— Estamos preocupados com os inocentes, — disse o lobo russo do pódio. Ostensivamente, falava com a multidão, mas suas palavras eram para o Charles. Ele falava em inglês, o qual estava bem porque o falatório de Charles em russo não era de confiar nos temas sérios, e ele estava distraído por Anna, sentada muito quieta ao lado de ele. — Somos fortes, — o russo disse—, e podemos nos proteger. Mas temos companheiras que são humanas, famílias que são humanas. Sofrerão, e isto não pode ser tolerado.
Havia algo incongruente a respeito da jurisdição em que eles estavam: Um salão de convenção elegante com carvalho se destacava, recortado em tecidos de matizes cinza, subestimado e caro. Um lugar onde Angus caçava os CEOs de empresas de envergadura e os capturava com visões do poder que sua tecnologia poderiam conceder. Os homens e mulheres que ocupavam os assentos esta manhã eram uma classe diferente de predadores. Vestidos com seus melhores trajes, os ocupantes usuais desses assentos bonitos teriam a aparência de CEOs como filhotes em comparação.
— Se você não pode proteger sua gente, merece perdê-los. — Chastel comentou da quarta parte de atrás do auditório. Ele não falou em voz alta, mas em uma sala desenhada para o som e povoado por homens lobos de orelhas afiadas, ele não tinha que fazê-lo.
Charles esperou. O lobo russo, que tinha o turno de falar, olhou-o para que implementasse disciplina. Mas não era o trabalho de Charles. Não esta vez. O Irmão Lobo confiava que seria deles muito em breve. Então disciplinariam o Chastel, e o sangue fluiria. Mas aqui, neste salão, era o trabalho de alguém mais.
A manhã do primeiro dia de reunião foi uma boa oportunidade para comprová-lo.
— Jean Chastel, — disse Dana. — Você não falará outra vez nesse salão até que seja seu turno para fazê-lo.
Charles foi provavelmente o único no auditório que não se surpreendeu que, quando o lobo francês com desprezo, abriu sua boca para dizer algo para a fae, não o pôde fazer. No próprio território de Chastel, com sua alcateia atrás dele, ela não teria sido capaz de fazer esse encantamento tão facilmente. Mas este era o território da Dana (uma das razões pelas que o Marrok tinha decidido sustentar estas conversações em Seattle). Chastel tinha só sua coleção de infelizes Alfas que não compartilhavam seu poder com ele, não importa quanto medo tivessem, porque Chastel nunca lhes teria deixado estar tão perto dele. Chastel não era o Marrok.
Ele poderia ter sido, não foi um pensamento assustador. Tinha existido em um tempo um equivalente europeu de governante como o do pai de Charles. Depois da Praga Negra… Ele não era o suficientemente velho para ter estado ali, mas o pai e o irmão de Charles sim. Tinha sido horrendo. Desumanizante. Especialmente para esses que não eram verdadeiramente humanos mais já. Tanta morte, tantas perdas.
Alguém tinha visto fé escrita na parede, e soube que a humanidade se recuperaria, e foi procurar os monstros que se alimentavam dos moribundos. Então o primeiro Marrok tinha sido criado. Ele não foi chamado de Marrok, esse título era do pai de Charles no Mundo Novo, mas havia sido um. Alfa de todos os Alfas e com poder suficiente, capaz de tomar o de qualquer outro. Ou deveria ter sido.
Chastel o tinha matado, e a qualquer um depois dele que tenha tentado restabelecer a autoridade. Chastel poderia ter tomado para si mesmo, mas ele não quis. Não quis a responsabilidade. Ele só queria a liberdade de matar e seguir matando ao bel a prazer.
Arthur Madden, Senhor das Ilhas, era o equivalente mais próximo do Marrok que Chastel permitiu na Europa, em sua maior parte porque Chastel não considerava as Ilhas Britânicas uma ameaça. Ainda com tanto poder, Chastel seguia assassinando agora, mas clandestinamente, a diferença dos primeiros tempos depois da mudança. Mas como, Charles pensou, era porque havia uma pessoa neste planeta que a Besta temia. E seu pai havia dito ao Chastel que ele não queria saber de mais monstros assoladores na França. Esse foi a um par de séculos atrás.
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O Domínio do lobo
WerewolfESSA É UMA OBRA DE PATRICIA BRIGGS A humanidade estaria pronta para conviver com lobisomens? Depois de se transformar em lobisomem, Anna Latham não fazia ideia do quanto sua vida se tornaria complicada... e perigosa, já que acabaria se tornando a co...