Capítulo 7

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Não chorei quando Amélia foi embora.

Marina dirigiu o carro até o aeroporto. Nos encontramos com sua família no saguão, as malas já haviam sido despachadas. Estávamos sentadas com os braços entrelaçados quando finalmente chamaram por seu vôo. Eu não me sentia preparada mas estava orgulhosa e feliz por sua partida. Feliz por ela, triste por mim.

Amélia desapareceu num piscar de olhos. Acho que estava perdida em meus pensamentos para recordar do passo a passo de sua saída. Me despedi nos portões, abraços e beijos, junto da família e dos amigos. Assisti enquanto subiu a rampa para o avião, finalmente sumindo de vista.

Pronto, estava sozinha.

Tudo aconteceu tão rápido.

Vi o avião decolar e então fiquei ali só olhando o céu e o movimento de outras pessoas por longos minutos após sua partida, tentando juntar as peças. Digitei uma mensagem no caminho de volta ao carro.

Fiona: Fai un buon viaggio. Mi piaci amore mio. Mi mancherai.

Não chorei quando Amélia foi embora.

Daniel foi direto para a cozinha enquanto Marina jogava as chaves no balcão, estávamos com fome depois de passar a manhã no aeroporto. Comemos juntos, conversamos um pouco. Fui para o meu quarto e olhei em volta, achando que precisava organizá-lo.

Comecei a limpar. Tudo. Tudo que eu tinha, todos os móveis, livros e objetos inúteis de decoração, passando para o piso e as janelas. Reorganizei meu armário, roupas para um lado e o resto para o outro. O sol havia se posto quando terminei. Não me lembrava da última vez que tinha feito isso. Finalmente abri a caixa de livros de Amélia e os organizei nas prateleiras, colocando todos juntos no canto para que não esquecesse quais eram os dela e quais eram os meus.

Também para que não me perdesse em meu plano de lê-los toda vez que sentisse saudades.

A campainha tocou, corri para atender a porta e fiquei surpresa ao ver Rodrigo com uma caixa em mãos. Disse que não ia entrar, só veio para deixar o pacote a pedido da irmã.

Peguei a caixa curiosa, com o coração batendo rápido pela surpresa. Me despedi de Rodrigo e fechei a porta, passando por Marina com o pacote em mãos como um raio em direção ao quarto. Coloquei a caixa em cima da cama e respirei fundo. Abri a tampa.

Ela queria acabar comigo. É isso.

Fiquei paralisada apenas olhando a criatura que me olhava de volta, ela curiosa, eu em choque. Com cuidado peguei o pequeno filhote nas mãos, o coloquei em meu colo e acariciei seu pelo. Peguei o envelope que estava na caixa e o abri, uma nota de Amélia.

Querida Fiona,
Tomei a liberdade de escolher o nome dela já que sei que esse tipo de decisão te enlouquece. Essa é a Nala, cuide bem dela até eu voltar. Assim não vamos nos perder.
Com amor,
Amélia.

Não chorei quando Amélia foi embora.

Fazendo com que seus olhos fitassem os meus, a ergui. Tão pequena mas tão feroz. A gatinha malhada permaneceu quieta enquanto a segurava mas, uma vez que a coloquei na cama, longe de mim, me surpreendeu ao voltar e se esfregar na minha perna, pedindo carinho.

A peguei novamente e, tendo a certeza de que estávamos sozinhas e de que eu não a assustava tanto quanto ela a mim, a abracei, finalmente sentindo o ar sair mais pesado junto das lágrimas que eu tanto odiava, sendo interrompidas por soluços inevitáveis em seus longos minutos de duração. Fiquei lá, sentindo tudo com aquele serzinho ainda desconhecido nos braços que representava tanto a falta dela como sua presença abstrata.

Chorei quando Amélia foi embora. Mais do que gostaria de admitir.

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