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"Moço, maltratar não é direito

Essa mágoa no meu peito

Você sabe de onde vem!"

- Maria Rita

Los Angeles, Califórnia - EUA.
Fevereiro de 2017.

Na manhã seguinte, bem cedinho, minha estilista, Danielle Goldberg, chegou com um costureiro da Sies Marjan, que trouxe a roupa da qual eu usaria no evento. Fiz a última prova, pois qualquer ajuste deveria ser feito ainda naquela manhã. As joias e o calçado foram devidamente selecionados.

Uma equipe chegou logo depois para me arrumar. E a maior parte daquele dia, passei sentada enquanto mexiam em meu cabelo, minhas unhas e meu rosto.

- Laura, querida. – Dani chamou. – Já sabe com que roupa o seu namorado vai hoje?

- Na verdade não. Ontem ele saiu daqui cedo e até agora não falou comigo. – tornei a verificar a tela de bloqueio do celular, mas não tinha notificações dele.

- Acho que vocês deveriam melhorar um pouco a comunicação quando se trata desses eventos. Você não pode aparecer lá com um look clean e ele muito despojado. Lembre-se que a modelo aqui é você, então precisa estar com alguém que combine com seu estilo do dia.

- Klay sabe como se arrumar. – tentei contornar a situação.

- Aposto que vai aparecer de novo de tênis e moletom. – cutucou Martin, meu maquiador, contorcendo os lábios em desgosto. Espantei-me com seu comentário.

- Nada legal, Martin. Nada legal. – alertou Teddi, enquanto arrumava meu cabelo.

- Desculpa, honey. – esbocei um sorriso de lado, sem saber o que falar. Era horrível como eu sentia que as pessoas tinham razão. Mas eu gostava dele.

Senti o celular vibrar no meu colo e peguei com a mão desocupada, na esperança de ser meu namorado, mas não era.

- Oi baby. – atendi.

- Também tá plantada na cadeira, recebendo um tratamento de beleza? – Zendaya brincou.

- Parece que é só isso que a gente faz! – todos riram da minha constatação, já que o aparelho estava no viva-voz.

- E suas dores, já foram embora?

- Ah, sim. – Belle usava de todas as artimanhas para que eu não ficasse mal por muito tempo.

- Fico feliz. Na verdade liguei só para saber disso mesmo. Até mais tarde, ok?!

- Até mais tarde, amiga. – encerrei a ligação e continuamos com a produção, que não demorou muito para acabar.

Vestia uma blusa verde oliva por dentro de uma saia de couro num tom mais escuro, meu cabelo estava alisado e preso num coque e um relógio da Bulgari rodeava meu pulso.

- Linda! – escutei Klay chegar por trás de mim, enquanto colocava o par de brincos.

- Hey! – e quando virei-me pude notar sua roupa.

Um casaco de moletom vermelho, uma calça preta e um tênis também vermelho.

- Klay, que roupa é essa? – questionei cansada.

- Como assim? – olhou para si, procurando o que tinha de errado.

- Isso – apontei para meu corpo. – Não combina com isso. – e apontei para o corpo dele.

- Quer ir sozinha? – fez menção de sair porta afora.

- Ei, calma. Não foi isso que quis dizer.

- Tá tudo bem. Você chega lá, tira suas fotos, e lá dentro a gente se encontra. – segurou meu rosto com as duas mãos e deixou um beijo na ponta do meu nariz.

- O que é isso? – notei um arranhão em seu pescoço.

- O quê? – percebeu para onde meu olhar estava direcionado, e colocou a mão por cima. – Isso... Isso foi... Isso foi enquanto eu lavava o cabelo, minha unha passou sem querer. Estava com um pouco de pressa, dormi a tarde toda e acordei quase atrasado. – riu um pouco forçado, ou era apenas coisa da minha mente.

- Hm. – estreitei os olhos e separei os lábios, pronta para falar que aquilo era estranho, mas fui interrompida.

- A gente se encontra lá. – selou meus lábios rapidamente e saiu sem esperar minha resposta.

Olhei meu reflexo no espelho pela última vez, e não pude deixar de reparar em como meu semblante entristeceu-se de um segundo para o outro.

Catei a bolsa e fui andando pelo corredor até a sala.

- Menina Laura, está tão linda! – a mais velha disse animada.

- Obrigada! – esbocei um sorriso.

- O Senhor Thompson passou apressado, aconteceu alguma coisa?

- Apenas decidimos ir separados. – verifiquei a hora no celular e pus a mão na maçaneta da porta.

- Oh. Bom, espero que se divirta essa noite. Já estou de saída também.

- Obrigada, Belle. Até amanhã.

- Até amanhã, minha menina. – veio até aqui e deixou um beijo na maçã do meu rosto.

Saí dali e entrei no elevador, enquanto rodava o celular na mão, pensativa.

Quando cheguei na garagem, entrei no carro onde Julius me esperava.

- Tudo certo? Podemos ir? – perguntou.

- Podemos sim.

Enviei uma mensagem para Zendaya, avisando que estava a caminho do evento.

Chegamos no local e fui direto para o corredor cheio de fotógrafos e repórteres.

- Ei Laura, aqui! – eles gritavam meu nome, na tentativa de capturar o melhor ângulo.

- Harrier, onde está nosso jogador? – virei a face e sorri para outra lente.

Após alguns cliques fui conversar com uma das emissoras.

- Estamos aqui com a Laura Harrier, nova estrela da Marvel. – sorri simpática. – Tem alguma novidade para os fãs?

- Desculpa, ainda estamos na fase do sigilo total. – rimos.

- Notei que veio sozinha, o Thompson não vai comparecer?

- Tivemos um imprevisto, mas acredito que ele vai aparecer sim. – entrelacei os dedos, tentando disfarçar o nervosismo.

- E o que você está vestindo hoje? – olhei para o conjunto e passei a mão na saia.

- Hoje estou em Sies Marjan e Bulgari.

- Muito linda! Nossa futura It Girl.

- Obrigada! – senti a mão de Julius no meu ombro. – Agora devo entrar.

- Divirta-se!

Saí dali e quando entrei no salão tinha diversas mesas, com todos os tipos de celebridades.

- Laura! – virei para quem me chamava, vendo Jaden Smith ali.

- Jaden! – abracei seu corpo.

- Quanto tempo! – afastou segurando meu pulso. – E você, espetacular como sempre. – apontou para minha roupa.

- Obrigada! Você não tá muito diferente, né?! Como estão as coisas?

- Agora estou focando no meu álbum. E o filme?

- Tive essa semana de folga, mas na próxima vou sofrer, correndo entre gravações, photoshoot e campanhas.

- Se começar a cantar vai se tornar uma tripla ameaça! – rio, segurando seu ombro.

- Não, esse título de sucessora da Beyoncé a gente deixa pra Zendaya. Falando nisso, preciso ir atrás dela.

- Claro, claro! A gente se fala mais tarde. – nos abraçamos novamente e ele deixou um beijo no meu rosto.

Caminhei entre as mesas e as pessoas, olhando para os lados a procura da minha amiga, quando meu olhar caiu no semblante furioso do Thompson. Cheguei perto dele e levantei a mão para passar no seu rosto, quando senti seus dedos agarrarem meu pulso com força.

- Que merda foi aquela? – sibilou.

- Baby, tá me apertando! – sussurrei, com medo de criar uma cena. Sua outra mão foi para minha nuca e afundou os dedos, aproximando nossos rostos.

- Você acha que eu sou algum idiota? – senti o sangue fugir da minhas bochechas.

- Klay, por favor, do que você está falando? – o ar estava tendo dificuldades em chegar nos meus pulmões.

- Aquela ceninha com aquele nojento do Smith. Precisava se esfregar nele na frente de toda essa gente?

- O que... Não! Ele é meu amigo. Para com isso, você tá me machucando. – implorei sentindo o choro subir pela garganta.

- Ei casal! – e o moreno me largou quando a voz do seu amigo chegou até nós.

- Diz aí Curry. – meu namorado cumprimentou enquanto eu ainda estava de costas, tentando recuperar o fôlego.

- Tudo bem, Laura? Algum problema? – pousou a mão em meu ombro.

- Nada! – Klay puxou meu corpo e passou o braço pela minha cintura. – Ela está naqueles dias chatos que toda mulher fica.

Meu rosto estava um pouco escondido no seu peito.

- Poxa, sinto muito. Melhoras.

