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" Ingênua de vestido assusta

Afasta-me do ego imposto

Ouvinte claro, brilho no rosto

Abandonada por falta de gosto"


- Maria Gadú

Los Angeles, Califórnia- EUA.
Fevereiro de 2017.

Assim que o sol apontou no céu, eu já estava na cozinha, tomando o café da manhã. Meu humor não era dos melhores, já que acordei sentindo cólicas menstruais.

Klay entrou no cômodo e foi logo sentando à mesa, puxou a bandeja com o bolo e serviu-se com um pedaço generoso.

- Bom dia, amor. – saudei, quando percebi que sua atenção não viria para mim enquanto sua fome não estivesse saciada.

- Hm? Ah, sim, bom dia, gata! – ele malmente levantou a cabeça.

Continuei bebericando na minha xícara, que continha algum chá calmante que Belle havia preparado. O resto da refeição correu no mais puro silêncio. Quando ele finalmente terminou de devorar quase tudo que estava disposto ali, levantou e veio me apertar em um abraço desconfortável.

- Não me aperta, por favor. – pedi um pouco rude.

- Ué, o que eu fiz dessa vez pra você tá assim toda estranha e nervosa? – me fitou confuso.

- Não fez nada, mas hoje não é uma dia bom pra mim. Estou menstruada. – choraminguei.

- Xiii... – pegou o celular da mesa e deixou um beijo no topo da minha cabeça. – Então eu vou pra casa e a gente se bate amanhã.

- Ei, não vai me fazer companhia? – olhei pra ele, acusadora.

- Sabe que tenho nojo dessa situação. Além do que, você vai tá chatinha hoje e a gente não vai poder fazer nada. – minha boca fez um “O". – Mas sabe que te adoro, né?! Vou lá catar minhas coisas.

E simplesmente saiu dali, me deixando atônita. Minha governanta apareceu alguns minutos depois.

- Melhor, menina?

- Pior, se possível. – respondi tristonha.

- Ainda dói muito? – notei seu semblante preocupado.

- Antes fosse. Acabei de ser abandonada pelo meu namorado. – cruzei os braços na mesa e olhei para ela com cara de “você acredita?”.

- Que feio da parte dele. – repreendeu. - Mas talvez seja melhor assim. – pegou a xícara vazia na minha frente, e o prato do Thompson. – Agora você sobe, deita na sua cama, descansa em paz, sem interrupções, e mais tarde vou lá te chamar para almoçar.

- Obrigada, Belle. – meu olhar fitava o nada. Recobrei o foco e saí dali indo direto para minha cama. Sentei na beirada e tirei a pantufa, enfiando as pernas por baixo da coberta.

O moreno saiu do banheiro com uma necessaire em mãos.

- Preciso te buscar amanhã ou vai sozinha?

Tínhamos mais um desses jantares cheios de celebridades para comparecer.

- Não vai ser legal se chegarmos separados. – constatei o óbvio.

- Então vou passar aqui às 19h.

- Mas o evento começa às 18h. – ele jogou a mochila nas costas depois de enfiar suas coisas ali de forma desorganizada.

- Sabe que gosto de chegar depois pra chamar a atenção. – fez menção de chegar perto, mas parou no meio do caminho. – Até lá, fica bem aí. – acenou de longe.

Puxei a coberta por cima da cabeça e soltei um grunhido de raiva.

Acordei horas depois com o chamado de Belle.

- Menina Laura. - segurou minha mão, sacudindo levemente. - O senhor Holland está aqui. – avisou quando notou que eu estava atenta a suas palavras.

- Pode mandar ele pra cá. – esfreguei os olhos na tentativa de espantar o sono e deitei de lado.

Ela passou pela porta, para segundos depois dar entrada para meu amigo.

- Dodói, bebê? – diz com um biquinho triste, sentando na beirada da cama, de frente para mim.

- Quase isso. Estou sendo mulher, como sou todo mês. – senti seu corpo pesar no meu e seus lábios encherem meu rosto de beijos.

- E do que você precisa, além de muitos beijinhos e abraços? – permaneceu ali me envolvendo.

- Um namorado que não tenha aversão ao meu atual estado!

- Ele não sabe a sorte que tem. A minha só falta me bater. – sorri com o quão voluntária foi sua menção. – O que foi?

- Você, falando assim tão abertamente, finalmente aceitando que eu já sei de tudo!

