você já se sentiu sozinho ao extremo?

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Eu caio na cama e abro as sacolas de compra. Temos doces e salgadinhos de diferentes marcas e sabores. O moreno à minha frente decide deitar-se ao meu lado e ambos estamos assistindo o teto como se algo extraordinário estivesse ali. Sinto sua mão roçar a minha e enlaçá-la.

— Somos melhores amigos, né? — ele pergunta baixinho, inseguro com isso.

Eu concordo, porque é verdade.

— É o que estava escrito no seu cartão — ele continua. — "Eu te amo como um verdadeiro irmão"

Ah, então era isso. Se eu soubesse, com certeza não escolheria esse. Eu escolheria algo como "eu te amo mais do que um irmão". Agora ele entendeu errado o recado, mas que culpa tenho eu se só entendi o "eu te amo" da frase? Sinto como se não pudesse piorar a situação.

Mas o que estava escrito no seu? Será que o "eu te amo" presente lá também era de irmão? Eu espero que não. Sabe, eu vou manter isso em segredo para mim mesmo antes que eu me machuque todo. Me ralar por conta dessas coisas não vai me fazer bem. E nem sei se amo-o de verdade.

— Você vai me ajudar a me vestir? — sua pergunta me atenta ao horário. É mesmo, já estamos no período da tarde e Jisung precisa se arrumar.

Provavelmente tudo esteja ao contrário entre nós. Por mais que soe impróprio, eu quero é ajudá-lo a se despir. Nossa, isso foi muito podre. Nem vejo-o assim. Quer dizer, honestamente estou vendo sim, já que ele de repente começa a tirar a roupa bem na minha frente. Desvio o olhar antes de me viciar. Ele precisa parar com isso. Que mania!

— Tenho esse preto e um gold — sua voz me chama para ver o que está mostrando.

Em suas mãos há dois smokings dentro de uma capa protetora. Ele estava com eles lacrados no aeroporto, agora finalmente entendo o porquê de tudo isso. Ele gosta é de mistério.

Um é preto, porém com um brilho prata bastante chamativo e sofisticado. Deve ter custado o olho da cara, porém vale totalmente a pena. Ele é lindo, parece que foi feito para eventos como esse.

O segundo é dourado e isso já basta. É dourado, muito dourado. Ele reluz, é de um brilho intenso. Não é só algo atrativo, é a coisa mais formosa que já vi. É como algo banhado a ouro que tivesse um holofote voltado à si. É perfeito.

— O dourado — respondo rouco. Ele ficará perfeito em Han.

Jisung coloca-os pendurados no mesmo local de antes e se volta para mim. Consigo ver sua silhueta num blur de desfoque, uma vez que já estou vidrado na tela do aparelho e não vou tirar os olhos daqui até Jisung decidir entrar no banheiro e me deixar menos envergonhado.

— Por que você é tão viciado nesse iPad? — ele pergunta ao tirar a calça jeans.

— Nada — não olho para ele, não paro de comprar itens legais para a casa dos bonequinhos.

— Você nem está olhando para mim. Estou te consultando em algo importante, boboca! — em que ano foi que Han decidiu aprender coreano? Em 1990? Ninguém mais usa isso de "boboca".

— É só você falar que eu respondo — respondo.

De repente sinto um corpo pesado sobre o meu e uma tentativa de querer arrancar o aparelho da minha mão. Tento lutar contra, mas ele avança mais o corpo sobre mim e arranca-o da minha mão. Jisung bloqueia o iPad e eu bato-o nas costas.

— Por que você fez isso? — reclamo. Quando vou desbloquear, o boboca dá um tapa no bichinho, que acaba por cair no tapete. A queda é uma besteirinha, mas não deixo de ficar preocupado. — Parabéns, boboca!

Agora entendo por que é que Jisung disse que sou mais infantil que ele. Parecemos crianças brigando assim, falando essas coisas e chamando um ao outro de palavras que ninguém mais usa. É uma vergonha.

Café et Cigarettes • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora