Seleção

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O dia na capital Coreana tinha amanhecido chuvoso, escuro e extremamente perigoso, afinal o inverno rigoroso que vinham enfrentando em cerca de três anos era sim resultado de vários crimes ambientais que se  disfarçam e se confundem com progresso industrial; a sede abrira sempre as sete em ponto e com a virada do relógio central no hall de chegada, Solar estava devidamente uniformizada com uma de suas melhores roupas. Tinha escolhido a dedo para que não passasse uma má primeira impressão para seus futuros contratados, até porque hoje todos ali iriam fotografa-la e outras modelos de peso, suas amigas pessoais como primeira prova de seleção; suspirou algumas vezes rejeitando o crachá que tinha uma horrível foto de quando ainda batia cartão naquela máquina que mais parecia ter sido tirada de uma concessionária de carros do que de uma empresa famosa, mas, gostava de manter um certo conceito vintage e o importante era que ainda funcionava. Sorriu vendo todos chegarem pouco a pouco e muito antes da hora escolhida e comunicada a todos através dos contatos em seus currículos, por um lado estava ansiosa, quase nunca faziam coisas do tipo já que a área de recursos humanas era paga para isso, mas por uma questão de honra e vingança contra a empresa de oposição a sua, queria escolher com seu próprio dedo quem as levaria para um novo patamar.

Planejou tudo como se fosse formada em psicologia na área de serviços a empresas, tinha pesquisado em todas as edições já publicadas digitalmente o que precisavam para atingir um nível supremo e acabou se auto questionando sobre a falta de diversidade em assuntos a serem tratados nas colunas fixas e também, nas entrevistas. Se queriam penetrar o ocidente, precisavam sim ter uma assinatura que já estava moldada sendo ela, um conteúdo jovem com assuntos de interesses variados aonde a leitura e visual não fossem tão cansativos, mas isto precisava ser lapidado para que pudessem englobar o máximo de pessoas engajadas com seu trabalho, e assim, penetrar na mente de pessoas de etnias diferentes com culturas mais adversas ainda com o intuito de consumo inconsciente seja este na plataforma impressa ou digital. Pensando em soluções para as carências que detectou, escolheu um time de dez fotógrafos de um número muito mais alto (aonde nem todos foram perdidos totalmente), cada um com uma característica peculiar que lhe chamou atenção e acabava suprindo sua necessidade como empresária.

Era essencial que o futuro funcionário fosse jovem e tivesse uma mente disposta e aberta ao mundo que iria ter contato depois de assinar um contrato de no mínimo sete anos, por tal, se dispôs a procurar a rede social de cada um que lhe atiçou os olhos e ficou o quanto pode com uma conta fictícia. Costumava fazer isso com a conta de Wheein o que rendia boas e intermináveis brigas até porque, algumas vezes Yongsun não apenas ficava observando. Tinha parado após perceber que seus prazeres e o trabalho não podiam nunca se misturar ou tudo ia pelos ares e não estava falando dos lençóis de sua cama. Pediu e frisou que os candidatos mandassem fotos não por que a aparência era cem por cento importante, era mas não nesse nível, mas o real motivo era ver o estilo de cada um. Yongsun acreditava que trabalhar com pessoas iguais a você era uma perda de tempo, pois nunca se aprendia nada e acabava por ficarem ignorantes sem a capacidade de desenvolver empatia por outras pessoas que poderiam posteriormente serem clientes. Havia pessoas que aparentavam ser tímidas, até mesmo em suas redes sociais e outras que foram até modelos e aspirantes a atores em alguns doramas de pouco nome, gostava de ter esse tipo companhia que antes não podia por ter que seguir o código idiota de conduta dos outros acionistas; como agora tinha mais credibilidade queria inserir todos seus projetos reprimidos nesta nova era.

Esperava não ser parada ou cortada por algum homem ou acabaria comprando as ações do mesmo e ficando sem sócios, o que por um lado não seria uma má idéia. Riu baixinho segurando na alça da xícara no refeitório e levando o recipiente até sua boca com calma, estava tudo dentro do horário e sua mente está tranquila e mesmo que tivesse tido mais alguns sonhos e se demorado um pouco mais no banheiro junto a seus pensamentos e mãos nervosas na água ainda quente, tinha certeza de que tudo em seu dia daria certo e com sorte, teria seu prêmio final ao mais tardar na noite. Apoiou sua bochecha com os braços fincados na mesa que estava utilizando e acabou sendo levada até o começo de toda essa paixão pelo assunto voyeur. Tinha lido sobre o assunto na internet após ouvir esse termo em um de seus cursos complementares no último ano de faculdade, aonde começara a planejar nos horários vagos do estágio os primeiros passos do projeto que hoje seria seu pequeno império; em um primeiro momento riu pensando em como as pessoas faziam aquilo com tanto naturalidade e percebia pelos relatos que leu, depois de certos dias por acaso em uma calourada clichê viu por pura coincidência um casal gay trocando carícias um pouco mais quentes na saída de emergência que estava praticamente vazia. Foi o estopim e desde ali não parou mais. Era difícil admitiu para si mesma que sentia prazer observando - consensualmente - outras pessoas fazendo sexo, por esse pensamento limitado, acabou procurando alguns psicólogos que se nada serviram. Acabam dizendo o mesmo sempre, era apenas uma forma de seu corpo se expressar e estravasasse o estresse do mundo dos negócios e publicidade em que estava se infiltrando e que seja isso ou outra coisa, era ótimo ter um hobby para distrair-se.

Mais madura, aprendeu a conviver com suas manias e aprender mais sobre si mesma de uma maneira natural e estava orgulhosa de hoje ser assim, embora ainda pragmática para alguns assuntos. Aprendeu a libertar-se de correntes que prendiam seu prazer apenas por medo e estava indo muito bem, sentia-se dona de si e com isso, nada poderia parar seu hobby e diversão particular; sem contar que depois de suas noites atrás daquele mesmo vidro, seu pico de produtividade dobrava e seu melhor amigo computador e gravador de áudio eram seus salvadores. Muitas boas capas e ideias saíram de noite intensas.

Não tinha do que reclamar. A não ser...

A não ser pela pequena curiosidade em alto nível que estava de ver o rosto daquela que vivia nas sombras e luzes inteligentes do quarto, já que o corpo branco e levemente musculosos foi visto, avaliado, sentido e desejado; queria sim ser tocada e toca-la, fazer com que seus quadris altos junto com as covinhas em suas costas se chocassem. Suspirou mordendo seu lábio inferior aumentando ainda mais seus questionamentos: Será que ela fecha os olhos quando goza? Será que ela fica vermelha quando está se despindo? Será que sorri torto quando não gosta de algo? Como será o formato de sua boca? Sua língua se movimenta com rapidez enquanto fala? Seu cheiro é doce forte ou suave? Qual a cor de seus olhos? Eles brilham quando termina de receber seus espasmos?

E por último:

— Quem é ela? — Disse em voz alta suficiente para que uma pessoa próxima escutasse e fora o que realmente aconteceu. Havia uma mulher mais alta que si só lado de sua mesa entrando na fila do self service que a observava com uma expressão quase que ridícula. Bom, era de se esperar ao ver alguém falando sozinha.

— Ei, você sabe em qual andar começa a primeira etapa da seleção de fotógrafos. — Yongsun abriu a boca algumas vezes e sorriu confusa, arqueou uma de suas sobrancelhas e balançou a cabeça. Estava mesmo sendo chamada de uma forma totalmente informal dada a sua idade e posição na empresa? Espreitou os olhos no crachá mas de nada adiantou, estava virado ao contrário. — Tudo bem contigo?

Se não fosse uma audácia não estava a reconhecendo. Será pela máscara descartável em seu rosto e pela falta de maquiagem? Tinha deixado para fazê-lo exatamente na hora de entrar em contato com eles, decidiu relevar.

— No quarto andar. — Ao menos, tinha uma aparência e tinha se preocupado em vestir-se bem para um primeiro contato, diferente de alguns que tinha visto passeando pelo prédio. Tinha fios grandes e roxos. Parecia ter sido tirada de algum desenho para maiores de dezoito anos. — Vai se candidatar?

— Oh, sim e você? — Perguntou animada, dando um meio sorriso se afastando por conta da fila.

— Não, não eu já trabalho aqui. — Ajeitou a máscara em seu rosto e sorriu tentando ser simpática e realmente era, a mulher passava isso. — Faz muito tempo aliás.

— Sério? E como é a senhora Kim? — Perguntou numa curiosidade quase que infantil, baixo com animação.

A situação só ia de ladeira abaixo, senhora?

— É uma boa chefe, sendo sincera. E odeia ser chamada de senhora. — Ela fez um som engraçado e logo sorriu com a gengiva avantajada.

Seria fofo se não estivesse nervosa. Um dos assessores de Solar vinha em sua direção em passos rápidos, parou em sua mesa quando a viu.

— Yongsun, precisamos ir. Tem que se maquiar e dar boas vindas aos candidatos dentro de vinte minutos. Vamos.

Foi então que ao ouvir o nome mais famoso daquele prédio, a mulher sumiu com seu sorriso e sua expressão inteira se tornou um "o" de susto e vergonha, percebeu por seu rosto ter corado e mesmo que levemente, era perceptível já que sua pele era alva como leite. A mais velha riu alto caminhando com o assessor deixando-a atônita com a bandeja na mão.

— Boa sorte na seleção.

Esperava realmente que todos dessem seu melhor, mas nunca passado por uma situação daquelas. Ao chegar até seu escritório, sentou-se no o sofá dispondo de uma maleta de maquiagem e esta ficava exclusivamente guardada na empresa para o caso de algum imprevisto acontecer e ter como enfrenta-lo ao menos bonita, mesmo que se preferisse sem todos esses cosméticos. O país não estava preparado para a beleza nua e crua de uma mulher em seu ambiente natural, com sua beleza natural exalando e isso, era a maior mentira que poderiam inventar para homens ao redor do mundo. Se bem que muitos já nascem muito burros, pensou consigo mesma e aquele filete de pensamento a fez rir enquanto fazia seus olhos os tateando com o rímel com toda a atenção e calma do mundo. Suspirou quando seu olhar se tornara três vezes mais penetrante, deixou um beijo no espelho depois de passar um batom de cor suave que acompanhava todo o conceito em sua feição, não queria faze-los correr logo no primeiro dia.

— Está pronta? Estão todos reunidos no estúdio, então se começarmos agora vamos terminar bem antes do que imaginávamos. — Wheein entrava estourando a porta com uma presa desnecessária, fazendo-a rir e levantar-se indo até a amiga que sem modéstia, estava realmente mais linda que si.

— Claro, vamos lá. Você decidiu modelar hoje também? — Caminhavam com rapidez até o elevador, não querendo perder nenhum mísero minuto, sozinhas ali, teve tempo suficiente para observa-la. Estava com um vestido listrado colorido e de óculos, o que pouco se via já que só utilizava do acessório em casa. Tudo caia bem em seu corpo, parecia um karma, um ótimo para se carregar.

— Bom... É. Preciso atualizar meu Instagram.

— Concordo. — Yongsun riu voltando-se de frente a porta esperando que passasse por todos os andares necessários até chegar ao seu destino. Remexeu em seus fios e brincou com seus saltos brancos, deixou com que as portas de metal fizessem seu trabalho e assim, saíram mergulhando no enorme setor fotográfico que havia acabado de ser montado. A primeira camada era dada por um conjunto de mesas com computadores potentes para quaisquer tipo de trabalho com design, nas paredes próximas, estantes com equipamentos de filmagem, câmeras, lente, tripés, rebatedores de luzes, alguns sofás e uma pequena lanchonete com cafeteira e alguns salgados, havia também uma máquina de refrigerantes, água e cerveja. Não eram uma empresa a moda antiga e se orgulhava de ter construído esse conceito no país. — Bom dia a todos. — Aproximou-se dos dez que estavam no meio do grande pátio que era o estudo em si, um ambiente realmente grande se forem observar. — Estou realmente feliz em saber que estão animados e queria começar cedo, afinal todos queremos ir para casa cedo. Vou dar uma pequena explicação de como tudo irá funcionar. — Pegou a prancheta que lhe foi dada chegando o nome de todos eles e dos contatos que foram convidados a participar como modelos. — Será em três etapas que irão acontecer em dois dias. A primeira etapa que vocês já devem ter entendido, será uma sessão de fotos utilizando todo este espaço. Será cobrado em primeiro momento a habilidade em montar cenários, seja digitalmente ou fisicamente.

