você é mais do que mereço e eu sinto muito

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Acredito que a gravidade está aqui para tudo e todos, menos para meu cabelo. Encaro-me no espelho e não consigo parar de pensar em como seria horrível se Han tivesse visto minha cara amassada e meu cabelo pra cima como uma visão pouco esplêndida para uma manhã de sábado. Provavelmente ele iria se assustar e correr. Com razão, claro. Mas eu não dormi com ele. Na verdade, terminamos a noite bem mal.

Honestamente, eu fiquei tão pra baixo que agarrei a oportunidade que era a ausência dele e recolhi-me ao meu quarto. Fiquei quietinho, deixei a porta aberta e observei a fresta inferior da porta dele até a luz desligar. Depois de um tempo eu dormi e aqui estou eu.

Talvez sejam dez da manhã ainda, só olhei o número um e zero quando chequei meu celular ao acordar. E eu já estava meio mal com tudo aquilo, estou morrendo de medo de sair daqui e Han estar uma fera comigo. Veja só... Quanto fui cruel com ele? Eu fui cruel mesmo ontem à noite? Ou ele foi cruel comigo, me pressionando, forçando-me algo que eu não estava disposto a fazer? Eu acho realmente que nenhum de nós dois entende o outro.

E vou pensando nisso enquanto escovo os dentes. Ensaio algumas falas enquanto tomo banho e junto coragem ao vestir-me com algumas roupas que ele separou para mim. Caminho descalço pelo corredor e apareço na sala de estar. Ele não está por aqui. Escuto uma movimentação na cozinha e sigo nessa direção.

— Oi, dorminhoco — Jisung me cumprimenta, coçando os olhos. Ele está vestindo um roupão de veludo azul. Por que está sendo simpático comigo? Deveria estar, como sempre, soltando fogo.

— Oi... Bom dia — aproximo-me do balcão e encontro-o fritando ovos mexidos.

— Tive que checar três vezes para ver se você estava dormindo ou morto — revela ao transferir os ovos para um prato e gentilmente me entregar.

— Ah, eu tenho um sono pesado — explico. Ele começa a andar até a sala de jantar e sigo-o.

— Sei disso. Ah, tem arroz — ele aponta para a tigela do grão cozido e senta-se à mesa. Sento-me ao lado dele e começo a me servir com tudo posto na mesa. Eu nem sabia que ele preparava comida coreana, por que é que tem kimchi aqui?

É estranho estar comendo com hashi acompanhado dele, pois sempre comemos com garfo e sempre são comidas ocidentais. É uma pena, porque achei que estaríamos comendo comida coreana no dia em que eu prepararia algo para ele. Na verdade, ontem, antes de dormir, decidi que resgataria a receita de tteokbokki da minha mãe e prepararia para ele.

— Está bom? — quer saber.

— Muito bom — respiro fundo ao responder, muito orgulhoso dele. Ele consegue ser bom em qualquer culinária.

— Na verdade — começa, esticando as pernas por debaixo da mesa. — Eu não costumo cozinhar muito comida coreana, já que é a coisa mais fácil de se encontrar aqui. Gosto de fazer coisas que vão ser destaque.

— Hmm... — resmungo de boca cheia. Nossa, o kimchi está muito bom.

— Mas eu posso fazer sempre que você quiser. E, sendo honesto... — pausa. — Estou tentando me redimir por ontem.

Me engasgo e prontamente agarro o copo de suco para molhar a garganta. Han me entrega um guardanapo e passa a me observar.

— Eu fui bem infantil ontem. Eu não costumo ser assim, é só que... estou com medo de... — ele não continua, apenas olha para a própria tigela por alguns segundos. Fico parado de boca cheia encarando ele. — Bem, só quero que me desculpe. Você é mais do que mereço e eu sinto muito.

Que raios está acontecendo aqui? Por que parece que trocamos de personalidade? Há algo mais acontecendo, coisa que não sei. E ele não quer me contar. Fica hesitando, como se estivesse procurando palavras. Mas não está. Ele está rodeando o assunto.

Café et Cigarettes • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora