Capítulo 9

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21 anos atrás.

Lionel saiu do estabelecimento pela porta dos fundos sem olhar para trás, de cabeça baixa sem saber o que fazer ou que atitude tomar, tinha muita vergonha de voltar para casa e ter que enfrentar a realidade de seus atos.

Caminhou por uma das ruas escuras de são Paulo com as duas mãos nos bolsos, respirou fundo e ergueu a cabeça deixando o vento gelado da noite invadir seus pulmões, precisava ser forte e resolver sua vida.

Um último passo o direcionou para fora do beco em sentido a avenida, mesmo sendo tarde algumas pessoas ainda caminhavam por ali perdidas em seus próprios dilemas, carros a toda velocidade passavam pelas poças de água, resquícios da chuva do dia anterior. Um estabelecimento ainda aberto por ali chamou sua atenção, ficou parado em cima da caçada esperando o sinal fechar para poder atravessar a rua em segurança.

- Boa noite amigo. _ um homem que deveria ter no máximo seu vinte e cinco anos se aproximou.

- Uma cerveja por favor. _ pediu puxando uma cadeira de madeira para se sentar, o atendente se afastou o deixando ali sozinho. Seus olhos verdes analisam as pessoas a sua volta, um casal em uma mesa ao canto conversava enquanto comiam batata frita, a frente da mesa escolhida por ele, dois homens bebiam algo que não soube identificar o que era, só conseguia ouvir quando falavam em voz alta sobre o jogo de futebol daquela tarde. Saiu da sua análise quando uma cerveja gelada foi deixada sobre sua mesa.

- Algo mais? _ perguntou anotando algo em um bloquinho branco em suas mãos.

- Não. _ respondeu deixando claro que preferia ficar sozinho, depois de deixar a comanda sobre a mesa ele se afastou voltando para os seus afazeres, um homem idoso fazia sinal para o atendente.

Uma televisão ligada ao fundo do estabelecimento, rodava o jornal local anunciando que já era mais de onze horas da noite, sua garrafa de cerveja a muito já se encontrava vazia. Puxou do bolso uma nota de dez reais amassada, deixando sobe a mesa para pagar o consumo, saiu voltando para as ruas escuras. Lilian deveria estar preocupada.

- Se correr, consigo pegar a última condução. _ falou para si mesmo se apressando a andar pelas ruas e desviar de alguns carros que dobravam a esquina, sentia o frio em sua pele, e escondeu suas mãos nos bolso para se aquecer, caminhou até o fim da linha.

Depois de aguardar vinte minutos, o ônibus que o levaria para casa deu partida, escolheu um banco vazio ao fundo, o trajeto serviria apenas para que seus pensamentos o julgassem e o fizessem lembrar da péssima decisão.

Era mais de meia noite quando chegou em frente a sua casa, tudo estava silencioso, provavelmente todos deveriam estar dormindo pelo horário, procurou pelas chaves em seus bolsos e abriu a porta tentando fazer o mínimo de barulho possível.

Estava enganado, Lilian estava acordada sentada em sua cama, escorada na cabeceira procurando algum conforto, suas pernas estavam cobertas por um lençol.

- Não devia estar me esperando. _ ele falou sem emoção na voz ao encontrar a esposa a sua espera.

- Está aí algo que concordamos, você não merece as minhas muito menos as preocupações da sua filha. _ Lilian tinha o amargor na voz. – Qual foi a merda que você fez dessa vez? o que vou ter que vender, ou pedir a alguém. A quem vou ter que me humilhar para poder dar uma vida digna a nossa filha Leonel. _ ele engoliu seco procurando como falar, sentia a dor e a vergonha na voz da esposa.

Ela se levantou prevendo que dessa vez era pior do que ela imaginava, Lilian se maldiçoava toda a vez que as palavras do seu pai surgiam em seus pensamentos. Quantas vezes ele lhe implorou para que ela não se casasse com ele alegando que ele destruiria sua vida, o porquê nunca o ouviu?

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