Capítulo 12 - Livre

6 1 0
                                    

De fato, havia um pequeno hotel a três quadras do prédio de Tommy. Ele conhecia bem o local, já que era onde Phil costumava levá-lo quando queria ser ainda mais discreto. Quando desligou o motor do Porsche preto, estacionado de frente para o quarto três, ele saiu e olhou ao redor, constatando que o estacionamento estava relativamente vazio, assim como a rua a alguns metros dali.

Passava das 2 da manhã, então o clima estava um pouco frio. Ele colocou as mãos dentro dos bolsos do sobretudo preto e caminhou até a porta do apartamento, cujo corredor era externo, de frente para o estacionamento. Por um momento, refletiu sobre quanto tempo havia se passado desde que pisara naquele lugar pela última vez, parecia tão distante.

Tommy parou de frente para a porta e encarou o número de metal, ergueu o punho para bater e parou na metade do caminho, hesitando. O coração começava a acelerar e ele sentia que poderia desabar, mas ao mesmo tempo havia um fogo queimando dentro de si, uma vontade incontrolável de vingança que ele sabia que faria bem.

De repente, o trinco girou e a porta se abriu, revelando o mesmo homem grisalho e de aparência cansada que reaparecera em sua vida naquele dia, mais cedo. Houve um breve silêncio, mas o homem parecia feliz em vê-lo.

— Eu vi os faróis do carro — disse ele.

Ver o rosto de seu pai novamente eliminou completamente o medo e a insegurança que sentiu segundos atrás. O fogo tomou conta. Ele não tinha mais medo.

Só ódio.

O garoto caminhou até o carro e parou.

— Você vem?

***

— Aonde estamos indo? — Perguntou o homem, depois de quase quinze minutos de um profundo e desconfortável silêncio dentro do carro. As janelas estavam abertas, permitindo que o ar fresco da madrugada entrasse.

— Não vou arriscar minha carreira sendo visto com você — Tommy respondeu, friamente, sem tirar os olhos da estrada.

O pai se calou por alguns instantes, assumindo que seria melhor. Encarou as montanhas depois da rodovia, procurando algum assunto para deixar o clima mais confortável.

— É um belo lugar aquele em que você mora — disse, por fim. — Esse carro também é legal e você está radiante, eu estou orgulhoso.

Nenhuma resposta.

— Você sempre sonhou em aparecer na TV, desde pequeno.

Novamente, nenhuma resposta. Tommy olhou para ele, incrédulo. A falta de escrúpulos fazia seu sangue ferver. O garoto riu ao perceber que ele estava encarando sua perna.

— Às vezes eu ainda consigo sentir a dor — disse ele, voltando o olhar para a estrada. Sabia no que seu pai estava pensando.

— Tommy, eu...

— Não me chame de Tommy.

O homem se calou mais uma vez.

— Você não tem ideia de como eu vivi esses últimos anos — continuou o garoto.

— Você foi embora sem olhar para trás.

— E essa foi a melhor decisão da minha vida.

— Foram sete anos de culpa, Thomas, não há um dia em que eu não acorde e me arrependa do que fiz, e eu sei que é difícil perdoar, mas... não sei, eu sinto que minha hora está chegando e estou tentando corrigir todos os erros que cometi no passado, quero ter sido um bom exemplo para meus filhos.

— Você tem filhos?

— Um garoto e uma garota — ele respondeu, e com um sorriso no rosto, alcançou o bolso para pegar a carteira. — Deixa eu te mostrar.

ViceOnde histórias criam vida. Descubra agora