Lembranças

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"Não consigo esquecer o dia que você se foi
O tempo é tão insensível
E a vida é tão cruel
Sem você aqui ao meu lado"

- Un-Break My Heart


Dias depois da morte de Erwin, eu ainda me sentia como no primeiro dia. A única coisa que ainda me fazia ter esperanças era o filho que eu carregava em meu ventre, o único motivo que eu tinha de me manter viva. Hange, agora comandante da tropa de exploração, me liberou dos serviços para que eu ficasse de luto, mas cada dia que passava, eu me sentia pior. Ficava parada dentro de casa, chorando quase que incessantemente, lembrando de todas as coisas que passei com Erwin, enquanto meu peito era dilacerado pela saudade, pelo fato inevitável de que ele não estava mais comigo.

Não queria mais ficar em casa. Uma semana depois, voltei para o quartel da tropa, para voltar a trabalhar. Sentia que ficaria louca se passasse mais um dia parada. Eu cheguei no quartel e os poucos soldados ali me olhavam atentos, e eu tentava forçar um sorriso a todos eles, tentando mostrar que estava bem. Mas era claro que eu não estava. Nunca mais ficaria bem, não completamente.

Assim que cheguei na enfermaria, cumprimentei o Dr Ethan e Manuela, que ficaram surpresos com a minha chegada repentina.

- Angelle! O que está fazendo aqui? – o médico perguntou.

- Vim trabalhar.

- Angelle, você não precisa... – Manuela falou suavemente, vindo até mim.

- Eu sei, amiga, mas se eu ficar mais um dia em casa, vou ficar louca. Queria falar com a comandante, ela já chegou?

- Sim, deve estar na sala dela.

- Tudo bem, eu vou até lá.

Caminhei até a sala que agora era de Hange, bati na porta, mas não obtive resposta. Girei a maçaneta e percebi que a porta estava destrancada. Abri a porta lentamente, coloquei a cabeça pela fresta, e vi que não havia ninguém.

Entrei na sala, e as lembranças vieram mais fortes do que na última semana. Observei tudo nos mínimos detalhes, e tudo estava igual ao que eu lembrava. Caminhei até sua mesa, e passei a mão suavemente por ela, tentando inutilmente conter minhas lágrimas.

- Eu ainda acho estranho entrar nessa sala e não o ver sentado nessa cadeira.

Virei repentinamente e vi Hange caminhando lentamente até mim, enquanto falava.

- Angelle... – Disse, em um tom baixo, me abraçando. Eu a abracei de volta, respirando fundo na tentativa de me acalmar. – O que está fazendo aqui? Manuela disse que você estava me procurando.

- Sim, comandante Hange. Vim dizer que vou voltar às minhas atividades a partir de hoje. – Respondi, me desvencilhando do abraço.

- Angelle, eu ainda dispenso que se dirija a mim com tanta formalidade. Não é porque agora eu sou comandante que isso mudou. E você tem todo o tempo do mundo pra ficar de luto, eu te disse isso.

- Não quero ficar em casa, Hange. Quero trabalhar, quero ocupar minha cabeça.

Ela me observou por um tempo, e perguntou:

- Você ainda pretende trabalhar aqui?

- O quê?

- Angelle, eu nem imagino o quanto seja difícil estar aqui, então eu lhe indicarei a qualquer hospital que você quiser. Não precisa mais trabalhar aqui, se não quiser.

- Hange, eu nunca irei sair do reconhecimento. Enquanto eu tiver vida e saúde, eu nunca vou sair. A vida praticamente inteira dele foi aqui, e é aqui que eu me sinto mais próxima dele. Eu... eu o conheci aqui, foi aqui a primeira vez que ele me convidou para jantar, foi aqui a primeira vez que ele disse que me amava, foi aqui que nos casamos. Às vezes eu acho que o coração dele era mais do reconhecimento do que meu...

O preço de entregar o coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora