XX - Uma Segunda Notícia Deveras Inesperada...

382 45 6
                                    

- Parabéns porque você vai ser pai.

Demorou alguns segundos até essas palavras fazerem sentido na cabeça do moreno. E quando fez, o peso dessas palavras somados à adrenalina que ainda corria por seu corpo, fez Miguel perder os sentidos e desmaiar. Pegos de surpresa, Cas que ainda abraçava o irmão pela cintura e Dean que estava com o braço no ombro do mais velho foram pegos de surpresa, não conseguiram segurá-lo e foram direto para o chão junto com ele, provocando um sonoro barulho quando os três caíram.

A doutora Tran apenas revira os olhos e com toda a calma do mundo solicita uma maca para socorrer o alfa mole ali no chão. Depois de algum tempo, Miguel acorda e vê que está deitado em uma maca do hospital.

- O que acontec... - Sua voz falha assim que ele vê Dean segurando uma bolsa de gelo contra a cabeça e Castiel com um curativo na testa.

- Olha, Miguel. - Cas começa a falar. - Quando você for desmaiar, nos avise para dar tempo de te segurar ou deixar você cair sozinho. - Sendo seguido de um aceno de cabeça de Dean concordando com seu ômega.

- Pode não parecer, mas você pesa um bocado, Miguel. - Dean completa.

- Me desculpem... Mas o que aconteceu? Por um momento eu ouvi a Linda dizer que eu ia ser pai... - o moreno diz dando uma risada meio nervosa.

- Mas é verdade seu alfa bobo. - A médica aparece de surpresa, assustando os três ali presentes. - Você realmente vai ser pai.

Os três ali ficam sem reação, principalmente Miguel, que estava com o queixo caído.

- Acho que vou trazer um lenço para você não babar no chão, Novak... - A médica alfineta o alfa moreno. - Nao queremos que ninguém se acidente escorregando nela, não é mesmo?

- Mas... Como isso é possível, Linda? - O mais velho conseguiu se recompor e fazer sua voz voltar. - Você percebeu que ele é um alfa, certo?

- Claro que eu percebi que ele é um alfa, Miguel. - A médica estava a beira da exasperação. Pelo jeito o moreno esqueceu de uma conversa que eles tiveram há alguns anos. - Por favor os três podem me seguir até o meu consultório? O jovem Sam está repousando e só acordará mais tarde o que nos dá tempo de tirar todas as dúvidas de vocês.

Os três acompanham a médica até uma sala mais a frente no corredor principal do hospital. Ela fez sinal para que eles se acomodassem, se sentando em sua cadeira de frente a eles logo em seguida.

- Antes de mais nada, eu peço que vocês me ouçam sem interrupções, ok?

Os três concordaram com a cabeça. Linda dá então um profundo suspiro antes de começar.

- Vocês sabem que há alguns séculos atrás, a nossa raça, a raça humana contraiu um vírus tão forte que em pouco tempo quase que toda a nossa raça foi extinta. Os cientistas da época tentaram encontrar uma cura, algum tipo de vacina que se não pudesse matá-la, pudesse pelo menos prolongar a vida de quem era infectado por ela. Pois bem, muita gente morreu em decorrência dessa infecção, até que um jovem cientista, pesquisando os efeitos da bactéria em animais, descobriu que a mesma não afetava os lobos, pois o seu poder de cura natural era tão forte, que expelia a bactéria do organismo do hospedeiro. Esse jovem cientista teve a idéia de tentar fazer uma vacina usando os anticorpos encontrados nos lobos , o que se mostrou um sucesso. Tempos depois, quando todos achavam que a bactéria estava erradicada, os que tinham recebido os anticorpos dos lobos, começaram a desenvolver certas habilidades que só os lupinos possuíam, tais como força elevada, velocidade acima do normal, cura acelerada e ter o olfato, o tato e o paladar extremamente aguçados, o que se mostrou ser um benefício e tanto. Mas como tudo tem o seu lado bom e um lado ruim, ganharam também uma característica incômoda: o cio dos lobos. A vacina não só tinha trazido uma cura, mas uma bênção para alguns e uma maldição para outros, achando que iriam virar os famosos lobisomens das histórias infantis. O que não aconteceu. Apenas essas características permaneceram. Os descendentes das pessoas tratadas com a vacina a uma certa idade começavam a apresentar as características distintas de um lobo. Vendo essa nova divisão de classes, foi estabelecido uma nova ordem social para a raça humana, tomando como base a mesma ordem de uma matilha/alcatéia de lobos: alfas, betas e ômegas. Alfas, sendo os líderes, mas como evitar a briga de alfas pela liderança de uma matilha? A própria natureza lupina se manifestou aí também, apresentando os alfas-superiores, que como o próprio nome já diz, eram superiores aos alfas regulares em todas as habilidades, os betas seriam os seres humanos normais de antigamente, sem nenhuma característica lupina e os ômegas seriam os reprodutores, que na teoria só serviriam para a propagação da espécie, esses últimos foram muito discriminados, pois os ômegas em sua maioria eram mulheres e poderiam se relacionar tanto com alfas quanto betas, porém não tinham a opção de escolherem seus parceiros, pois o cheiro liberado por elas durante o seu cio, deixavam os alfas fora de controle, os fazendo tomar a força as pobres ômegas, que não tinham forças para se defender.

Nesse momento, Linda se cala para tomar fôlego, e observa os três ali reunidos, cada um imerso em seus pensamentos.

- Bem... - Continua a médica. - Depois de concretizarem o ato com as ômegas, os alfas tinham uma necessidade de morder a violentada, criando assim um elo de sangue e possivelmente mental com ela, não a deixando escolha senão viver com o alfa que a marcou. Alguns cientistas tentaram entender o porquê desse comportamento agressivo e observando o acasalamento entre lobos, descobriram que os mesmos faziam isso, porém com uma diferença: o alfa cortejava a ômega e se ela o aceitasse, acasalava com ele e ela permitia a ele criar o elo com ela. Mas como a parte humana predominava sobre os sentidos lupinos, os novos alfas-humanos, aproveitando a força sobre-humana recém ganhada, continuaram com seu mau-caráter, tratando as pobres ômegas como objetos para se satisfazerem. Lógico que nem todos eram assim. Os cientistas descobriram também que a necessidade da mordida se dava apenas aqueles que eram compatíveis, de alguma forma predestinados um ao outro, o que se confirmou anos mais tarde com a teoria das almas gêmeas, que aos poucos deixou de ser apenas uma mera teoria para virar algo concreto e muito difícil de se realizar, visto a incontrolabilidade dos alfas perante o cio das ômegas, que as atacavam sem dó, muitas ômegas sofreram sem encontrar a sua alma-metade. Mas o incrível ainda estava por acontecer. Se acreditava apenas que as mulheres seriam sempre ômegas, mas aí veio a surpresa das primeiras mulheres que se apresentavam alfas. Até aí, tudo bem sabendo que em algumas alcatéias o líder da mesma era uma alfa-fêmea. Mas o incrível foi quando os primeiros meninos se apresentaram como ômegas. Esses garotos tinham todas as características masculinas, porém eles poderiam engravidar como uma ômega normal e tinham seu cheiro no cio mais forte e mais atraente que o das ômegas-fêmeas. E ao descobrir que os filhotes gerados por um ômega-macho seriam sempre alfas-superiores e mais fortes, levou a uma verdadeira caçada a eles. Nem sempre eram encontrados, por serem raridades entre os nascimentos, mas quando surgia alguma notícia sobre algum, os pais da criança faziam de tudo para protegê-los dos alfas mal intencionados, que chegavam ao extremo de sequestrar uma criança quando completava seis anos, época essa que se descobria a qual classe social que o mesmo pertencia, e o submetia a todos os seus caprichos sexuais. E foi sendo assim durante muitos anos, os pobres ômegas sendo vistos e tomados à força como se fosse troféus ou apenas genitores de filhotes para alfas. Mas com o tempo, se o nascimento dos ômegas-machos já eram raros, veio a se tornar raríssimo, algo como uma chance em dois milhões e o motivo disso acontecer jamais foi descoberto. E também quando ocorria, não havia mais aquela caça desenfreada ao pobre ser, pois muitos alfas de bem resolveram agir e punir quem cometesse qualquer ato contra a vontade de um ômega, inclusive com as fêmeas. Até foi criado um novo código de direitos civis visando a segurança de todas as classes.

- Isso a gente já sabe, Linda. - Agora era a vez de Castiel falar em uma pausa da médica para tomar fôlego. - Mas o que isso tem a ver com o fato do Sam estar esperando um filhote do Miguel?

Cas deu voz à pergunta dos três ali, esperando com expectativa o que a médica tinha a dizer.

- Bem... Tem tudo, Cas. Os relacionamentos entre alfas-machos é possível, porém nesse relacionamento, não é possível a geração de um filhote,  ao contrário de uma relação  alfa - macho-fêmea. Porém um detalhe foi esquecido com o passar dos séculos. Existe uma classe especial de alfa, que não são tão raros quanto os ômegas-machos, mas têm as mesmas características dos mesmos, como um forte cheiro inebriante e maravilhoso que se torna irresistível a outro alfa e a capacidade de gerar filhotes, para citar alguns. Mas uma diferença crucial é que eles não têm a lubrificação natural que nós ômegas temos, sendo necessário um cuidado maior do alfa companheiro na hora de consumar a sua união.

- Como isso é possível, doutora Tran? Nós saberíamos se alguém assim estivesse próximo a nós, certo? - A pergunta era de Dean.

- Teoricamente não, senhor Winchester. Pois essa classe, ela não é rara, é especial e muitos por aí o é sem saber que são.

- Peraí... Não entendi... - Diz Miguel, claramente confuso.

- O relacionamento entre alfas é mais comum entre alfas macho-fêmea, não sendo muito comum entre alfas-machos, o que não quer dizer nada, pois há relatos na história e na atualidade do relacionamento entre os do mesmo sexo, então o cheiro desse alfa especial é sentido pela alfa-fêmea como sendo o cheiro característico do cio do mesmo, visto que os alfas-machos é que têm o olfato mais apurado para distinguir um cheiro de cio diferente de outra pessoa que esteja próxima a ele. E quando um homem se apresenta alfa, em quase cem porcento das vezes ele escolhe como companheiro uma pessoa do sexo oposto, ou seja feminino e quase sempre ômega. Mas se um alfa dessa condição especial sente que há algo diferente com ele, um exame simples irá mostrar que ele tem todos os órgãos internos iguais aos de um ômega para a gestação de um filhote, porém esses órgãos ficam, vamos dizer meio que inativos, até o alfa despertar a sua outra condição, a de gerar filhotes e isso ocorre segundo os escritos e relatos antigos depois dos vinte anos e quando ele encontra o seu alfa alma-gêmea, o que foi o seu caso Miguel. Por isso que eu disse que não é possível sentí-los normalmente, e pode acontecer de um alfa conhecido de vocês estar casado com uma beta ou uma ômega e pertencer a essa classe especial sem saber.

- E essa classe especial, tem nome doutora? - Dean questiona a médica.

- Sim, senhor Winchester. É chamada de alfa-épsilon.

                           --oooOooo--

Enquanto os três estavam conversando com a doutora Tran, em uma quarto não muito longe dali estava Sam, já acordado e acariciando o seu ventre, tentando digerir tudo o que a médica havia explicado a ele um pouco mais cedo, logo após ele acordar, do porquê dele conseguir gerar uma vida. A princípio, Sam se desesperou por achar que ele estava enlouquecendo, mas a médica conseguiu acalmá-lo e garantiu que era natural o fato de ele ser especial. Passado o susto inicial, o jovem moreno já amava aquela pequena criatura que estava crescendo dentro dele. O problema na concepção de Sam seria se o seu alfa também amaria aquele filhote e não achasse que ele, Sam, fosse um aberração e o abandonasse.

- Senhor Winchester? - Sam foi interrompido de suas divagações por um enfermeiro. - O senhor está bem? Precisa de alguma coisa?

- Oh, acho que não... Ou melhor, um copo de água por favor.

- Já lhe trago e não se preocupe. O seu irmão e o seu companheiro daqui a pouco virão aqui, depois de conversarem com a doutora Tran.

Sam engole em seco. Não achava que estava pronto para encarar os olhares de Dean e de Miguel.

- Pensando bem... - Disse ao enfermeiro.

- Sim?

- Acho que eu quero um suco de maracujá...

Mas Sam duvidava que nem todo o maracujá do mundo o ia acalmar até a hora de encarar os dois alfas da sua vida.

Piscando marotamente e fazendo um sinal de que tudo ia ficar bem, o enfermeiro sai do quarto para buscar o suco do jovem alfa.

O jovem alfa pondera sobre como sua vida irá ficar agora. Será que Miguel vai ficar feliz com a notícia do filhote como ele ficou? Ou ele vai achar que ele é uma aberração? E Dean, como irá reagir a isso? Sam se martirizava a cada pergunta que vinha na sua cabeça. Agora que o elo entre ele e Miguel estava feito, ficar sem o alfa o iria destruir pouco a pouco e se Dean reagir mal a sua nova condição, ele também irá ficar em pedaços, pois o irmão era seu porto-seguro, era praticamente um pai para ele e Adam.

Sofrendo com tantas perspectivas negativas, o mais novo coloca a cabeça entre as mãos e começa a soluçar e não percebe quando uma mão gentilmente toca o seu ombro. Ao levantar os olhos cheios de lágrimas, ele encontra os olhos do enfermeiro que tinha trazido a bebida que o moreno tinha pedido e ao sentir o cheiro intenso de tristeza que o jovem exalava, não pensou duas vezes e sem que Sam esperasse, o rapaz lhe deu um abraço apertado, pois sentia que o menor precisava disso agora. Ao liberar o jovem alfa, ele sorri ao entregar a bebida ao menor e o encara com os seus olhos azuis-escuros em um claro sinal de que tudo ia ficar bem.
O rapaz limpa as lágrimas do mais novo e já ia sair, quando é detido por Sam:

- Mu-mui... to obri... gado... - O jovem conseguiu pronunciar entre os resquícios de soluços que o acometia.

- Não se preocupe, meu garoto. Qualquer coisa é só me chamar. Meu nome é Gadreel.

- Você ainda vai querer falar com uma aberração como eu?

Gadreel estancou na porta ao ouvir essas palavras tão duras do jovem.

- Hein? Por que você seria uma aberração, jovem Sam? - Os olhos do rapaz demonstravam preocupação para com o mais novo.

- Você sabe o que está acontecendo comigo?

- Sim. Você está gerando o milagre de uma vida. Deveria estar contente, campeão. - Gadreel foi até ele, e bagunçando os cabelos do moreno como se fosse um filhote. - Isso não pode ser considerado uma aberração, Sam.

- Mas você não entende, Gadreel. - O jovem já começava a chorar novamente. - Eu nem ômega sou.

- Sim, eu sei. - O enfermeiro diz com toda a naturalidade, abraçando o mais novo. - Você é de uma classe especial, Sam. Você é especial, garoto.

- Hã? Você sabe o que eu sou? - Sam murmura contra o peito forte do enfermeiro, absorvendo o cheiro é o calor dele, que estava tendo o efeito de acalmá-lo. O cheiro de Gadreel o era como o de Dean, trazia segurança e conforto.

- Sim. Você é um alfa-épsilon. E eu te invejo.

- Como é? Não entendi...

- Olha, eu te conto mas você tem que guardar segredo tá? - O maior pisca de um modo cúmplice, o que faz Sam sorrir pela primeira vez aquele dia.

- Tá. Fala então. - O mais novo se separa do calor aconchegante de Gadreel para fitá-lo cara a cara.

- Eu... - O enfermeiro estava corado. - Eu sou um alfa-superior e me relaciono com outro alfa e nós nos amamos. Ele é minha vida e a vida dele sou eu. Mas nossa felicidade seria mais completa se pudéssemos ter um filhote só nosso, mas quando eu pedi para a doutora Tran nos examinar, infelizmente nenhum de nós dois somos capazes de gerar uma vida, pois somos apenas alfas e nada mais. Por isso que acho que você e os ômegas-machos são especiais, devendo ser tratados com amor e respeito.

Encontro de Almas GêmeasOnde histórias criam vida. Descubra agora