Capítulo 09

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Faith foi diretamente para o quarto, Max a seguia. Era noite, mas
com os refletores ao ar livre, permitiam para ver nuvens gigantes de
neve flutuando em um padrão constante. Enquanto estavam jantando,
um dos criados acendeu a lareira. Momentos de uma realidade oculta
como se fosse uma visita da realeza em vez de uma prisioneira.
Mas ela estava presa dentro de um cartão de Natal. Como isso
poderia ser ruim? Que tipo de idiota se queixaria ou se sentiria triste
por isso? Ela ainda estava à espera de perder mais um sapato, para Harry
vir ardendo reivindicar o que era dele próprio, conseguir pagar com seu
corpo por todas as atenções que ele havia concedido. Depois de tudo,
ela era propriedade dele, um mau presente adiantado de Natal
concebido por seu irmão psicótico.
Max pôs a cabeça no seu colo, e ela distraidamente acariciou a
suave pele de ouro. Ele se convertera em sua sombra nas últimas
semanas, como se a vigiasse para se assegurar de que ela estava bem e
logo informar ao seu Amo como uma atualização do seu estado diário.
Levou um tempo para que o gato aceitasse a presença do cão, mas
agora Squish era perito em ignorá-lo. Ela sussurrou brevemente para o
gato quando ele entrou no quarto e foi deitar no travesseiro de Faith.
Em uma semana ele já estava completamente adaptado.
Meia hora ou mais passou, quando o trinco mexeu. Antes que
pudesse perguntar quem era, Harry entrou. Ele guardou a chave no bolso
e fechou a porta atrás dele. Na última vez que ela tentou se trancar, ele
decidiu manter sempre uma cópia da chave com ele. Foi um aviso para
ela lembrar de que não poderia mantê-lo afastado. Esta casa e tudo
nela era dele.
— Você está bem? — Não deveria ter acreditado na desculpa que
ela deu para todas as pessoas.
Faith encolheu de ombros e voltou seu olhar para a janela.
— Dói. Esta mentira. Fingir que sou sua noiva enquanto que sou
realmente sua prisioneira. Eles acham que tenho está uma grande vida
e está tudo é normal, mas eu sou como um animal em cativeiro. Não sei
se poderei suportar uma semana disto.
Arriscou-se a olhá-lo a tempo de ver sua careta de dor, e
imediatamente se sentiu culpada.
— Já disse isso, pode ter o que quiser aqui. Mas não posso deixá-la
ir. Não posso me arriscar que vá com a polícia atrás de Angelo.
— Ele é um monstro. — Disse em apenas um sussurro. — Não
posso entender por que você gosta de proteger alguém dessa maneira.
— Ele é da família. Não vou escolher um estranho sobre a família,
então, deixe para lá. Vamos à missa em uma hora, esteja pronta.
Saiu e fechou a porta atrás dele. Harry tinha razão. Não devia nada a
ela, mas ainda assim doía. E ainda, se era apenas uma estranha e a
família significava tudo, por que a protegeu de Angelo na cozinha? Por
que deu este quarto? Por que se preocupava com seu conforto em tudo?
O trajeto até a igreja foi silencioso, pelo menos no carro de Harty. O
corpo de Faith se inclinou para longe dele no assento do passageiro.
Não haviam se falado desde a conversa em seu quarto, e agora sua
mente estava em algum lugar longínquo, olhando a neve pela janela.
Harry imaginava que ela estava contemplando a possibilidade e a
oportunidade de escapar. Depois de tudo, era sua primeira vez fora da
casa desde que a trouxe.
Uma pontada de culpa o apunhalou. Ela tinha razão. Era um
animal cativo em uma jaula, supostamente para sua própria segurança.
Mas Angelo era o criminoso, e ela era a inocente, não importava quanto
Garry poderia querer ignorar a verdade.
Gina se sentou na parte de trás, apertada entre o tio Sal e a tia
Lily. Houve um sonoro suspiro no assento traseiro. Deve ser Sal, porque
ninguém mais na família poderia suspirar de uma maneira tão forte e
exaustiva.
— Lily não era italiana. — Sal falou finalmente, como se ele tivesse
meditando sobre o sangue irlandês de Faith durante o jantar. E
provavelmente havia o feito.
Sua rápida decisão sobre o problema irlandês o traiu quando tal
pensamento dominou sua mente. Pelo menos agora estava
reconhecendo sua própria hipocrisia, dado que sua esposa era ainda
tão bela como uma princesa nórdica. Não irlandesa, mas não italiana
tampouco. Havia sofrido sua própria parte em tortura quando ele a
levou para a casa, se as histórias familiares fossem acreditáveis.
Harry deu uma olhada em Lily pelo espelho retrovisor quando ela fez
um olhar incomodado e afastou o cabelo loiro.
— Contudo não sou italiana, Salvatore. — Fazia muito tempo que
tingia os cabelos desde que perdera a cor natural, mas ela se manteve
na luta contra a invasão dos abundantes fios brancos com a ajuda de
um profissional no salão de beleza.
— É verdade, querida. — Disse seguindo o assunto.
A verdade era que, uma vez que tiveram filhos, e todos saíram do
ventre dela com olhos negros brilhantes, o cabelo e tez de oliva, seus
antecedentes haviam sido perdoados no ato. Entretanto, uma de suas
netas era loira como Lily. Rodeada por todas as que eram mais
morenas, Angélica parecia como se tivesse sido adotada. Mas se a
família se dava conta, não importava. Depois de tudo, o aspecto de Lily
estava longe de ser um ato criminoso.
Sua Ma começou a ir a casamentos e os bebês a nascerem antes
que ela pudesse ter netos. Tornou-se um ponto importante para ela que
já não importava se saíam com sardas. Tudo o que queria era abraçar
bebês e os afagar.
Harry fez uma careta e olhou para Faith, que estava tensa. Havia
prometido que não teria que dar filhos para ele. E o disse a sério. Ele
não iria estuprá-la para manter as aparências para os familiares e não
a sujeitaria a uma inseminação, o que era muito até para ele. De
qualquer maneira, obrigá-la a carregar no ventre sua descendência
seria quase tão mau como a violação. Em certo modo, talvez pior. Eles
teriam que inventar uma história de infertilidade.
Todo este assunto girava fora de controle, muito à frente do
alcance de suas intenções originais. Manter Faith no calabouço cada
ano durante as festas teria sido menos problemático. Mas então ele
voltou a si. Sempre e enquanto Faith estiver em sua casa, não importa
aonde, não poderia ter uma vida normal. Estas foram coisas que ele não
considerou quando sua preocupação foi impedir seu irmão de matar
alguém que poderia salvar.
Angelo lhe dera uma obrigação, não um presente. Um pacote de
culpa e frustração. Tudo o que queria era ter Faith e cumprir cada uma
de suas fantasias destorcidas com ela, mas seu irmão deve ter recebido
todos os genes sociopatas. Harry não tinha coragem para seguir adiante
com uma vítima involuntária.
Estacionou o carro do outro lado da igreja e rosnou com desgosto
enquanto observava as pessoas em grupo correndo para a porta. A
missa noturna de véspera de Natal sempre ficava abarrotada de gente.
Apesar de que já fosse meia noite e a maioria das pessoas estava em
suas camas sonhando com confeitos e fadas, para os fiéis de San
Esteban, a véspera de Natal era a noite mais longa do ano. Até mesmo a
noite de Ano Novo não inspirava ficar acordado até tão tarde. Muito pelo
contrário era sobre beijos, champanhe, e iam dormir.
Ele deu a volta para ajudar Faith a sair do carro como um noivo
carinhoso deveria fazer. Ela ruborizou e olhou para outro lado quando
ele a pegava pela mão e a ajudava a sair, amparando-a quando ela
tropeçou nos três centímetros de neve. Sentiu a faísca entre eles? Seria
mais seguro para ela se não o fizesse. Se desse alguma indicação de que o desejava, iria estourar sua bolha protetora. Ele não seria capaz de
fazer promessas sobre o que faria ou não faria com ela então.
Faith sentou no banco na parte posterior da igreja, entre Harry e a
mãe dele. Sentiu os olhos astuciosos de Gina sobre os dois, e só Deus
sabia o que a mulher estava pensando. Provavelmente estava
fantasiando com um grupo de bebês. A ideia fez Faith estremecer. A
mão de Harry apertou mais a sua. Era tão frágil sentada ao seu lado, com
sua pequena mão confinada na sua bem maior.
Eles estavam na última fila dos bancos que a família havia
sentado. Angelo e Davide sentaram próximos um do outro praticamente
abraçados duas fileiras mais a frente. Angelo desfechou um olhar cruel
por uma vez ou duas durante a missa, mas cada vez, sua tentativa de
ameaçar foi interrompida ao ter que ficar em pé, ajoelhar, ler ou cantar.
Quando chegou o momento da Eucaristia, Faith não se moveu. A
boca de Harry roçou junto ao seu ouvido.
