Behind The Flash

0.8

"O estudante, o trabalhador,

Sente deixar o cobertor.

Pega a marmita,

Ronca o motor."

- Tribalistas

Illinois, Chicago.
Junho de 2008.

Primeira dia de aula.

O curso era noturno, e em razão disso tive que reorganizar meu turno no trabalho.

Desci pelo corredor que levava às salas. Chegando na porta notei que a professora de História da Cultura encontrava-se à mesa, e as carteiras ainda não tinham sido totalmente preenchidas. Procurei uma pelo meio mesmo, meu lugar seria definido posteriormente.

Pouco tempo depois apareceu um garoto do meu lado, com um estilo um pouco praiano. Cabelo castanho passando dos ombros, blusa regata mostarda, bermuda e chinelo. Por um segundo me senti arrumada demais, mas então percebi que cada um ali, tinha um jeitinho único.

- Oi, tudo bem? - o menino me chamou.

- An... Oi, tudo bem sim. - vamos lá, Laura, você já foi melhor que isso.

- Nova no curso?

- Sim.

- Me chamo John. - estendeu a mão, da qual apertei. - Tô no quarto semestre já, mas reprovei nessa e deixei pra pegar agora.

Que sossegado.

- Laura. Laura Harrier.

- Seja bem vinda, Laura. Espero que goste muito. - me ofereceu um sorriso simpático.

- Obrigada! - e então ele voltou sua atenção para uma revista que tinha em mãos.

Aquela aula passou levemente. Foi mais uma introdução/apresentação. E obviamente que tive de falar meu nome, idade e qual o motivo de ter escolhido aquele curso.

Paixão e pura paixão.

Sempre estive perdida no meio de quadros e esculturas, em especial as estátuas esculpidas em mármore. Lewis não ficava muito entusiasmado em me acompanhar nos passeios que tinham museus como destino.

No fim da noite fui para a parada de ônibus.

- Laura?! - quando olhei pro lado, lá estava John com dois garotos e uma garota.

- Hey John.

- Indo pra casa? - mexeu nos fios, jogando para o lado.

- Sim, você também?

- Não mesmo! - respondeu, risonho, um de seus amigos.

- Não temos hora pra ir embora, hoje tem festinha no campus de Direito. Uma espécie de boas vindas. - explicou meu colega de turma.

- Festa numa segunda-feira? - perguntei incrédula.

- Super normal por aqui. - de novo o garoto.

- E como nova aluna, você deveria ir! - John alertou.

- Oh não, preciso arrumar casa e descansar. Trabalho quase o dia todo pra conseguir estudar aqui. - rodei o dedo ao lado do rosto "mostrando" o espaço.

- É uma pena. - finalmente a garota pareceu notar minha presença.

- Já entendi, Karol. - meu colega falou com ela sem dar muita atenção. - Tudo bem, mas espero te ver em algum evento das sextas e sábados.

- Não posso prometer nada, mas vou tentar. E obrigada pelo convite!

- Por nada, até.

Seguiu com seus amigos para onde deveria ser a tal festa. Pouco depois eu já estava subindo no transporte, indo para casa.

- Rachel?! - chamei quando cheguei em nosso lar.

- Banho! - gritou do banheiro.

Fui para a cozinha e peguei um copo de água, encostei na bancada e fui bebericando enquanto encarava o nada. Alguns minutos depois a loira apareceu com uma toalha azul em volta do corpo.

- E então? Primeiro dia de aula!

- Será que consigo um bom dinheiro se te vender? Acho que vou precisar de um carro. - fiz uma carinha de cansada.

- Sinceramente?! Você não consegue comprar nem uma bicicleta! - rimos.

- É tudo maravilhoso, o lugar, os professores, até agora. E os assuntos, nossa! Reclamo de como tenho que me locomover, mas vira um problema pequenino perto de tudo que tá me encantando.

- Ai os prazeres das primeiras semanas! Logo passa, deixa seus trabalhos e provas começarem a se atropelar! - gargalhei alto enquanto ela saía da cozinha.

O restante da semana passou sem nenhuma surpresa. Para o fim de semana eu tinha apenas um artigo para ler, só para inteirar-me do assunto.

Até que a realidade bateu na porta.

Três meses depois eu estava levantando com o sol, tendo que dar conta de atividades do lar e acadêmicas, correndo para o trabalho, que agora me tomava um tempo maior. Meu novo turno começava às 10h e encerrava às 17h.

Nesse meio tempo as coisas entre eu e o Lewis só pioraram. Ele não tinha tempo no começo, e agora éramos dois. Quando ele mandava uma mensagem eu só conseguia responder no fim do dia, enquanto voltava pra casa ou antes de me deitar.

As ligações? Aconteciam uma vez por semana, ou a cada duas.

Seu nome já estava começando a ser citado nos jornais, como a nova promessa das pistas. E o pior era saber, que eu não sabia. Eu não tinha noção de como estavam os treinos, as entrevistas, como ele era tratado pelos colegas de trabalho. Tudo isso foi ficando em segundo plano.

[...]

Notas: Fiz um capítulo grande, mas cortei em duas partes pois quero que a segunda fase comece no capítulo 10.