"Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus."
- Vanessa da Mata
Mônaco - Espanha.
Abril de 2017.- Vamos, Angela! Corre! – provoquei mais um pouco.
- Carl, sabe que não tenho mais idade para essas coisas! – respondeu ofegante.
Estávamos fazendo minha corrida matinal pelas ruas de Mônaco. E era sempre assim quando ela me acompanhava: ficando para trás e reclamando.
Pouco mais de 10 minutos depois, parei para tomar um pouco da água na garrafa que eu carregava em minha cintura.
- Não precisa me chamar na próxima. – Cullen apoiou-se nos joelhos, tentando ritmar a respiração. – Eu não venho.
- Sempre diz isso. – e joguei um pouco do líquido no rosto, buscando refresco.
- Sua sorte – me lançou um olhar incisivo. – é que você é meu campeão, e não posso te enforcar nessa altura do campeonato.
Gargalhei a ponto de jogar a cabeça para trás.
- Sim, isso seria suicídio! – constei em meio a crise de riso.
Senti o celular vibrar no bolso do short e quando olhei no identificador de chamadas, vi o nome do meu amigo.
- Hey Leo! – atendi animado, ainda pela corrida.
- Se não é o piloto mais rápido do mundo! – brincou.
- Culpado. – levantei uma mão em rendição, mesmo sabendo que ele não conseguia ver.
- Como estão as coisas por aí?
- Tudo certo, graças à Deus. Acabei de parar aqui, estava correndo com a Angela.
- Quem é? – ela sussurrou. Pus a mão no microfone e afastei o aparelho da orelha.
- Kawhi.
- Leonard? – perguntou baixo e apenas confirmei com um sinal de positivo.
– E por aí, jogando muito?
- E como! Essa semana tenho um jogo em Paris, e vou ficar por lá no fim de semana.
- Então a gente pode se ver, só tenho circuito na próxima semana. – sugeri.
- Sim, eu liguei justamente pra te perguntar isso.
- Que dia é o jogo? – eu e minha assistente começamos a fazer o caminho de volta para o carro.
- Sexta a noite.
- Pronto, chego lá de tarde, assisto a partida e depois a gente vira a noite em algum lugar.
- Assim que eu gosto de ouvir! – deu risada. – Então até lá, Lewis.
- Até, jogador! – encerrei a chamada.
- Espero que não desgaste seu corpo com essas festas. – Angela alertou.
- Não se preocupe – passei o braço por seu ombro. – No sábado estou de volta e vou tirar o domingo para descansar.
- Ei, não jogue seu peso em mim. – desvencilhou-se do meu aperto. - Nem o suor.
Comecei a andar de costas, olhando para ela.
- Sabe o que vou jogar em você agora? – recebi seu olhar curioso. – Poeira!
Virei e comecei a correr, e em segundos pude escutar seus protestos. Olhei para trás e lá estava a loira, tentando me alcançar.
Esse ano o meu contrato com a Mercedes completará 5 anos, e posso confirmar sem sombra de dúvidas, que a Angela foi uma das melhores coisas que me aconteceram por lá.
Sendo minha fisioterapeuta e assistente pessoal, ela praticamente me levava nas costas.
Quando chegamos no meu apartamento meu pai andava tranquilamente com uma mão no bolso, enquanto a outra segurava o celular rente a orelha.
- Ang? – chamei, antes que a mulher seguisse para a cozinha.
- Manda!
- Pode reservar meu voo de sexta?
- Pela manhã? – quis saber.
- Não, pode ser depois do almoço. Já vou chegar indo direto para o estádio.
- ... parece ser interessante essa proposta, mas a gente discute melhor pessoalmente. Ok, vou aguardar seu contato. Até mais. – meu pai encerrou a ligação e chegou perto de nós, colocando a mão sobre meu ombro. – Vai viajar?
- Kawhi me ligou, disse que tem game na sexta, em Paris. Vou dar uma passada.
- Já sabe, né? – insinuou.
- Não dar combustível para a mídia sensacionalista. – lembrei.
- Ele sabe, tá bem grandinho. – Angela brincou, com o celular em mãos. – Oi Cesar, aqui é Angela Cullen... – e saiu quando iniciou a ligação.
- Sabe que tenho simpatia pelo Leonard, mas alguns amigos dele não me passam confiança. – meu pai estava me alertando, e eu conseguia entender sua preocupação. Meu objetivo era ser reconhecido apenas pelo meu trabalho e ações filantrópicas. Minha vida pessoal não estava em pauta.
- Pode ficar despreocupado, no mínimo sinal de problema, eu escapo pela porta dos fundos. – brinquei um pouco.
- Prontinho, voo agendado! – Angela apareceu.(...)
Eu estava no banco traseiro do carro, que circulava pelas ruas da cidade do romance. Meu amigo pediu para que eu seguisse até uma casa noturna, conhecida por receber diversas pessoas importantes e muito conhecidas.
Em poucos minutos os pneus foram manobrados para encaixar o carro na vaga. O segurança que me acompanhava veio logo atrás.
Meu convite digital foi apresentado na entrada e em minutos eu já estava explorando aquele lugar cheio de gente e com uma música alta. Fomos direto para o camarote, onde os caras me esperavam.
- Grande Lewis! – Leo gritou quando me viu, chamando a atenção do restante da turma.
