você está bem?

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Forço-me a enxergar-nos de longe, como seria se estivesse assistindo-nos como um terceiro. Seria estranho e totalmente quente, uma vez que eu ainda estou cobrindo minha roupa íntima com minhas mãos e Han está praticamente em cima de mim. E estamos no escritório dele. Não consigo evitar pensar em como isso parece um roteiro daqueles filmes pornô ridículos da internet. O funcionário e o patrão fazendo coisas erradas no escritório.

— Que foi? — Jisung pergunta-me quando cesso o beijo por conta de uma risadinha.

— Nada, não — fico sério e respiro fundo.

Ele sai da posição em que estava e senta-se ao meu lado no sofá. Puxa meu braço com cuidado, sobe a manga da minha jaqueta e checa o band-aid de ontem. Fico com cara de tacho olhando para o nada, esperando que ele fale alguma coisa ou volte a me beijar.

— Você está bem? — finalmente diz algo.

— Eu? — aponto para meu próprio peito. Claro que sou eu, quem mais poderia ser? — Creio que sim.

— Você... — ele segura a minha mão, descobrindo parte da minha cueca da Marvel. As pontinhas dos seus dedos lêem os nós dos meus. Eu gosto desse contato delicado. — Você tem pressa pra chegar em casa?

Finjo que estou pensando, pois não quero parecer desesperado.

— Ahn... Não, tenho não — respondo. Felizmente cancelei o compromisso com MinYoung no período do almoço, senão teria problemas.

— Você quer ficar aqui comigo? — a proposta vem como sussurro e eu confundo-a com o vento invadindo o escritório escuro.

Escuto um barulho metálico tombar no chão. Concluo que foi o spray do meu joelho e fico quietinho enquanto Jisung se aproxima mais de mim. O computador grita um alerta, sendo ignorado pelo dono que me puxa pela jaqueta jeans. De repente, estou preso dentro desses braços que insistem em arrancar-me a peça de roupa.

Agora estou apenas vestindo minha cueca de Thor (que homem, meus amigos, que homem!) e uma camisa escrito "Van Gogh" que comprei em Paris, horas antes do embarque, e dei uma lavadinha ontem. E eu estou bem nervoso, muito obrigado por perguntar. Por quê? Bem, eu absolutamente não estava preparado para isso. Pensei que nosso próximo momento envolveria algo como: "Jisung, eu realmente gosto de você, me aceite como seu namoradinho e prometo que te darei carinho, massagem e atenção todo santo dia!"

Só que antes mesmo de eu abrir a boca para explicar que tenho algo importante para dizer, ele me beija. É rápido, sôfrego, necessário. Como um pequeno shot antes de virar a garrafa de vodka goela abaixo, um amistoso. Daí sinto sua mão na minha cintura, sua respiração próxima demais, esse arfar caloroso me matando de agonia. Ele volta. Ele sempre volta a me beijar, tirando-me o ar, a sanidade, cortando todos os meus neurônios que gritam que é cilada, Bino. É cilada.

Mas explica isso pro meu coração, explica? Explica com cuidado, sem gritar, ele é sensível. Explica com carinho, com a palavra amor, falando mansinho. É que ele está com vida própria, ele está mandando eu retribuir o beijo, a me arrepiar com a escorregada travessa da mão dele para dentro da minha camisa e a unha arranhando levemente a minha pele. Ele está fazendo tudo errado, está me envolvendo nisso.

É loucura, insensatez. Mas não dá pra pensar muito quando se tem Han Jisung te beijando sensualmente num vagaroso e torturante declínio enquanto acaricia sua cintura. Me diz aí como não espremer a boca contra a dele? Me diz aí como não tocar na droga desse cabelo maravilhoso? Quando souber a resposta, me avise.

Afasta-se alguns centímetros de mim para olhar-me nos olhos. Eu gosto quando fazemos isso entre um beijo e outro. É especial. É como uma conversa. Só nós dois entendemos.

— Eu to morrendo de fome — sussurra e ambos rimos da sua confissão. Ele usou sua voz de asmr.

Minha respiração rebate teu contato na minha cintura. Sua unha puxando minha pele para a palma da mão e seus beijos rápidos me enchem de vontade. São meros contatos que me despejam ao léu, ao absurdo que é cair de cabeça numa situação sem volta. Perdemo-nos ao ósculo, esqueço que horas são, lamento o possível fim, me firmo no sentimento de eternidade.

Quando os lábios se esfregam, é como se estivéssemos em busca de uma ínfima fagulha. E sempre há fogo. E as línguas se encontram, se provam, se ajeitam, se amam. Há mordidas, há lambidas, há estalos. Ele aperta minha cintura, meu coração erra a batida, manda sangue para o lugar errado e causa hemorragia de amor no meu cérebro. Pois não há nenhuma razão quando o assunto é coisa do coração.

Recolho-me com uma certa pressa, atônito, assustado, faminto de carinho. Semanas atrás eu queria o beijo. Eu agora tenho. Mas falta alguma coisa. Parece até que estou sendo ingrato comigo mesmo. Mas eu não estava apaixonado, eu estava atraído, interessado. As coisas mudaram. Eu mudei.

— Então... — ele pigarreia, após eu ter quebrado o contato. — Eu não te vi comer hoje. Quer me acompanhar num tteokbokki?

Engulo em seco.

— É que eu... — faço uma pausa, penso melhor. — 'Tá, pode ser.

Han se levanta para encerrar o computador dele, eu aproveito para subir minha calça e afivelar o cinto. Visto a jaqueta, ajeito a franja sobre o galo e espero ele organizar e pegar as coisas dele.

— Jisung, eu queria te fazer uma pergunta — digo, enfim, soltando o ar que estava preso com minha histeria interna pelo medo da resposta dele.

Han está ajeitando o sobretudo no corpo quando insiste para que eu pergunte sem medo.

— É que... Bem... — me atrapalho todo, caminhando junto com ele para a saída. — Eu queria saber de uma coisa. Tipo, eu sei que somos amigos...

Ele me olha cheio de expectativa, enquanto descemos os degraus. Eu não continuo até chegarmos no restaurante e, ainda que a iluminação aqui também esteja baixa, posso vê-lo encarar-me com preocupação.

— Eu queria saber se tem alguma chance de namorarmos — solto de uma vez, sem medo. Na verdade, estou com medo sim, mas não acho que transpareci todo o medo que sinto.

— Namoro? — repete. Ele deve estar tipo: "Namoro? Eca!"

— Sim — balanço a cabeça.

— Namoro é apenas um status para pessoas que se gostam... — ele fala e... Ai, meu Amon-Rá, eu estou ficando cada vez mais farto dessa merda.

Respiro fundo. Uma vez só não dá, preciso fazer outra vez. Estou exausto, cheio, estufado desse papo dele que só serve para me afastar. Se não quer ficar comigo, por que me beija? Por que é que me seduz? Brincar comigo faz parte, né? Cansei.

— Quer saber, Jisung? — encaro-o com raiva. — Fique aí com o seu amor próprio, você não precisa do meu.

Eu saio batendo a porta e ele nem me pede para voltar.

Café et Cigarettes • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora