Me sentei na arquibancada, de onde teria uma vista ampla de tudo que acontecia no pátio do colégio. Estava sozinha, apenas observando enquanto esperava o sinal tocar. Senti o peso do cabelo ondulado que descia até minha cintura, nunca tive muita paciência para cuidar dele, mas ainda o queria longo. Era uma armadura pesada, mas sentia que podia respirar melhor quando estava na arquibancada, me sentia segura de cima.
Coloquei os fones de ouvido e a música se iniciou, com as notas acelerando em minha cabeça vi a aluna que me acelerava o coração descer as escadas. Se vestia como todos os outros, mas algo nela era diferente, um brilho mais vivo. Além, é claro, do cabelo loiro bem curtinho. Não sabia se a invejava ou admirava. Talvez os dois, mas gosto de pensar que a segunda opção era predominante. Foi uma paixão breve e platônica, um intervalo curto do dia em que dançou no pátio pela primeira vez até sua formatura.
Não sabia seu nome. Nunca imaginei que um dia o descobriria.
Ela pulou os dois últimos degraus enquanto conversava com a professora de biologia, carregando as sapatilhas nas mãos. Era sempre assim energética, aberta, alegre... Livre. Ela me passava uma sensação de liberdade. Ela me espelhava uma imagem do futuro.
Claro, tudo aquilo só existia na minha cabeça. Minha imaginação era fértil demais. Eu nunca falaria com ela, mal conseguia formar pensamentos quando via seus fios loiros na minha frente. E aí ela começava a dançar, ensaiava todos os dias. Nossa, como eu queria ter trinta por cento da sua coragem e dançar na frente de todos sem medo... Por vários momentos não pensei que conseguiria.
Mas consegui.
O sinal tocou e ela parou de dançar. Vi de longe o brilho do suor em sua pele refletido pelo sol, o peito subindo e descendo rapidamente, seus olhos ainda fechados, sentindo o que havia acabado de acontecer. Percebia que se recarregava toda vez que rodopiava por aquele pátio.
Quando seus olhos abriram, se pregaram em mim.
Eu queria que aquele segundo durasse para sempre.
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Tons de Violeta
RomanceEu tinha quinze anos quando vi Amélia pela primeira vez. Vinte e dois quando a conheci realmente. Nem um mês a mais quando me apaixonei. Ela era única, brilhante, inabalável, muito diferente de mim... "Tons de Violeta" é um curto romance sáfico que...