Ok, eu sei que da primeira vez que eu tentei fazer terapia não funcionou muito bem — não adianta receber ajuda se você não quer a ajuda -, mas agora tudo está diferente. Antes mesmo de começar com a psicóloga, eu já estava me esforçando para ver as coisas por outro ângulo: é, eu perdi muita coisa, mas não perdi tudo. Eu tenho Baz, Penny. E ganhei Shepard como amigo. E, porra, eu encontrei minha família (o que, obviamente abriu milhares de novas questões, mas ainda assim)!
Eu acho que tudo o que Baz disse a mim naquele dia — o dia em que terminamos —, sobre eu não ter tentado fazer nosso relacionamento funcionar, sobre eu ter desistido, acabou me fazendo perceber a bagunça em que eu me encontrava (não que eu seja um homem completamente novo, sem nenhum momento de fraqueza. Porra, não mesmo. Mas eu me sinto melhor do que me sentia há uns meses).
O ponto de tudo isso é que: eu finalmente entendi a importância da terapia, eu finalmente vejo o impacto dela em mim. E eu penso em Baz.
Penso em tudo que ele também passou (as coisas que eu sei). Penso na noite em que nos beijamos da primeira vez — ele ia mesmo se matar? Se eu não estivesse lá, ele teria deixado o fogo consumi-lo? Penso em como ele sempre odiou o fato de ser vampiro. E em como ele perdeu a mãe. E no pai que finge que ele não tem um namorado até hoje. E penso que ele simplesmente não pode receber ajuda profissional.
Nem mesmo um psicólogo mágico poderia saber que ele é um vampiro. Baz nunca poderia se abrir completamente. Ele não poderia sentar numa cadeira e dizer que vira o rosto quando seu namorado se aproxima se as presas estão à mostra, muito menos que se sente desconfortável quando o namorado o vê bebendo sangue.
Cristo, ele não pode falar sobre isso com ninguém que já não saiba!
Foi por todos os motivos mencionados acima, e porque eu o amo, e amo quando ele me diz o que está sentindo, e amo fazê-lo se sentir melhor, e... bem, uma infinidade de outras coisas. Por isso me ofereci para ouvir. Qualquer coisa que ele quisesse dizer. Sobre tudo. Se ele estivesse disposto a falar, eu estaria aqui por ele.
Eu sei que não é a mesma coisa. Eu sei que não é o ideal. Que eu não tenho preparo e estudo para me aprofundar em nada — sendo assim, sou sempre muito cauteloso se vou dizer algo durante essas conversas (quem me viu, quem me vê). Eu sei que, ainda assim, ele não vai ter tudo que precisa. Mas o que ele tinha antes disso?
Baz fala, no tempo dele, quando ele se sente confortável. Eu escuto, e o abraço, e acaricio seu cabelo, e digo o que posso. E ele sempre me encara como se não acreditasse que estou ali ouvindo, e também como se estivesse grato por eu estar lá.
— Você quer um copo d'água? — estamos abraçados na cama há alguns minutos. Baz estava desabafando e eu estava enxugando as lágrimas do seu rosto. Eu odeio vê-lo chorar, acho que nunca odiei tanto uma coisa.
— Não. Tudo bem. Estou bem. Fica aqui — ele diz, se aconchegando mais em mim. — Simon?
— Lindo?
— Tem certeza que você é o mesmo namorado de bosta que se ofereceu pra ficar comigo no último ano de Watford? — eu rio.
— Não sou. Aquela versão de mim é algo que nunca mais vou ser, por diversos motivos.
— Eu me apaixonei por todas as suas versões.
— E odiou também — ele ri. Eu amo fazê-lo rir. Amo ser o responsável por tirar dele qualquer expressão de chateação.
— Eu amei mais do que odiei. Eu amo você. Só amo — beijo a linha dos cabelos em sua testa, o bico de viúva.
— Te amo. Muito — o beijo mais uma vez. — Você tá se sentindo melhor? — ele acena positivamente com a cabeça.
— Obrigado.
— Obrigado por falar comigo.
E por me fazer falar.
E por continuar falando.
E por continuar me fazendo falar.
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a lista do Baz, por Simon Snow
Fiksi PenggemarSimon vai passar a noite sozinho porque Baz está em Oxford, o que resulta em uma lista mental cheia de momentos sobre pequenos detalhes que Basil ama - e que só fazem Snow sentir a cama mais e mais vazia. • Personagens pertencentes a Rainbow Rowell ...