você já me tem

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O que eu sinto? As cortinas dançarinas remexem-se para os lados, aquietam-se, voltam a ruflar. Meu peito pesa. Talvez seja isso o que sinto. Que meu peito pesa. Dedilho vagarosamente as veias explícitas do seu pulso, talvez afagando-lhe ou simplesmente tentando passar um pouco do meu carinho e apego interno por ele. Penso e repenso sobre se toco-o ou não. Se toco-o ou não. O que eu sinto? Queria que a atração não estivesse tão forte, tão insuportável. Porque às vezes eu odeio necessitar de afagos, toques e beijos. Queria que fosse só minha alma amando-o e mais nada. Queria. Mas o que eu sinto? Meu peito pesa. Permeio todo e qualquer sentimento contra, pois uma vez achei que não devia me privar de determinados desejos e agora quero isto para mim. Certo, com limitações e ciência. Então, sim, largo seu pulso e escorrego quase sem querer em seu short. Escorrego em seu short de seda.

Os rosados lábios afastam-se um do outro, como quem fosse gritar ou gemer, porém o silêncio lhe abstém. Teu olhar sensual, oblíquo, compõem-se com o r&b de melodia vagarosa que incita fogo. Eu nada digo. Nada digo, só toco. E sabe ele que, se fossem palavras, não haveria como errá-las. Porque sou atrevido, quase sem medo, no fim desta manhã de um sol intenso pouco misericordioso. O quadril ainda em movimento, seguindo a onda da música, traz-me ao tato um pouco mais de formigamento, causado pelo desejo de explorar mais. Há limites para a terra em que estou atracando? Retórica. Concluo que não. Não, se depender dele.

E, de fato, dependendo dele, não haverá fim algum, não há como estabelecer limites sãos para isso. Porque, veja bem, mostra-me mais eufórico, mais empolgado, com uma força de vontade esplêndida — que todos sabemos que vem dos seus magníficos hormônios ou, em outras palavras, uma enorme tesão que sente toda vez que minha língua encosta a sua — que chega me supera (e olha que fui eu que ateei fogo no papel).

Tua boca alcança meu queixo, beija-me estalado, sem pressa, quieto. E minha mão, como está? Está bem, obrigado. Está segurando o que há detrás do tecido, vagarosamente mexendo-se para ter noção de tamanho. Eu sou curioso, está aí o meu maior problema. Porque, de repente, após segundos de toque, adivinha quem vem pegar minha mão e enfiá-la dentro do short — frisando aqui a ausência de peça íntima desta criatura —, como se não fosse grande coisa? Quando sou deixado aqui dentro, pergunto-me que eu devo fazer.

Porque sinto os fios da minha nuca serem puxados, sua língua chupar a minha e, por fim, seu íntimo inteiro na minha mão. Arriscando as pontas dos dedos, afundo-me mais dentro da sua roupa. Talvez desbravá-lo desta maneira não causará nada, então por que não ser um pouco mais ousado só dessa vez? Pena — oh, uma pena! — ele ser facilmente controlado pelas minhas mãos. Meus toques sempre fazem-no estremecer. Ainda que não interrompa o beijo, emite um som prazeroso ao sentir-me alcançar sua base. Fica quieto, queria pedir. Não se excite demais, queria gritar. Eu consigo sentir quão animado ele está ficando com isso.

Agora sou em quem puxa seu cabelo da nuca, longo o suficiente para que eu agarre a raiz dos fios e leve sua cabeça para trás. Ele geme outra vez, adora fazer isso. Adora fazer de tudo para que me excite e não volte atrás. E eu nem sei por que estou fazendo isso. Desconheço, juro. Porque aproximo meu quadril do seu e esfrego-me entre suas coxas, assegurando que ele esteja sentindo isso lá embaixo. Talvez eu esteja sendo muito maldoso com ele, mas eu estou tentando não me preocupar. Eu fico ansioso em todos os nossos momentos e, sei lá, queria limpar a mente e deixar as coisas fluírem.

Seu pescoço exposto me chama, mas apenas deixo alguns beijos. Sei que ele se importa com a imagem, uma vez que aparece em programas e faz ensaios fotográficos. Por isso tomo cuidado. Queria não tomar cuidado. Queria não ter de lidar como nada disso, que fôssemos perfeitos um para o outro e que nada estivesse nos impedindo. E nem sei se há algo realmente nos impedindo. Há nós mesmos.

Café et Cigarettes • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora