Quando o som do despertador ecoou pelo quarto senti meu corpo pesado sobre os lençóis, como se tivesse dormido muito pouco. Mal pude me mexer mas senti Amélia esticar o braço para finalmente cessar o barulho. Reuni minhas forças e alcancei meu celular, cinco da manhã.
-Cinco horas?
-Sim -ela sorriu.
-Você acorda às cinco horas da manhã?!
-Pois é.
Olhei para ela com as sobrancelhas juntas, me doendo demais por ter despertado tão cedo mas sorrindo logo depois por estar ao seu lado. Levei minha mão até seu rosto e acariciei sua pele ainda sonolenta, então me levantei e caminhei até o banheiro, colocando um pouco de pasta de dente no dedo e fazendo o que eu podia. Voltei para debaixo dos lençóis e então ela se levantou para fazer o mesmo. Amélia usava uma camiseta mas eu estava nua.
-Acordo às cinco porque gosto de ter tempo, -ela disse, se aproximando da cama lentamente -não estou com pressa.
Subiu no colchão, posicionando seu corpo acima do meu e finalmente uniu nossos lábios, deixando que nossas línguas se encontrassem pela primeira vez naquela manhã. Desceu as mãos pelo meu corpo, demorando os dedos em cada centímetro de pele até o quadril. Separou nossas bocas:
-O que quer de café da manhã?
-Você.
Amélia sorriu, afundando seus lábios em mim novamente antes de traçar um caminho molhado e tortuoso pelo meu pescoço, descendo beijos por meu tronco até chegar onde tanto queria que chegasse. Olhou nos meus olhos antes de finalmente permitir que sua língua se afundasse entre minhas pernas, sorrindo ao sentir minhas costas arquearem contra o colchão enquanto meus dedos se agarravam aos lençóis, não conseguindo segurar -ou diminuir -os gemidos que acompanhavam seus movimentos apaixonantes.
Ao sentir que não aguentaria por muito mais tempo, introduziu seus dedos em mim, dobrando os estímulos que não demoraram para fazer com que meus olhos se revirassem. Levei minhas mãos aos cabelos desgrenhados de Amélia, puxando-os e guiando sua boca enquanto meus quadris se moviam em sintonia com seus movimentos. Não segurei os sons que insistiam em sair de meus lábios quando senti meus músculos se retraírem, involuntariamente apertando o rosto de Amélia entre minhas coxas, tremendo, implorando.
Traçou seu caminho de volta devagar, saboreando mais uma vez os centímetros de pele exposta -agora sensível e reativa -demorando sua boca em meus seios antes de finalmente alcançar a minha, deixando que sentisse meu gosto em sua língua ainda quente por toda a ação anterior. Soltando seu peso sobre meu corpo, agarrou meus cabelos e aprofundou nosso beijo enquanto a outra mão descia novamente ao meu quadril, trocando nossas posições para que ficássemos as duas sobre o colchão, lado a lado, deixando com que as mãos viajassem livremente pelos corpos enquanto tentava recuperar meu folego. Com as pernas entrelaçadas, subi meu joelho até sua vulva, soltando um gemido quando senti seu quadril remexer contra minha perna, buscando toda fricção que pudesse encontrar. Foi o que precisei para encontrar forças -após ser deliciosamente destruída -para inverter as posições e me colocar por cima de Amélia.
Me agarrando em sua carne, deixei beijos molhados na curva de seu pescoço e, apertando minhas mãos em sua cintura até que meus dedos ficassem brancos, desci a boca por seus seios enquanto uma das mãos tateava sua pele até meu mais novo lugar favorito na Terra. Passei os dedos por seus lábios, provocativa, apenas para sentir o quão molhada estava antes que os deslizasse para dentro dela.
Poucas coisas eram mais gostosas do que ver e ouvir Amélia se revirar em meio aos lençóis com as pernas abertas para mim e as mãos puxando meus cabelos, finalmente levando minha boca até onde gostaria. Me afundei nela, conseguindo senti-la devolver em minha boca cada sensação que eu a proporcionava.
Me vi subindo as escadas para o céu ao sentir, mais uma vez na vida, o orgasmo de Amélia em minha pele.
Deitamos lado a lado, tentando fazer com que o ritmo de nossas respirações voltasse ao normal com nossos corpos ainda unidos em um abraço suado. Amélia passava as mãos pelos meus cabelos enquanto eu acariciava suas costas, imaginando como seria perfeito se nenhuma de nós tivesse que sair dali. Nunca.
Ficaríamos naquela cama para sempre, apenas.
Eventualmente Amélia checou o relógio e percebeu que estava na hora de despertarmos de nosso sonho acordado. Enquanto ela tomava um banho, eu vesti as roupas que usava quando passei por sua porta pela primeira vez e rodei os olhos pelo cômodo, prestando atenção nos livros que tinha e nas anotações sobre a mesa. Decidi apressar seu passo e, antes que desligasse o chuveiro, me dirigi à cozinha e coloquei a água do café para ferver. Localizei tudo o que precisava facilmente, ela era muito bem organizada.
Quando saiu do quarto já vestida e apressada, carregando sua bolsa e uma pasta, eu a aguardava com uma xícara em mãos. Amélia não precisou usar palavras, pude ver o alívio em seus olhos ao descer o líquido pela garganta. Não conseguia parar de sorrir a cada movimento que fazia, ainda que fossem mínimos e rotineiros.
Saímos juntas pela porta, ela limpa e impecável, desperta e com o material da faculdade embaixo do braço e eu, com as roupas da noite passada, descabelada e sonolenta.
Caminhamos até a estação do metrô e, ao chegarmos na plataforma, nos despedimos com um beijo demorado. Subi as escadas para atravessar a passarela até o outro sentido com meus pensamentos ainda abraçados em Amélia.
Sabia, desde aquele momento, que minha memória jamais a deixaria.
___
Vote. Comente. Compartilhe.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tons de Violeta
RomanceEu tinha quinze anos quando vi Amélia pela primeira vez. Vinte e dois quando a conheci realmente. Nem um mês a mais quando me apaixonei. Ela era única, brilhante, inabalável, muito diferente de mim... "Tons de Violeta" é um curto romance sáfico que...