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~REVISADO~

🍃

Atlanta, extremo sul
23 de Janeiro de 2015


- Lisa! - seu pai gritou novamente, inundando os ouvidos da jovem em mais uma sessão de humilhações gratuitas - Acerte ao menos um alvo! não seja tão imprestável.

Era dia de treinamento, Manoban queria ver como a mesma estava indo. Um fracasso. Pensou.

Lalisa tentava ao máximo impressionar o pai, dias depois de seu aniversário de quinze anos teve sua primeira transformação, a alfa de pelagem cinza possuía as orbes rosas que pareciam queimar pela intensidade, ninguém sabia o motivo já que os alfas costumavam ter olhos pretos como a escuridão ou vermelhos como sangue.

Para Manoban era apenas mais um motivo de sua filha ser uma falha.

Já estava no fim de tarde, com o arco na mão Lisa caminhou até o galpão para guardar em seu devido lugar, encostou-se sobre a velha mesa abaixando a cabeça suspirando.

- Só mais um dia Lisa - sussurrou - só mais uma merda de dia - falou com mais raiva empurrando a mesa de encontro ao chão causando um som estrondoso. - Que os malditos do meu pai arrumem essa merda! - rosnou seguindo seu caminho.

A casa era mais afastada e mesmo assim o caminho foi rápido demais, já na porta o coração estava acelerado. Seu pai nunca foi ver os seus treinos e justo no pior ele decide aparecer.

- O que está esperando aqui fora? - perguntou Manoban ao abrir a porta.

Segurando o ar, apenas o seguiu em passos longos até a sala parando na porta do escritório onde viu quando seu pai se aproximar com uma xícara branca lhe entregando em seguida.

- Beba! - ordenou.

- Papai... - sussurrou com medo - eu apenas...

- Beba! - ordenou, com os olhos já úmidos reuniu todas as forças para não chorar, levou a peça de porcelana aos lábios e tomou um gole, o gosto amargo fez com que seu estômago revirase e o líquido travasse em sua garganta - Beba tudo! - falou enquanto a encarava de sua poltrona com a mão direita portando seu uísque.

Então respirando fundo  e com esforço, virou na boca de uma só vez aquele preparado. Segurou sua respiração e soltou valorosamente o ar pela boca quando já havia o ingerido.

- Vamos ver se assim você aprende algo - falou tirando a xícara de suas mãos a repousando sob a mesinha de canto.

- Pai, do que está falando? - uma única tentativa de passos fez seus joelhos tremeram em fraqueza e seu corpo desabar no chão frio, sua visão estava turva e sua audição apenas zunia - o que você fez? - perguntou fraca, sua mandibula parecia anestesiada pela falta de firmeza ao falar.

- Seu castigo. - falou caminhando para a porta - Quero ver até onde você vai sem seu lobo, já que ele não faz o que deveria fazer. - gruniu saindo do próprio escritório deixando para trás uma filha fraca e jogada no piso.

...

O choro havia consumido demais a jovem que se sentia mais fraca que um galho fino e seco, esquecido no chão alheio a qualquer um pisar em sí. O quarto foi seu lugar seguro depois de fugir do cômodo em que foi deixada por seu pai. Seja lá o que lhe deu para beber, encobriu seu lobo que não mostrava nem mesmo sua presença.

Estava sozinha.

A lua era sua única companheira desde que saiu de casa e o som dos animais noturnos a única coisa que não a deixava se render ao desespero. Com as mãos no bolso do casaco, andava distraída com mil coisas em pensamentos, sempre soube que seu pai não gostava de si, mas por que fazer algo assim? A parte do lupina de alguém era a coisa mais preciosa que podia ter, e mesmo assim ele tirou sem permissão.

Anos atrás, de um dia para o outro, tudo se tornou ainda pior, sua mãe que era a única que ainda trocava uma frase ou outra deixou por completo qualquer interação com a menina e desde então nem mesmo ela a aceitava, se é que algum dia aquela mulher a aceitou.

- Para com isso Lisa! - se repreendeu passando as mangas do casaco no rosto para secar as lágrimas que já caíam há um bom tempo, amarrou seus cabelos cinzas escuros em um rabo de cavalo e olhou em volta. - Que merda, andei demais! - balbuciou quando viu que já estava dentro da floresta da Mamba, uma das piores do sul.

Começou a andar pelo caminho contrário, pensando que talvez assim conseguisse reconhecer o caminho de retorno.

- Onde pensa que vai, pequena? - ouviu uma voz grossa e tenebrosa trás de si.

Um lobo pouco maior que ela a olhava com os olhos vermelhos e famintos enquanto mostrava seus dentes afiados. Com certeza o lobo não pertencia ao seu clã.

- O que você quer? - perguntou.

- Brincar! - com uma adrenalina repentina e grito de alerta em seu cérebro, correu para outro lado sem prestar atenção no caminho em que ia.

Sem suas habilidades seria uma presa fácil para aquele lobo desconhecido.

 Alphas Spiritis  _liskook_Onde histórias criam vida. Descubra agora