Capítulo 02 - Gustavo

2.4K 129 0
                                    

Não entendo por que aceitei vir. Deve ser porque é o casamento do meu melhor amigo, e eu não poderia perder... mas por que ele quer se casar nesse fim do mundo?

A cidadezinha mais afastada de Santa Catarina, sem sombra de dúvidas. "Tem cachoeiras, rios, mar e trilhas, mano."  Olhando ao redor só vejo casas quadradas e mercearias lotadas de bêbados.  E uma igreja gigantesca, em frente à praça. Onde será o casamento, em uma semana.

E também onde irei nesse sábado, já que Marcos quer que eu conheça o padre. Aparentemente é algo que os padrinhos fazem. Fico repetindo a mim mesmo o motivo de estar ali, para não sair correndo daquela construção gótica e banhada em sangue historicamente.

Quando entro, desconfortável, procuro em todos os lados até que meu olhar recai em uma silhueta. Uma moça sentada na minha frente, usando um coque frouxo,  uma regata rosa com uma alça de tirinha, e a nuca exposta, em uma postura perfeita. Não sei o porquê, mas meu olhar fixou naquela garota.

Pode ser o tédio do lugar. Nunca fui religioso, nem jamais entrei em uma igreja. É, com certeza é isso. Tédio.

📖

(Lara)

Me sinto observada. Ao ir para a missa, já imaginava que aconteceria. Depois de certas discussões com meu noivo, criei o costume de evitar roupas que mostrem muito do meu corpo. Não, ele não proibia, eu apenas queria evitar que zombasse do meu corpo, que eu já sabia muito bem o quão sem graça era.

Botei uma roupa simples, mas um pouco menos "virgem", como Antônio havia dito.  Apenas uma regata com jeans colado.  Mas por algum motivo sentia uma sensação diferente, que me fez procurar ao redor durante a reza, algo que não costumo fazer.

Me deparei com um homem me encarando, logo atrás de mim.  A primeira coisa que notei foram seus olhos cor de mel, depois, vi seus cabelos trançados, uma pele ébano, uma boca grande e carnuda, e ombros extremamente largos. A segunda coisa foi seu corpo, mesmo sentado no banco da igreja eu podia ver pela camiseta branca que era musculoso, e que veias grossas saltavam de sua pele em seus pulsos. Fico imaginando onde mais eram saltadas assim. Talvez em sua cintura, descendo para a virilha...
-Você está bem? - pergunta o homem, com um sorriso de lado. Mais um detalhe perfeito: dentes lindos e um sorriso avassalador.
-Si...sim, estou. Desculpe, não conheço você. E eu conheço todo mundo nessa cidade... é novo aqui? - me recupero rápido, ainda bem. Não sei o que houve comigo.
-Não gatinha. Estou na cidade por um amigo, mas em um mês já estou indo embora. Não passo mais um segundo nessa cidade vazia e chata!
-Chata? - me surpreendo com o rumo da conversa, mas não posso deixar de defender meu lar. - Aqui temos praias lindas, cachoeiras, rios, trilhas, cavernas e um monte de lugares maravilhosos. Um jardim do Éder, basicamente.
-Não vi nada disso por aqui. A coisa mais chamativa é essa igreja imensa e assustadora.
-não fale assim... olha, ela mesmo tem maravilhas escondidas. Venha comigo! - digo, levantando.
-Vamos sair no meio da reza? - o rapaz levanta a sobrancelha.
-Estão todos de olhos fechados, não? Venha!

Eu Vou Fazer Você GostarOnde histórias criam vida. Descubra agora