você é malicioso

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Minha boca com a sua é o único quebra-cabeça o qual tenho paciência e força de vontade para montar. É o único que vale a pena. E o ar falta, mas não falta o desejo e a maldita tensão sexual entre nós dois. Nem sei porque comecei isso, nem sei porque não paro com isso. É porque é tão gostoso tê-lo assim que a única coisa que me vem à mente é fazê-lo sentir-se bem também.

Minimamente desço sua calça e agarro suas coxas, puxando-o para cima e carregando-o até sentá-lo na bancada. Eu arranco essa calça do corpo dele, idem ao tênis, como se o hoje fosse durar toda a eternidade, só que eu realmente quero sentir sua pele sob meus dedos.

— Minho...

Meu beijo é quente, quieto, espalhafatoso. Não importa se desorganizarmos, se seu arfar irromper, se minha mão deslizar por onde nem tenho a permissão de olhar. A calça jogada pelos meus pés, sua camisa aberta em qualquer canto, seu corpo se aproximando e aproximando... Pense numa colisão cheia de energia e excitação entre um próton e um elétron... É definido assim nossos corpos.

Minha mão esquerda dá uma escorregada perigosa na sua coxa, meus lábios buscam a doçura do seu pescoço para saciar-se... Eu estou imerso nessa Veneza de prazer, beijando-o e sentindo-o arrepiar-se. Seus dedos teimosos arrastando pelas minhas costas, pedindo, por favor, à minha camisa para que conceda-lhes um pouquinho da minha pele para arranhar e recebendo uma rouquidão como resposta.

Puxando-o pela região do cóccix, pressiono seu corpo contra o meu para que assim ele morra de desejo. Ele afasta mais as pernas, minhas mãos estão nas suas coxas, sua cabeça está para trás e eu o chupo tão forte pelo pescoço que seu gemido sai pela metade ao perceber que seria alto demais.

Minha camisa pede socorro das garras apressadas dele, a ansiedade latente sobre o que vem depois, e o que vem depois nunca me pareceu tão certo quanto agora. Minha prioridade é prioriza-lo. A parte interna da sua coxa é apertada por mim e um gemido pidão é libertado.

— Posso ver sua tatuagem? — pergunta ele com uma voz de sussurro, mais ar do que timbre. Ele está sem fôlego.

— Tatuagem? — estou ocupado com os beijos no seu pescoço que esqueço da minha tatuagem na virilha.

Meu coração parece até um beat mal mixado de trap no exato momento que sinto seus dedos pequenos encontrarem minha peça inferior, buscando tirá-la.

Subo minha camisa até metade da barriga e ajudo-o a tirar meu cinto. Se eu não tivesse posto essa porcaria, teria adiantado muito. Mas... Oh, sua mão bisbilhoteira está descendo tão devagar que a única coisa que eu penso é em ficar logo nu e tomar conta do seu corpo.

Jisung! Han! Han, você está aí? — a porta é agredida por mãos masculinas e a pronúncia francesa me faz deixar o cinto aberto pela metade.

— Merda, como fui esquecer dele? — Jisung resmunga, puto da vida, empurrando-me para longe e descendo desesperado da bancada.

Eu estou atônito, tentando entender porque é que ele está se vestindo feito louco, pedindo para esse alguém esperar, passando maquiagem no pescoço para esconder a marca causada pela minha boca e sei lá o que ele esteja tentando fazer com o pé num tênis meu.

— Esse tênis é meu — aviso, mas só para dizer algo e fazê-lo lembrar-se da minha existência.

— Ah, merda... — ainda está resmungando, procurando o próprio tênis. — Não era pra termos feito, mas... Ah, Minho, por que você é malicioso?

Por acaso a culpa é minha? Ele tira a roupa todos os dias na minha frente, sabendo muito bem que eu sou louco pra dar uns beijos nessa boca maravilhosa. Tudo bem que o descontrolado sou eu e, aliás, admito que deslizei mesmo dessa vez. Só que eu não sabia que ele não ia fazer exatamente nada contra. Não vou culpá-lo também, seria ridículo fazer isso. Mas teve o dedo de ambos nisso e ele deve admitir.

— Eu não sou malicioso!

— Sim, você é malicioso! — ele termina a maquiagem malfeita para esconder a marca e abotoa a camisa de qualquer jeito. — Poxa, por que fui tão burro?

— Relaxa, Jisung... Nós não fizemos nada, não foi nada — tento acalmá-lo, mas só que isso é comigo.

Remotamente me recordo de uma aula de Artes quando estudávamos o Surrealismo e a loucura dos artistas da época. Muitos tinham traumas; alguns, esquizofrenia, outros recorriam às drogas. Minha professora da época falou-me sobre um em específico, não compreendo mais teu nome, sobre tal acontecimento no período da vida em que passamos a "conhecer o próprio corpo", se assim posso dizer de maneira ambígua.

A questão contada é que, no meio de todo aquele "conhecimento", o tal artista, antes da arte, havia sido interrompido grosseiramente pelo seu pai e aquilo gerou um certo trauma sexual nele. Eu me sinto frustrado agora, muito frustrado. Essa história faz um pouco de sentido na minha cabeça agora, depois de anos...

— Você não sabe o que isso significa para mim — está ajeitando o cabelo ao caminhar até a porta. — Ah, aqui tem um caderninho que comprei naquela livraria e um livro de poesias em francês. São seus — ele tira tudo isso da bolsa e praticamente joga em cima de mim, como se quisesse se livrar. — Entra no banheiro, rápido. Te vejo mais tarde.

Me vê mais tarde? Que porra é essa? Ele está mesmo me tratando assim? Ele retribuiu cada beijo que dei, ele me apertou, ele gemeu quando eu o beijei e de repente me trata como se... Porra, não quero nem me comparar com zorra nenhuma.

Abraço a agendinha que ele me deu e o livro de poesia e trôpego vou até o banheiro. Han abre a porta do quarto segundos antes de eu fechar a porta do banheiro e, de relance, vejo-o sorrir para um moço que beija-lhe a bochecha com tanta doçura que, se não fosse o dourado do cabelo, eu pensaria que ali era eu e que esta é a minha alma assistindo tudo de perto.

Jisung fecha a porta e eu me sinto traído.

Café et Cigarettes • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora