I - 2°Temporada

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⚠️ATENÇÃO: Este capítulo contêm insinuação de estupro de vulneráveis sem aprofundação de detalhes⚠️

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Coreia do Norte, 1977 - 1990

A ambição de alguém é capaz de abrir portas e construir caminhos, mas também pode ser seu declínio. A alta ambição cega torna propósitos em escruciantes planos vazios.


Tudo que um dia foi construído pensado em um bem maior torna-se cinzas ao vento, tão fracas e inerentes ao mundo que são destruídas com grande facilidade. O bem maior torna-se o bel-prazer que, se lamúria em desejos e cobiças.

Aqui não seria diferente.

Há muito tempo, durante uma ditadura agonizante na Coréia do Norte que se entrenhava entre o povo obteve seu estopim, crianças morriam de fome na frente dos pais que não conseguiam fazer nada a respeito. Histórias contam que alguns pais tiravam de sua própria carne para alimentar suas crianças dando a elas mais tempo de vida, enquanto outros não aceitavam a ideia de suas crias crescerem num ambiente tão hostil e inóspito, a classe desfavorecida estava desesperada, então acabavam por decidir o melhor destino possível, matavam seus próprios bebês e envenavam os jovens para no fim acabarem com suas próprias vidas.

Foi em meio aquele inferno que Kuan cresceu. Uma alfa entre os pobres que viu com seu próprios olhos os progenitores morrerem de fome, seus corpos secos davam visão de seus ossos e olhos fundos, foi a última vez que chorou pela sua condição.

Viveu a base de furtos para conseguir comida, durante a noite se encolhia em becos que passara a dormir. Fugiu o máximo que pode de guardas que estupravam os fracos que dormiam nas ruas ou nem se importavam o suficiente, invadindo casas em plena luz do dia, violentando ômegas e betas na frente dos alfas que não suportando a cena, roubavam as armas para atirarem em suas próprias cabeças, riam do desespero dos mortos e se agraciavam das lágrimas das vítimas.

Era tenebroso.

Infelizmente acabou sendo uma delas durante a noite em que se escondia com uma vela acesa, cantava baixo uma canção de aniversário para comemorar de alguma forma os seus dezessete anos.

- Olha só o que temos aqui comandante! - um dos guardas gritou ao tira-la de seu esconderijo pegando a vela de suas mãos.

- Ora, ora soldado, vemos uma aniversariante aqui hoje! - o intitulado comandante expressou ao se aproximar, pegando a vela das mãos do outro - e então princesa, quanto anos esta fazendo hoje?

Os dentes amarelos se abriram em um sorriso malicioso, as fardas azuis escuras chegavam a cor preta pela escuridão, vendo que Kuan não falaria de bom grado apertou sua mandíbula rosnando por uma resposta. Kuan assim como eles era alfa, a única diferença é que enquanto eles se alimentavam por dez cavalos e descansavam como nobres, pessoas como ela sofriam buscando por alguma migalha durante dias, tinham sorte se encontrassem um bocado de pão duro mofado jogado entre restos no lixo.

Ela era fraca com o corpo ossudo, não possuía músculo e tão pouco seu lobo tinha força para lutar, então apenas respondeu a pergunta;

- Dezessete, senhor! - óh, pobre garota abandonada pela vida. Talvez seu destino não fosse tão cruel se não respondesse.

- Que maravilha! - o comandante gritou animado - Devemos comemorar este dia tão especial! - gargalhou em meio a confusão da jovem - Deseja comer alguma coisa criança?

A fome era maior que o alerta estridente de sua mente.

- Sim. - foi a última palavra antes de seu inferno se transformar na pior condenação profana que poderia ter.

 Alphas Spiritis  _liskook_Onde histórias criam vida. Descubra agora