CAPÍTULO 9

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Ela gosta de me imaginar fantasiando sobre sexo.

Eu definitivamente não deveria ter lido isso logo antes de ir para a cama.

Estou deitada na escuridão total, lendo essa frase no celular repetidas vezes. Estou ansiosa e elétrica e com o corpo todo tenso só por causa de um e-mail. E estou excitada. Isso é meio estranho. E muito confuso. De um jeito bom. Kat normalmente é tão cuidadosa com o que escreve...

Ela gosta de me imaginar fantasiando sobre sexo!

Eu achava que só eu tinha esses pensamentos sobre nós duas. Como seria encontrá-la pessoalmente depois de todo esse tempo? Será que primeiro teríamos que conversar? Ou iríamos direto para a parte dos amassos? Já imaginei tudo. Ela no meu quarto, nós duas sozinhas. Ela senta ao meu lado na cama e se vira para me olhar com aqueles olhos castanhos claros. Os olhos de Kim Jiwoo. Aí, coloca as mãos no meu rosto e, de repente, está me beijando.

Levo as mãos ao rosto. Ou melhor: levo a mão esquerda ao rosto. A direita está ocupada. Eu me perco de novo em pensamentos. Ela me beija, e é algo totalmente diferente do que tive com meus antigos namorados. Não dá nem para comparar. Não está nem na mesma camada da atmosfera. Uma vibração elétrica irradia por todo o meu corpo; meu cérebro está embaçado e acho que consigo ouvir meu coração batendo.

Tenho que ser extremamente silenciosa. Soyeon está do outro lado da parede. A língua dela está na minha boca. As mãos sobem por debaixo de minha camisa. Estou quase lá. Não consigo mais segurar. Meu corpo todo vira gelatina.

Na segunda, Chan vem falar comigo assim que chego à escola.

— Oi — diz ele. — Soyeon, vou roubá-la de você.

A rampa que leva ao portão principal tem uma beirada de concreto. Algumas partes são tão baixas que parecem uma espécie de prateleira para a bunda.

Chan evita meu olhar.

— Fiz uma mixtape para você — diz ele, me entregando um CD em uma capa cinza com o grafite de uma fita cassete. — Pode colocar no seu iPod quando chegar em casa. Como preferir.

Dou uma olhada no verso da capa. Em vez de colocar a lista das músicas, Chan montou o que parece ser um poema acróstico com meu nome, basicamente me chamando de velha.

— Chan, é tão lindo.

— É. Ok. — Ele se encosta na rampa e olha para mim. — Está tudo bem entre a gente?

Eu faço que sim.

— Você está falando sobre... — começo.

— Sobre vocês terem me largado no dia do jogo.

— Desculpe, Chan.

Os cantos dos lábios dele se erguem um pouco.

— Você tem tanta sorte por ser seu aniversário.

E então, ele tira um chapéu de festa da bolsa e coloca na minha cabeça.

— Desculpe se exagerei na reação — acrescenta.

No almoço, tem um bolo redondo enorme na mesa, e todo mundo está usando chapéu de festa. É a tradição. Só ganha bolo quem estiver com o chapéu. Ryujin parece estar querendo dois pedaços, na verdade. Está com dois cones presos na cabeça, como se fossem chifres.

— Heeeeekki — Daniel canta meu nome com uma voz grave e rouca de ópera. — Estique as mãos e feche os olhos.

Sinto alguma coisa muito leve cair na palma da minha mão. Abro os olhos e vejo uma gravata-borboleta de papel colorida com lápis de cera cor de rosa. Pessoas das outras mesas olham para a gente, e sinto que estou sorrindo e ficando vermelha.

— Tenho que colocar?

— Hã, tem? — diz Daniel. Ele inclina o queixo para cima de forma dramática e estica uma das mãos.— Jihyo, a fita.

