Dia Incomum

138 15 5
                                    

Quando criança, tive a curiosidade sobre filmes de ação. Especialmente os que tinham agentes infiltrados em organizações extremamente secretas e de perigo. Ficava vidrada com meus nove ou dez anos em frente a única televisão da casa de meus pais que nessa época era um de tubo, cujo a caixa de madeira que envolvia os aparatos como fios e toda a parafernália eletrônica faziam as cores piscarem em tantas luzes cintilantes diferentes que me rendiam várias dores nos olhos e consequentemente de cabeça também. Era o mais perto da tecnologia naquele tempo, que podíamos pagar. Me via no reflexo boquiaberta com as reviravoltas românticas e as decisões difíceis que os personagens principais eram levados a tomar. As vezes por medo, as vezes por influências externas e pensando bem, essas, erma muito bem arquitetadas por um vilão com determinação suficiente para levar aquilo a níveis inimagináveis para uma garota de dez anos inteiros. Lembro-me de pensar em como aquelas ocasiões eram bobas e em como eu resolveria aqueles casos criminais muito mais rápido do que qualquer um dos mais famosos detetives da indústria fonográfica. Ri de mim mesma mesa apequena lembrança enquanto chutava o vento com meus saltos pretos. Não possuía carro. Meus pés geralmente eram os veículos mais seguros que confiava e os que faziam refletir com mais imparcialidade sobre o filme de minha própria vida, que por ironia do destino, havia se tornado um desses de espiões e agentes com o QI elevado que nos surpreendam em questão de segundos. Mas qual caminho seguir? Essa era a pergunta chave, uma vez que, já tinha optado por aceitar a proposta suja de meu chefe. Quer dizer, não somente chefe da loja em que eu trabalhava, mas sim dono da metade dos imóveis mais luxuosos de entretenimento e de serviços públicos da capital coreana. Já não tenho mais dez anos. E não posso depender de hipóteses para solucionar minhas seguranças financeiras. Eu e Byul por mais que tentemos, não conseguíamos fechar o mês com alguma folga. Abracei meu corpo pelo frio quando estava prestes a descer as escadas da mais próxima estação de trem, parei em uma pequena banca de revistas que estava fechando as portas quando vi a cara de minha amiga de casa estampando a pequena tela de televisão dentro do balcão. Abri meus lábios cobertos pelo batom bege que logo ficaram rachados enquanto evaporação a fumaça que representava minha respiração descompassada pela caminhada que fiz. Foi expendido vê-la ganhar o concurso ainda que estranho perceber que sua timidez apresentada por trás das lentes que comandava tão vem, a impedia de ser reconhecida, o que tecnicamente agora não era um problema tão grande. Nós duas temos algum tipo de amizade maluca digna de uma comédia romântica, mas, diferente desses enredos nosso acordo era muito mais simples: Amizade acima de tudo, beijos na buceta em ocasiões de extrema depressão e carência. Nunca tivemos problemas, nunca nos distanciamos desde que chegamos juntas a capital em buscando de uma vida melhor, nunca deixamos de nos apoiar, nunca escondemos mas suma da outra. Até agora. Se todo o momento fosse um longa metragem, esse seria o momento em que me julgariam uma antagonista, talvez até vilã; seria taxada de de egoísta, falsa, ambiciosa e esse último eu não negaria nunca.

Acho que no fim das contas, os fins justificam os meios.

Para quem a pergunta se dirigia? A Deus? Gaon? Umedeci os lábios feios reposicionando meu sobretudo para seguir viagem até meu destino final que diga-se de passagem estava mil anos luz mais longe de aonde me localizava, quando ouvi a loira mais rica e mais conhecida no mundo empresarial estava se despedindo de seus ouvintes e telespectadores. Antes de comentar o que saiu realmente de seus lábios e assimilar, prestei atenção na comoção que alguns idols amigos da mesma fizeram levaram seus fãs a fazer; uma imensidão de gente ao redor das paredes de vidro do hall de recepção  com cartazes, fotos, esperando que algum dos seguranças confirmassem sua entrada e na esperança de que seu fotógrafo favorito, o qual votaram, vencesse. A comunicação jovem que a revista tinha e a força da mesma para mim que não consumia fora um dia questionável. Um dia. Não hoje. Não mais. Nunca mais. Muito pelo contrário. Estreitei meus olhos cansados para frente frase a frase que era desferida, quase esqueci da figura chorosa e emocionada que Byul representava, sendo abraçada pelos outros ex concorrentes e foquei-me me debruçando sobre as pilhas de revistas que estavam no balcão me impedindo de praticamente beijar a tela. Concurso de modelos. Em um lopping infinito a voz dela ecoou em meu cérebro como se fosse o sinal de um semáforo me dizendo que era a decisão mais correta a se formar e mesmo que não fosse, acho que pensar assim amaciava meu ego e bloqueava a guerra interna entre ferir alguém e conseguir montar minha marca, muito embora saiba que um dia essa seria a consequência. Conto com a compreensão da Moon e agora, deve ser o melhor momento de sua vida inteira, conhecendo-a bem. Se a chance não for agora, não será nunca. Em um desequilíbrio físico – pois o mental já tinha ocorrido – me fez derrubar algumas empilhadas e a capa de uma delas que não deixei cair no chão, me levou até a tarde em que fui a sede da Solarsido e ela estava lá. Ela. No prédio, na televisão piscando para mim e em minhas mãos. Jung Wheein. A empresária disse. Jung Wheein. O lettering da gramatura alta do montante de papéis em minhas mãos dizia.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 01, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

FeticheOnde histórias criam vida. Descubra agora