é um codinome tão inteligente quanto achei que fosse.

Eu estraguei tudo. Sério, sou uma imbecil. Não sei no que eu estava pensando.

Um desenho do One Piece e uma sensação instintiva de que Kat era Kim Jiwoo? É a classica Lógica da Heejin. Não me surpreende que eu tenha errado de forma tão horrenda e épica.

Passo uns vinte minutos olhando para o e-mail de Kat de manhã cedo antes de responder. Depois, fico atualizando a página sem parar, até Soyeon bater à porta.

Chegamos à escola cinco minutos antes. Então, fico mais cinco minutos sentada no carro estacionado, atualizando meu e-mail de novo, no celular.

Ela não viu a postagem do Tumblr. Já é alguma coisa. É uma grande coisa, na verdade.

Entro quando o sinal toca, e estou bem atordoada. Sorte que minhas mãos parecem saber a combinação do cadeado do armário, porque meu cérebro fritou.

As pessoas falam comigo e eu assinto, mas nenhuma informação é registrada.

Só consigo pensar em Kat. Acho que parte de mim está torcendo para alguma coisa acontecer hoje. Algum tipo de revelação. Não consigo acreditar que Kat não me contaria, agora que sabe quem eu sou. Ou seja, estou procurando em toda a parte. 

Chan me passa um bilhete na aula de francês, e meu coração dispara, porque penso que pode ser uma mensagem dela: "Me encontre em frente ao seu armário. Estou pronta." Alguma coisa assim. Mas acaba sendo um desenho impressionante e realista em estilo mangá da nossa professora de francês executando felação em uma baguete. Por falar em coisas que me lembram Kat...

E quando alguém me cutuca no ombro na aula de história, meu coração dispara como uma bola de pinball. Mas é só Daniel.

— Psiu, escute isso — diz ele.

Eu escuto, e é Minki explicando para Amber que ele não estava tentando ter um vão entre as coxas, mas o metabolismo dele é assim, e ele nem sabia que algumas pessoas sonham em ter esse vão. Amber assente coçando a cabeça e parece entediada.

— Ele não pode controlar o metabolismo, Heejin. — comenta Daniel.

— Ao que parece, não.

Minki pode ser um agente secreto que combate o bullying, mas ele continua sendo bem irritante.

Daniel me cutuca de novo e pede que eu pegue uma caneta que ele deixou cair, e meu coração vira uma bola de pinball outra vez. Não consigo evitar. Existe uma expectativa no ar que é impossível reprimir.

Assim, quando as aulas terminam sem nenhum acontecimento extraordinário, meu coração fica meio partido. É como dar onze da noite no seu aniversário e você perceber que não vai ter uma festa surpresa, afinal.

Na quinta-feira, depois do ensaio, Jiwoo menciona casualmente que é bissexual e que deveríamos sair qualquer dia desses. Fui pega de surpresa. Só fiquei olhando, boquiaberta. A doce Jiwoo de franjinha hipster e carinha de bebê.

Mas a questão é que ela não é Kat.

Que não anda respondendo meus e-mails, aliás.

Incrivelmente, esqueço o episódio com Jiwoo até a aula de literatura do dia seguinte. O Sr. Wang está fora da sala quando eu entro, e os nerds estão inquietos.

Umas pessoas estão discutindo Shakespeare, e alguém sobe em uma cadeira e berra o solilóquio de Hamlet no ouvido de outro cara. O sofá está lotado. Daniel está no colo de Jihyo.

Ele se joga para trás e me chama. Está sorrindo, todo feliz.

— Heejin, eu estava contando para a Jihyo o que aconteceu no ensaio ontem.

— É — diz Jihyo. — Mas quem é essa tal de  Kim Jiwoo?

Eu balanço a cabeça e fico vermelha.

— Ninguém. É do grupo de teatro.

— Ninguém, é? — Jihyo inclina a cabeça. — Tem certeza? Porque esse aqui me disse…

— Shhh! — faz Daniel, tapando a boca de Jihyo. — Desculpa, Heejin. É que fiquei empolgado por você. Não era segredo, era?

— Não, mas não é… Não foi nada. — digo.

— Ah, isso veremos — retruca Daniel, com um sorrisinho.

Não sei como explicar para ele que, para todos os efeitos, eu já estou comprometida. Com alguém que tem o nome parecido ao de um arremessador de beisebol e que não gosta muito de desenhar, não tem franjinha ruiva e ainda não me empurrou em uma cadeira de rodinhas.

Alguém que parecia gostar mais de mim antes de saber quem eu era.