capítulo quatro - suspeitas

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KIARA'S POV

Fazia uma semana que eu e JJ estávamos trabalhando na dinâmica da orientação. Hoje já era sábado e não tínhamos tentado matar um outro! Apenas verbalmente, o que é inevitável. Mas tirando as provocações e ofensas nem sempre saudáveis, estávamos nos dando bem, o que era surpreendente. Surpreendente também era o fato de que JJ sabia muito mais do que demonstrava. Ele era inteligente, e as vezes fazia parecer que não era só pra continuar nas últimas horas de orientação. O que não fazia o menor sentido já que ele não me suporta.

Entro na biblioteca ainda com os fones no ouvido e observo JJ sentado na última cadeira do fundo. Ele não curtia muito a biblioteca, mas era o único lugar que a gente tinha pra estudar dia de sábado sem sermos interrompidos pelos barulhos dos alunos participando animadamente dos seus clubes. Ele está com aquela roupa casual de sempre. Parece que só tem uma. Me aproximo da mesa e ele não tira os pés do tampão nem ajeita a postura. Olho duramente na sua direção e ele apenas dá de ombros indicando a cadeira vazia a sua frente com a cabeça. Reviro os olhos e me sento colocando os cadernos e livros que usaríamos hoje.

- Eai, dona do meu sofrimento semanal, qual será a minha tortura de hoje? - ele me recebe com isso no lugar de um "Oi" ou algo como "Boa tarde!" como alguém normal faria. Mas eu estou falando com JJ Maybank e esperando comportamentos normais. A doida aqui só pode ser eu por pensar isso.

- Você é tão engraçado, JJ, meu Deus. Iremos estudar pouco hoje, então pode tirar seus pés de cima da mesa. - retruco com cara de poucos amigos e empurro seus pés pra fora do tampão da mesa com o caderno. Ele me olha como se estivesse ofendido e joga o peso pra trás da cadeira, balançando. Será que esse cara não consegue ficar parado um minuto sequer?
- Seria um milagre? Kiara Carrera vai fugir do cronograma? - ele coloca uma surpresa dramática na voz e eu preciso de todo o meu autocontrole pra não mandar ele pro inferno. O "cronograma" era algo que eu tinha feito pra orientar a gente durante os dias de monitoria. As evoluções dele, os assuntos mais difíceis, os mais fáceis, o que estudaríamos cada dia. Para ser sincera eu faço um cronograma planejado pra literalmente tudo que eu posso. Organização nunca é demais.

- Só por isso vou fazer você estudar uma matéria a mais de matemática.
- Eu te desafio a um acordo. - ele sugere levantando aos mãos como estivesse se rendendo. Indico com o queixo para que continue e ele se levanta para pegar um tabuleiro de xadrez com um saquinho de peças e coloca na minha frente. - Se você ganhar de mim três vezes nas cinco partidas, eu estudo apenas matemática até a próxima semana. Mas se eu ganhar, vamos mudar o cronograma e reduzir as matérias de exatas pela metade. O que você acha? - ele faz a aposta e levanta as sobrancelhas me desafiando. Como se eu fosse dar ao seu ego o prazer de me ver negar um desafio.

- Fechado. Espero que você se lembre que eu era capitã do clube de xadrez quando estávamos nele. - comento distraidamente enquanto arrumo as peças pretas do meu lado do tabuleiro. Eu nunca jogava com as brancas. Me dava agonia.
- E você só conseguiu essa vaga depois de quase me expulsar do clube. - ele rebate e eu tenho que me segurar pra não rir. Levanto o olhar das minhas mãos e vejo o canto de seu lábio se puxando um pouco enquanto ele fingia concentração no seu lado do tabuleiro. Aquele dia realmente foi engraçado. Eu tinha tentado convencer o professor que supervisionava o clube de xadrez que o JJ estava passando drogas ali dentro. Quase deu certo, mas aí ele conseguiu colocar dois pacotes de maconha na minha mochila, tirou foto e me ameaçou me expulsar de todos os clubes se eu não desmentisse a história pro seu lado. Um belo de um manipulador que ele é, isso sim.

- Não sei porque você achou que conseguiria convencer o professor Cláudio que logo eu, seu aluno preferido, estava vendendo droga no clube de xadrez. - JJ comenta enquanto faz a primeira jogada no tabuleiro. Dou risada da sua prepotência e faço a minha.
- Acho que você se garante demais no quesito "aluno preferido". - devolvo e no próximo movimento como uma de suas peças. Ele me olha irritado e faz sua jogada.
- Talvez eu tenha aprendido a conquistar o amor deles ao invés do medo.
- Ei! A professora Andreas gosta de mim, sim! Eu nunca assustei ela. - respondo um pouco na defensiva e dois movimentos depois JJ come minha peça.
- Claro que gosta, vocês duas são praticamente iguais. Baixinhas, irritadas e manipuladoras. Ou vocês iriam assustar uma a outra ou serem melhores amigas ne.
- Acho que você devia prestar mais atenção no jogo, senhor sabe tudo. - devolvo seu comentário comendo mais uma peça sua do tabuleiro. Ele para de sorrir e se concentra no jogo.

still hate me? - [au jiara!]Onde histórias criam vida. Descubra agora