still hate me? - [au jiara!]

capítulo seis - um novo normal

KIARA'S POV

  Eles tinham sido presos. É a primeira notícia que eu vejo no meu celular quando JJ chega comigo em casa. Pope e Cleo tinham ido pra prisão e eu não conseguia sentir remorso de ter feito aquilo acontecer. Eu tinha tido uma baita crise de pânico depois da carnificina, mas não me sentia culpada de ter ajudado a polícia prender eles. Eles mereciam. JJ também sabia disso, porque apesar do olhar de pena que ele lançou a Pope no último segundo, eu soube que ele não tinha se arrependido. Mas eu tinha feito algo errado. Eu não imaginei nem previ que esse tal de R.C ia querer que eu e o JJ nós matasemos. Como eu ia adivinhar? Esse plano doentio foi além das minhas experiências familiares traumáticas. E foi por isso que eu tinha chamado JJ pra conversar aqui em casa, a sós. John B e Sarah estavam muito emocionados, mas entenderam completamente quando a gente disse que ia embora e voltava pra terminar de conversar na escola. Porque apesar de eu ter matado uma pessoa hoje, eu ainda tinha escola no dia seguinte. Parecia piada, mas eu ainda precisava me formar no colegial.

  - Então, sobre qual das coisas que aconteceram você quer conversar? - JJ pergunta colocando as mãos nos bolsos da calça e dividindo o peso do corpo, claramente desconfortável por estar na minha casa já que ele nunca esteve aqui antes. Um quase sorriso pela cena começa a nascer em meus lábios e eu vou até a despensa para pegar uma toalha e algumas roupas masculinas que eu tinha guardado.
   - Não, essas roupas não eram do meu pai e não, não eram de um antigo namorado. Na verdade são minhas. Eu também compro roupas masculinas e uso de vez em quando por que é mais confortável. Toma, essas estão novas. - explico antes que ele comece a perguntar e vejo que seu rosto fica ainda mais confuso. - Tem uma toalha no quarto de hóspedes lá encima. O banheiro é dentro do quarto, fica a vontade. - concluo indo até às escadas tomar um banho no meu quarto e vejo que JJ continuava parado com a trouxa de roupas na mão intercalando o olhar entre mim e elas.

  - Mas? A gente não ia conversar? Eu não tô entendendo.
  - Vamos conversar sim. Mas depois de cada um tomar banho e depois que essas roupas sujas estiverem queimadas. Vai logo. - explico brevemente e JJ sobe as escadas atrás de mim ainda um pouco confuso mas sem reclamar. Indico a ele o quarto de hóspedes e entro no meu. Tranco a porta e tomo um longo banho quente. Eu não conseguia me sentir relaxada nem debaixo da água. Na verdade, a sensação de sufocamento ainda estava presente na ponta da minha garganta. Era agoniante. Saio do banho rapidamente e vou repassando a conversa que eu vou ter com o JJ na minha cabeça enquanto coloco as roupas sujas de sangue num saco e as armas encima da penteadeira. Escuto batidas na porta e resolvo deixar meu cabelo solto. Mané fazer trança uma hora dessa, Kiara, olha tua situação!

  - Er, tá ocupada? O que eu faço com as armas? - JJ pergunta com duas pistolas com silenciador em uma mão e uma calibre 12 na outra. Tento não achar a cena engraçada por conta da sua cara de cão assustado, que não combinava nem um pouco com seu peitoral de músculos nu na minha frente. Pego as armas da sua mão e coloco na minha penteadeira também. Eu ia cuidar delas mais tarde.
  - Cadê as roupas?
  - Dentro do banheiro ainda, porque?
  - Coloca dentro de um saco e desce. E coloca uma camisa. - provoco dando um soquinho no seu ombro enquanto passo por ele indo em direção as escadas e acho que consegui ver seu rosto ficar vermelho.

  - Pronto, o que a gente faz com isso agora? - JJ pergunta jogando o saco de roupa suja ao lado do meu e sentando no sofá bem próximo de mim. O sofá era enorme, e tinha espaço de sobra, mas ele estava bem perto de mim do mesmo jeito. Seguro a vontade de pedir por espaço e tento me concentrar no que iria acontecer agora.
  - Agora a gente joga na lareira, assiste as provas do crime queimarem e conversamos sobre o que aconteceu. Necessariamente nessa ordem. - explico o mais breve possível e ele assente. Foi fácil.

  JJ levanta, joga seu saco de roupas na lareira, joga o álcool que estava encima da mesinha na madeira e ascende o isqueiro. Jogo o saco com as minhas roupas quando o dele começa a queimar e volto a me sentar no sofá observando as chamas arderem e absorverem o plástico e o tecido molhado com sangue. JJ se senta do meu lado e dessa vez eu não me sinto sufocada. O aperto na garganta devido a crise de ansiedade estava passando, bem como Sarah disse que aconteceria depois de algumas horas.
  - Tudo bem. Vamos por uma sabatina de tópicos? - sugiro um jeito mais fácil de conversar virando o corpo totalmente pra ele e seu rosto parece ficar mais bonito com as chamas iluminando de perfil. Ele se vira pra mim e me encara. Ok, iria ser uma conversinha complicada.
  - Debate expresso. Não sei lidar com problemas sendo resolvidos por conversas.
  - Nem eu. Então vamos lá.