- Ah não Laura! – riu junto comigo. – Até parece que alguma coisa passa despercebida por você.

- Mudando de assunto, vai no jantar amanhã? – consertei-me na cama e sentei, encostando na cabeceira e o garoto deitou de lado, apoiando o rosto na mão.

– Não tenho certeza, mas a Daya disse que vai.

- É, ela comentou comigo.

- E seu namorado? – questionou receoso.

- Também vai.

Não fiz questão de fingir animação. Klay conseguia ser bem chato quando queria. Ele tinha muitas manias e implicâncias. As vezes eu tinha que concordar com o descontentamento da minha amiga.

Eu ainda encontrava-me chateada pelo ocorrido dessa manhã.

- Não comenta nada com a Daya, por favor. Sabe que ela não precisava de motivos para ficar falando mal dele. – crispei as sobrancelhas em questionamento. – E o que você veio fazer aqui?

- Belle me ligou, disse que você estava triste. Mas infelizmente não posso ficar muito tempo. Tenho um photoshoot marcado para daqui duas horas e preciso atravessar Los Angeles quase toda pra chegar lá.

Desde que conheci Tom, enxerguei um mar de bondade em seus olhos. Ele era daquelas pessoas que parava tudo para ajudar os amigos e até quem ele não conhecia. Nos estúdios de gravações, é sempre o que faz a gente rir. E se tornou praticamente o “bichinho de estimação” dos Vingadores.

- Sempre tão atencioso e prestativo. – segurei em sua mão. – Espero que a TMZ não ache que eu sou sua namorada.

- Pelo amor de Deus, não. – Tom tinha verdadeiro pavor de tornar-se alvo das grandes mídias que não deixavam em paz as celebridades.

- Quer almoçar por aqui?

- Melhor deixar pra outro dia. – levantou da cama. – Espero que descanse bastante e não fique chateada com ele. Nem sempre a gente entende.

Joguei a coberta para longe e fui seguindo meu amigo até a porta do sala.

- Bom trabalho! – desejei abraçando sua cintura.

- Melhoras, L. – segurou em minha nuca e deixou um beijo no topo de minha cabeça.

Abri a porta para que ele saísse e acenei antes de vê-lo entrar no elevador. Fui então para a cozinha.

- Belle?! – chamei antes de chegar de fato no cômodo.

- Aqui! – ela já estava colocando meu prato sobre o balcão, do lado do fogão.

- Sei que não gosta de me ver assim, mas não pode sair convocando as pessoas para virem cuidar de mim. – peguei uma concha na gaveta e na outra mão sustentei o prato quadrado.

- Foi só o Senhor Holland. E ele já me disse que sempre devo chamá-lo quando achar necessário. – jogou o líquido temperado na salada e a dispôs na mesa. – A namorada dele também me fez esse pedido!

- O quê? – gritei e gargalhei alto. – Até você já sabe?

- E quem não sabe? – me encarou confusa.

- Só o mundo todo?! Eles não assumiram publicamente, e querem permanecer assim. Então... – fiz um sinal de zíper na boca, do qual ela repetiu quando entendeu o que eu quis dizer.

Sentei à mesa e me alimentei apropriadamente, já que estava fazendo uso de analgésicos.

Quando terminei fui até meu quarto buscar o roteiro, e voltei para sentar na varanda da sala. Passei o resto do dia ali, lendo e relendo toda aquela papelada.

Toda essa agonia entre ser atriz e modelo não deixava meu corpo e mente descansar devidamente. Eu precisava de uma boa viagem, para o meio do nada, com um mar só para mim.

- Laura!? – a mais velha apareceu na porta.

- Sim. – tirei a atenção do que tinha em mãos e olhei em sua direção.

- Vim te avisar que sua janta está pronta e eu estou indo para casa.

- Já passou das 18h? – olhei para a rua e notei a escuridão quase completa. – Nossa, me perdi aqui. Mas sim, obrigada Belle.

- Ah, não esqueça de tomar um comprimido antes de deitar-se.

- Pode deixar! Até amanhã.

- Até, menina. – acenou e andou até a porta da sala, saindo em seguida.

Levantei do divã, alongando o corpo. Lentamente caminhei até a cozinha e servindo-me da refeição disposta. Voltei para a sala com o prato em mãos e sentei no sofá, optando por assistir um filme. Precisava relaxar um pouco, já que amanhã seria um dia cheio.

Behind The FlashOnde histórias criam vida. Descubra agora