- Vai sentar ali com sua amiga, e se comporta. – sussurrou. – Vamos pegar uma bebida? – falou com o amigo e me soltou de qualquer jeito.

Apoiei uma mão na perna e respirei fundo. Pisquei algumas vezes, na tentativa de espantar as lágrimas. Empertiguei as costas e procurei minha mesa, não demorando a achar.

- Laura, o que aconteceu? – minha amiga levantou quando me aproximei.

- Nada demais. – puxei uma cadeira e sentei-me.

- Você tá pálida. Consigo enxergar a tensão nos seus olhos. – peguei uma taça e dispus um pouco de água, bebericando em seguida. Zendaya sentou na cadeira ao lado, ficando de frente para mim.

- Foi só uma queda de pressão. Acho que o analgésico que tomei antes de sair de casa era muito forte. – apoiei as mãos na mesa e varri o olhar pelo salão, vendo ele escorado no balcão com um copo na mão, provavelmente com uísque. Era o que ele costumava beber quando estava enfurecido. Ele encarava o lado oposto ao qual eu estava.

- Não pode ficar se medicando assim! – acariciou meu braço, captando minha atenção. – Vou buscar alguma coisa pra você comer.

Saiu dali sem ao menos esperar minha resposta. O choro ainda estava entalado na minha garganta. O que foi tudo aquilo? Não era a primeira vez que ele sentia ciúmes, mas foi a primeira vez que levou seu surto para um outro nível. O nível no qual me machucava.

Zen apareceu com um prato em mãos, cheio de petiscos e doces.

- Come um pouco de tudo. Não sei o que tá faltando no seu organismo.

Finquei o garfo no salmão e tirei uma lasca, mas quando coloquei na boca senti vontade de vomitar. Meu estômago ficava “magoado” quando eu estava nervosa.

- Não. – empurrei a louça para o centro da mesa.

- Como assim não? – a negra questionou, confusa.

- Quero ir embora. – peguei minha bolsa no colo e comecei a digitar uma mensagem para Julius.

- Mas amiga, você acabou de chegar.

- Não vou conseguir ficar aqui enquanto estiver me sentindo mal desse jeito.

- Espera, vou falar com seu namorado. – fez menção de levantar e segurei suas mãos.

- Não! – quase gritei e recebi um olhar desconfiado.

- Como assim "não"? Eu vou sim, você está passando mal e ele precisa saber. - soltou-se do meu aperto e foi até o balcão. Segundos depois ela voltava com o homem em seu encalço.

- O que aconteceu? – ele perguntou, ainda com um tom irritado.

- Nada. – murmurei de cabeça baixa.

- Nada não. Ela não está se sentindo bem. Queda de pressão. – retrucou minha amiga.

Klay inclinou o corpo e sussurrou no meu ouvido:

- Queda de pressão? Gostei. – riu sarcástico. – Veja com seu amante se ele pode cuidar de você. – fechei os olhos com força, pedindo aos céus para não bater nele aqui no meio de todo mundo.

Ele acertou a postura e disse:

- Estou ocupado. - virou-se para a mulher do meu lado. – Veja o que pode fazer por sua amiga. – e simplesmente nos deu as costas.

- O que... Mas que... Que porra foi essa?

- Zendaya, por favor. Deixa isso quieto.

- Deixar quieto? Seu príncipe acabou de ignorar o fato de que você não está bem!

Levantei, me apoiando no encosto da cadeira.

- Mandei mensagem para Julius. – entrelacei meus dedos nos seus.

- Vou com você! – disse por fim.

- Não precisa, Belle vai dormir lá essa noite. – menti.

- Droga. – puxou meu corpo para um abraço. – Quero que me ligue imediatamente se algo acontecer. Entendeu?

- Entendi. – subi e desci a mão em suas costas, fazendo um carinho. – Obrigada.

- Vamos, vou te acompanhar até a saída.

Cruzei o braço no seu e fomos para a saída lateral, onde não tinha fotógrafos e Julius já me aguardava com a porta do carro aberta.

- Me liga quando chegar em casa. – beijei seus dedos.

- Ligo sim. Tchauzinho.

- Tchau, linda.

Entrei no banco de trás e quando meu segurança fechou a porta, pude notar minha amiga parada ali de braços cruzados e com uma expressão nada suave.

Behind The FlashOnde histórias criam vida. Descubra agora