Jihyo está com três pedaços de fita adesiva nas pontas dos dedos, sabe-se lá há quanto tempo. Francamente. Ela parece o macaquinho adestrado dele. Daniel coloca a gravata em mim e cutuca minhas bochechas, que é uma coisa que ele faz com uma frequência bizarra, mas, aparentemente, minhas bochechas são fofas. Seja lá o que isso signifique.

— Então, quando você estiver pronta... — diz Chan.

Ele está segurando uma faca de plástico e uma pilha de pratos, e parece fazer questão de não olhar para Jihyo nem para Daniel.

— Estou super pronta.

Chan corta quadradinhos perfeitos, e, sério, parece que ondas de uma substância magicamente deliciosa surgiram na minha boca. Adivinhe que mesa de nerds de repente virou a mais popular da escola.

— Sem chapéu, sem bolo.

Do outro lado da mesa, Felix e Chaewon decretam a lei. Alguns garotos transformam folhas de papel em chapéus de festa, e um cara acaba enfiando o saco de papel pardo onde estava seu almoço na cabeça, feito um chef de cozinha. As pessoas perdem a dignidade quando o assunto é bolo. É uma coisa linda de se ver. O bolo está tão perfeito que sei que foi Chan que escolheu. Ele é mesmo incrível em aniversários.

Levo o que sobrou para o ensaio, e a srta Jo nos deixa fazer um piquenique no palco. E, quando falo piquenique, estou me referindo aos alunos do grupo do teatro em cima da caixa como abutres, enfiando pedaços de bolo na boca.

— Meu Deus, acho que ganhei uns três quilos — comenta alguém atrás de mim.

— Eu tenho sorte de ter um metabolismo tão acelerado. — replica Minki.

Sério, esse Minki. Até eu sei que pessoas podem ser mortas, com razão, por dizerem uma coisa dessas. E por falar em vítimas de bolos: Amber está estirada no palco com o rosto enfiado na caixa vazia.

— Tudo bem, pessoal. Vamos lá. Peguem os lápis. Quero vocês fazendo anotações nos seus roteiros.

Não me importo de escrever. Essa cena acontece em uma taverna, e minhas anotações são basicamente para eu me lembrar de atuar como se estivesse bêbada. É uma pena que essas anotações não sejam avaliadas nas provas finais. Melhoraria a nota de muita gente.

Seguimos sem intervalos hoje, mas não participo de todas as cenas, então fico um tempo à toa. Há plataformas com degraus em ambas as laterais do palco, deixadas ali depois de um show do coral. Eu me sento quase na base e apoio os cotovelos nos joelhos. Às vezes esqueço como é legal ficar de fora olhando as coisas acontecerem.

Amber está à esquerda do palco, na fileira da frente, contando uma história para Daniel com vários gestos exagerados. Ele está balançando a cabeça e rindo. Talvez ela não tenha desistido, afinal.

De repente, Jiwoo aparece na minha frente e bate em meu pé de leve com a ponta do tênis.

— Oi — diz ela. — Feliz aniversário.

Agora sim, um aniversário bem feliz. Ela se senta ao meu lado, a uns trinta centímetros de distância.

— Vai ter alguma comemoração mais tarde?

Não quero mentir, mas também não quero que ela saiba que meu plano se resume a ficar com minha família e ler mensagens de aniversário no Facebook. É segunda-feira, né? Ninguém faz nada legal numa segunda.

— Ah, acho que sim. Acho que vamos comer bolo de sorvete. De Oreo.

Eu tive que tocar no assunto Oreo.

— Legal — diz ela. — Espero que você tenha guardado espaço.

Não houve reação notável ao Oreo. Mas acho que isso não quer necessariamente dizer nada.

— Tudo bem, então — diz Jiwoo, se afastando. Eu não quero que ela se levante. Mas ela se levanta. — Divirta-se.

Ela coloca a mão no meu ombro por uma brevíssima fração de segundo. Eu quase não acredito que aconteceu. Estou falando sério. Aniversários são incríveis mesmo.

Heejin vs The Homo Sapiens AgendaOnde histórias criam vida. Descubra agora