- Hey, cara! – puxei seu ombro para um abraço rápido. – Quanto tempo!
- É impressão minha ou você adicionou algumas tatuagens? – disse olhando para os meus braços.
- Sempre que posso. Agora só falta você. – respondi apontando para ele.
Troquei apertos de mão com alguns homens que eu já conhecia, e outros que me eram apenas conhecidos através das redes sociais e jornalismo.
- Tequila pra todo mundo? – alguém perguntou e ganhou um coro em concordância.
Virei apenas uma dose, pois sempre evitava o álcool e seu poder de tirar nosso controle. Em algum momento da noite, enquanto eu olhava as pessoas dançando na pista, senti uma mão deslizar pelo meu ombro e virei, dando de cara com uma loira de olhos acinzentados.
- Boa noite.
- Boa noite. – respondi com um sorriso simpático.
- Desculpa chegar assim, mas já tem um tempo que estou esperando você me encarar de volta. – rápida!
- Desculpa, estou um pouco aéreo.
- Sem problemas, posso te deixar concentrado... – e aproximou-se, com o olhar pousado em meus lábios.
- Ah...Eu...Eu sinto muito, mas hoje não é o melhor dia para mim. Você é muito linda, mas isso não é o que procuro nesta noite. – seu rosto se transformou numa expressão de puro desprezo.
- Famosos. – soltou com nojo e virou indo embora. Eu encarei aquela cena surpreso e então comecei a rir. Fui para o sofá onde meu amigo estava e peguei uma garrafa de água, ingerindo um grande gole.
- Caralho! – diz Leo, enquanto encara a tela do celular.
- O que? – perguntou seu amigo, que estava do seu lado, também no sofá.
- Olha essa foto da Harrier. Acho que é campanha da Vuitton. – e virou o aparelho naquela direção e logo voltou para mim.
Meu corpo congelou.
Era ela.
Linda como sempre. Não. Ela conseguiu ficar ainda mais maravilhosa.
Na foto ela segurava apenas uma bolsa, e não tinha nenhuma peça de roupa em seu corpo. A bolsa escondia a região do quadril e seus cabelos estavam caídos sobre os seios.
Aqueles olhos, aquela boca enorme. Eu voltei a ter 19 anos naquele momento.
- O que eu não faria pra ver ela usando essa boquinha... – o tal amigo falou, me fazendo virar a cabeça para o lado lentamente.
- O que você disse? – pedi calmo.
- Olha essa boca! Deve fazer um baita estrago aqui embaix...
E antes que ele tivesse a chance de terminar sua frase eu já estava pulando por cima do Kawhi e agarrando o colarinho de sua camisa.
- Que merda você tá falando? Você tá ouvindo a bosta que sai dessa sua boca podre? – seus olhos estavam esbugalhados e suas mãos agarraram meus pulsos, na tentativa de me tirar dali.
- Lewis, calma! – ouvi alguém chamando, mas não dei a mínima e continuei apertando seu corpo contra o móvel, quase estrangulando-o até a morte.
- Eu vou acabar com a sua vida! Você tá me entendendo? Seu filho da puta do caralho! – senti meu corpo sendo puxado e jogado para o outro lado.
- O que foi isso? – meu amigo perguntou aturdido enquanto me segurava fortemente.
Naquele momento eu notei que todos os olhares estavam em minha pessoa.
Meu pai tinha feito um único pedido.
- Tá tudo bem. – constei.
- Pode tá tudo, menos bem! – o americano rebateu.
- Pode me soltar, eu vou embora. – ele foi me soltando devagar, ainda receoso.
Arrumei minha blusa e passei a mão no cabelo, jogando as tranças para trás. O segurança que me levaria para casa naquela noite já estava do meu lado, esperando para agir ou me tirar daqui.
Nunca, em cem anos, eu me veria nesse tipo de situação. Tomar medidas violentas nunca foi uma solução plausível aos meus olhos. O diálogo sempre foi a base da minha criação e da minha carreira.
Mas alguma coisa muito ruim acendeu dentro do meu corpo, quando eu senti a malícia depravada no tom daquele estúpido. Ninguém deveria desrespeitar a minha Laura assim.
Digo, a Laura.
Ninguém deveria desrespeitar a Laura. E obviamente nenhuma outra mulher. Incrível como existem tantos homens sem escrúpulos.
Saímos pela porta dos fundos, toda aquela loucura me deixou com uma pontada na cabeça. Apenas encostei no banco do carro e tentei relaxar. Apertei a ponte do nariz, puxando o ar com força.
- Precisa de alguma coisa, senhor Hamilton? – o segurança perguntou.
- Não, pode seguir para o hotel. Tudo que eu preciso agora é de um banho frio. Essa noite já foi pro buraco. – olhei pela janela e observei um casal que passava de mãos dadas.
As memórias me atingiram como uma bala no peito e grunhi em frustração. Isso não iria passar. Essa falta dela nunca iria passar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Behind The Flash
FanficA vida de Laura e Lewis não era fácil, mas o amor entre eles era capaz de passar por cima de tudo. Ou quase tudo. 10 anos depois, com vidas diferentes, eles se encontram. Os dois perseguidos pelas câmeras. E existe uma maior dificuldade em esconder...