Enquanto dizia tudo aquilo os dez tinha feições exatamente distintas. Alguns tinham um bico no rosto, outros suspiravam tentando ao máximo focar em todas as instruções que saíram de sua futura chefe, se tudo desse certo, é claro. Pareciam mais um grupos e adolescentes prestes a fazer vestibular, as mãos de alguns escondidas atrás do corpo denotava a timidez e nervosismo claro todos e os que não conseguiam ver, era apenas bons atores. Dando como acabada sua fala de instruções sobre a primeira etapa deram início ao sorteio que mostraria a ordem em que os clicks seriam dados e logo após, qual fotógrafo ficaria com qual modelo. Yongsun esperava com as mãos nos bolsos seu nome ser chamado, preferiu se manter sã e não sugestionar sua dupla de criação naqueles dois dias que viriam, embora mantivesse seus olhos atentos em alguns ali, como Seulgi que era uma das mais velhas, mas uma das mais talentosas.

— Agora parece que sobraram as duas demais velhas, hm... — Wheein tirava os nomes da urna com um sorriso simpático, mostrando sua covinha a todos o que era um crime, dado aos elogios que recebera antes mesmo só sorteio começar. Qualquer um dos candidatos teria sorte de tê-la como modelo, seu rosto era expressivo e se encaixaria com qualquer conceito. Pensou Solar sobre a amiga. — Seulgi terá Irene como modelo. Não quero fazer pressão nem nada, mas terá de cuidar muito bem da líder do Red Velvet, ok? — As duas ficaram lado a lado e foram até a área de criação tentando, com certeza, discutir o que fariam nesta etapa. — Moonbyul e... — Tinha enganchado uma das pulseiras na bica da urna, fazendo com que a mulher selecionada por primeiro levasse suas mãos até a cabeça e sorrisse par ao nada fechando os olhos com força. — Woah... Moonbyul e Kim Fucking Yongsun. Isso sim é o que eu chamo de pressão. 

Todos a fitaram com certo terror no olhar. É claro que ter celebridades em que muitos era apenas fãs e do nada terem de ser profissionais era algo muito extremo, mas trabalhar com quem já tinha feito de tudo no cenário do entretenimento, imagem pessoal e pública seria um desafio. Byul por lado sentia-se confortável o suficiente com a injeção de adrenalina misturada com medo que acabara de receber quando sua dupla foi anunciada; aquilo não era um mero desafio, era o desafio de toda sua pequena carreira profissional. E além de tudo, seriam as últimas a usar o estúdio o que era tanto uma vantagem quanto iam desvantagem. Teriam muito mais tempo com os acessórios para criar realmente um conceito e mais ainda para discuti-lo. Todos dispersaram com suas duplas e então a fotógrafa deve se esperar um pequeno tempo para que sua simples modelo lhe fosse liberada, assim que a mesma veio em sua direção pensou em mim coisas diferentes para se dizer, mas lembrando do ocorrido pela manhã riu.

— Primeiramente tenho que me desculpar com você pelo fato no refeitório. — Disse tentando descontrair seu próprio humor e soube que o fez quando Yongsun sorriu. Não estava certa se deveria chama-la assim nem ema seus pensamentos, afinal era uma autoridade na empresa. Seguiu até uma mesa redonda vazia próxima a "lanchonete" improvisada ali, viu-a se sentar em iam das cinco cadeiras e foi diretamente até a máquina tirando de lá duas cervejas. — Realmente não te reconheci, tinha um rostinho de bebê que não parecia com você. Entende?

— Mas agora, acho que pode sim me chamar de Yongsun. — A mais velha riu negando a bebida alcoólica, não porque não queria, mas por estar avaliando-a e a todos também. — E bem, ninguém em todo esse tempo não me reconheceu, então foi até divertido.

Sempre tinha uma primeira vez para tudo.


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