Precisamos sair antes do hotel vir abaixo. Mas eu não posso
simplesmente deixar essas pessoas serem sugadas até secar pelos anjos-escorpiões. Arrastar a escada de mão para cada tanque e lentamente tirar cada pessoa paralisada poderia levar horas. Puxo minha espada do anjo do laboratório. Corro até as colunas fetais em frustração, segurando a espada como um bastão. Oscilo a lâmina para um dos tanques de escorpião. É principalmente para soltar a minha frustração e não espero que isso faça outra coisa além de ricochetear. Antes que eu possa sequer registrar o impacto, o tanque grosso se estilhaça. Fluido e vidro explodem no piso de concreto. Eu poderia me acostumar com esta espada. O feto escorpião destrava de sua vítima. Ela guincha enquanto cai. Em seguida, cai pesadamente e se contorce nos cacos de vidro, sangrando por toda parte sobre eles. A mulher magra se dobra no fundo do tanque quebrado. Seus olhos vidrados encaram o ar. Eu não tenho ideia se ela está viva, ou se vai estar em melhor forma uma vez que o veneno se desgastar. Isto é o melhor que posso fazer por ela. O melhor que posso fazer por qualquer um deles. Tudo o que posso esperar é que de alguma forma, alguns deles vão se
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recuperar o suficiente para sair daqui antes que as coisas se tornem explosivas demais, porque não posso arrastá-los pelas escadas. Corro até os outros tanques que estão prendendo as vítimas e os esmago, um após o outro. Fragmentos de água e vidro pulverizam todo o laboratório subterrâneo. O ar se enche com o guincho de fetos escorpiões se debatendo. A maioria dos monstros nos tanques ao redor acorda e se contrai. Alguns reagem violentamente e batem com força contra suas prisões de vidro. São os que estão mais plenamente formados, me encarando através das membranas venosas de suas pálpebras com o entendimento de que estou os saqueando. Enquanto estou fazendo isto, uma minúscula parte de mim considera correr sem Paige. Ela não é realmente minha irmã mais, é? Ela certamente já não é mais impotente. — Ryn-Ryn? — Paige está chorando. Ela chama por mim como se incerta se eu iria cuidar dela. Meu coração se contrai como se uma mão de ferro estivesse o espremendo como punição por pensar em traí-la. — Yeah, docinho, — digo na minha voz mais tranquilizadora. — Temos que sair daqui. Okay? O edifício sacode de novo e um dos cadáveres suturados tomba. A boca do garotinho se abre quando a cabeça bate no chão, revelando dentes de metal. Paige parecia morta assim antes que começasse a se mover. Há alguma chance de esta criança poder estar viva também?
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Um pensamento esquisito surge na minha cabeça. Raffe não dizia isso às vezes, que nomes têm poder? Paige despertou porque eu a chamei? Esquadrinho os corpos encostados na parede, seus dentes brilhantes e unhas longas, seus olhos descoloridos. Se eles estão vivos, eu iria acordá-los se pudesse? Eu me afasto e esmago minha lâmina em outro tanque. Não posso deixar de ficar contente que não sei os nomes das crianças. — Paige? — Minha mãe caminha até nós como se estivesse em um sonho. Ela tritura cacos de vidro e tece para evitar os monstros se debatendo como se visse este tipo de coisa regularmente. Talvez veja. Talvez no seu mundo, isto seja normal. Ela os vê e os evita, mas não está surpresa por eles. Seus olhos são claros, sua expressão cautelosa. — Bebê? — Ela corre até Paige e a abraça sem qualquer hesitação, apesar do sangue e sangue coagulado a cobrindo. Minha mãe chora em grandes e angustiados soluços. Pela primeira vez, percebo que ela tem estado, pelo menos, tão preocupada e chateada sobre Paige quanto eu. Que não foi por acidente que ela acabou aqui, no mesmo lugar perigoso, que eu caminhei para encontrar Paige. Que apesar de seu amor frequentemente se manifestar de maneiras que uma pessoa mentalmente saudável não conseguiria entender — podia até declarar abusiva — isso não diminui o fato de que ela se importa. Engulo as lágrimas que ameaçam me afogar enquanto eu assisto a minha mãe fazer muito barulho sobre Paige.
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Mamãe dá uma boa olhada em Paige. O sangue. Os pontos. As contusões. Ela não comenta sobre nenhum deles mas faz ruídos chocados e murmura enquanto acaricia o cabelo e a pele de Paige. Então ela olha para mim. Em seus olhos há uma acusação dura. Ela me culpa pelo que aconteceu com Paige. Quero dizer a ela que não fiz isto com ela. Como ela podia pensar isso? Mas não falo nada. Não consigo. Só consigo olhar de volta para minha mãe com culpa e remorso. Olho para ela do jeito que ela olhou para mim quando Papai e eu encontramos Paige quebrada e aleijada todos aqueles anos atrás. Eu posso não ter segurado a faca para Paige, mas esta coisa terrível aconteceu no meu turno. Pela primeira vez, me pergunto se minha mãe realmente foi responsável pelas costas quebradas de Paige. — Nós temos que sair daqui, — diz Mamãe com seu braço protetoramente em torno de Paige. Sua voz é clara e cheia de propósito. Olho para cima para ela com surpresa. Antes que eu possa me impedir, esperança floresce dentro de mim. Ela soa cheia de autoridade e confiança. Ela soa como uma mãe pronta e determinada a conduzir suas filhas para a segurança. Ela soa sã. Então ela diz, — Eles estão atrás de nós. Esperança murcha e morre dentro de mim, deixando um caroço duro, onde meu coração deveria estar. Eu não preciso perguntar quem ―eles‖ são. De acordo com a minha mãe, ―eles‖ têm estado atrás de nós por tanto tempo quanto posso me lembrar. Sua declaração
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protetora não é um passo em direção para assumir a responsabilidade por suas garotas. Aceno com a cabeça, tomando o peso das minhas responsabilidades familiares de volta nos meus ombros
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AngelFall
FantasyEssa é uma obra de Susan Ee O apocalipse chegou em Angelfall. Faz seis semanas desde que os anjos do apocalipse desceram para acabar com o mundo moderno. Gangues de rua agora governam o dia, enquanto o medo permeia a noite. E quando uma garotinha é...