CAPÍTULO 23

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É o primeiro dia de aula depois do recesso de Natal e estou considerando passar o dia todo no estacionamento. Não sei explicar. Achei que ficaria bem, mas agora que estou aqui, não consigo sair do carro. Fico enjoada só de pensar. 

— Nem devem se lembrar mais do post. — diz Soyeon.

Eu dou de ombros.

— Ficou lá por o quê, uns três dias? E foi há mais de uma semana.

— Quatro dias.

— Alguém ainda lê aquele Tumblr?

Entramos na escola assim que o primeiro sinal toca. As pessoas estão correndo e se empurrando pela escada. Ninguém parece prestar atenção em mim, e, apesar de todo o esforço de Soyeon para me tranquilizar, dá para ver que ela está tão aliviada quanto eu. 

Sigo com a multidão até meu armário, e acho que estou finalmente começando a relaxar. Algumas pessoas acenam para mim normalmente. Ryujin, da mesa do almoço, passa por mim e diz:

— E aí, Jeon?

Jogo a mochila no armário e pego os livros de literatura e francês. Ninguém colocou bilhetes homofóbicos ali, ainda bem. E também não rabiscaram a palavra “sapata” na porta, melhor ainda. Estou quase pronta para acreditar que as coisas melhoraram um pouco na Seonam. E que ninguém viu a postagem de Amber no Tumblr, afinal.

Amber. Meu Deus, não quero nem pensar em ter que ver aquela cara de capeta dela. E é claro que ela está na mesma droga de turma que eu no primeiro tempo.

Ainda sinto uma onda silenciosa de medo quando penso em vê-la de novo. No momento, só estou tentando respirar.

Quando entro no corredor de línguas e artes, uma garota do time de basquete que mal conheço esbarra com tudo em mim quando está descendo a escada.

Dou um passo para trás para me equilibrar, mas ela coloca a mão no meu ombro e olha no fundo dos meus olhos.

— Ah, oi — diz ela.

— Oi…

Ela me segura pelas bochechas e puxa meu rosto como se fosse me beijar.

— Smack!

Ela sorri, e seu rosto está tão perto que sinto o calor do hálito dela. E, ao meu redor, as pessoas estão rindo; parecem a merda do Elmo, de Vila Sésamo.

Eu me afasto dela com as bochechas pegando fogo.

— Aonde você vai, Jeon? — pergunta alguém. — É a minha vez.

E todo mundo começa a rir de novo. Sabe, eu nem conheço essas pessoas. E não sei que tanta graça elas veem, pelo amor de Deus.

Na aula de literatura, Amber não olha para mim. Mas, durante o dia inteiro, Chan e Daniel parecem dois pitbulls, lançando olhares cheios de fúria para qualquer um que me encare de um jeito esquisito. É muito fofo da parte deles. No final das contas, o dia não é um completo desastre.

Algumas pessoas cochicham e riem. Outras me dão sorrisos enormes e aleatórios no corredor, sabe-se lá com que intenção. Dois gays que nem conheço se aproximam de mim em frente ao meu armário, me abraçam e me dão seus números de telefone. E pelo menos uns doze alunos héteros fazem questão de me dizer que me apoiam. Uma garota até confirma que Jesus ainda me ama.

É muita atenção. Minha cabeça está girando.

No almoço, os garotos decidem discutir e avaliar cinquenta milhões de meninas que, na opinião deles, são possíveis namoradas para mim. E está tudo perfeito e hilário até Felix fazer uma piada sobre Jihyo ser gay. Em resposta, Jihyo se joga em cima de Daniel. E Chan fica transtornado.

Heejin vs The Homo Sapiens AgendaOnde histórias criam vida. Descubra agora