— Não vai comungar? Pode parecer mal diante da família.
— Não posso. — Sussurrou. — Eu não me confesso há muito
tempo.
— Não posso imaginar como poderia ter ofendido a Deus. — A
sinceridade da sua declaração a apanhou com a guarda baixa.
— Não me sinto bem a respeito. — Disse ela, com esperança de
finalizar a discussão. Não sabia o que poderia fazer se ele a obrigasse a
participar.
Ele concordou e soltou a mão dela para ir com o resto da família.
Caprice o esperou no corredor com um olhar devorador de homens no
rosto. Ela enrolou o braço no dele, guiando-o para a fila e mostrando
um olhar de superioridade para Faith.
Algo se retesou em seu estômago. Faith estava preocupada com
Caprice só pelo que poderia significar para sua segurança. Certo?
Certamente não estava preocupada que Caprice o poderia roubar
apoiada em uma atração equivocada. Querer Harry seria suicídio. Ele já
havia admitido claramente a natureza de seus desejos. A ideia de que
ele poderia querer outra gelou seu sangue.
A inapropriada atitude de Caprice foi interrompida quando
alcançaram a mãe de Harry. Gina voltou a olhar a Faith e logo sussurrou
algo a Harry.
Faith não se importava com o que a família pensava a seu respeito.
Ela era uma católica não praticante, mas não estava disposta a receber
o corpo e o sangue de Cristo, sem ter seus pecados purificados. Não
valia a pena o risco para sua alma. Que pensem o que quiserem. Esta
farsa estava durando muito tempo de qualquer modo.
Vendo os mafiosos participarem do ritual, ela se perguntou
quantos deles havia matado recentemente, espancado alguém ou
cometido algum outro delito. Perguntou-se se eles confessaram se assim
o fosse, o que possivelmente disseram ao sacerdote para absolvê-los por
seus próprios crimes?
Faith olhou a sua direita e viu que o tio Sal não se moveu do seu
lugar. Seu olhar culpado encontrou com o dela brevemente, e logo
desviou rapidamente. O resto da família estava na fila à frente. Até
mesmo Angelo e Davide, que viviam em pecado de acordo com a Igreja.
Ela duvidava muito que estiveram no confessionário, tampouco.
Quando Harry e a mãe retornaram, Gina se sentou junto a Faith e
apertou sua mão.
— Está tudo bem, querida. — Disse.
Faith olhou Harry que negou com a cabeça. Não queria saber qual a
mentira que ele inventara para sua mãe para acalmá-la.
A neve parou de cair em algum momento durante o serviço.
Quando eles saíram, as nuvens haviam se afastado e deixara a noite fresca e fria com estrelas que pareciam pedaços de gelo brilhantes e
cintilantes. Era apenas manhã de Natal, e ao invés de estar só em seu
apartamento com seu gato se compadecendo de si mesma, ela estava
rodeada de pessoas que de repente desejou que fosse sua família,
embora houvesse alguns facínoras entre eles. Era uma família. E apesar
de todos os defeitos e crimes, amavam-se.
As crianças correram à frente e começaram a fazer bolas de neve.
Uma das bolas de neve, lançada por um sobrinho de Harry, por pouco não
a acertou em cheio, só acertou levemente Faith na orelha. Todo mundo
parou e ficou olhando, esperando sua reação.
Ela deixou cair sua bolsa na neve e formou uma bola por sua conta
para devolver o tiro, atingindo Dante no ombro. A briga foi séria. Faith
se surpreendeu ao ver quão ágeis, Gina e o tio Sal poderiam ser quando
se tratava uma guerra de bolas de neve. A cruel cara de Sal derretia
com o jogo, e mesmo Angelo parecia menos grave e ameaçador. Por um
momento ela poderia pensar que estas eram pessoas normais, que
realmente só gostavam de espaguete.
Ela deu um passo para trás na brincadeira e observou Harry. Seus
olhos iluminados de alegria enquanto lançava e se esquivava das bolas
de neve. Era um dos poucos que não havia sido atingido. Ele era tão
lindo e decente à sua maneira. Por que não poderia ser real? Por que ele
não poderia amá-la como um homem normal? A autopiedade se
apoderou dela e uma lágrima deslizou de seus olhos, congelando na
metade do caminho.
— O que está fazendo você chorar?
Faith se virou e encontrou Gemma espreitando junto ao capô de
um Oldsmobile nas proximidades como um presságio de destruição.
— Sinto muito... O quê? — A irmã dele interpretou a
autocompaixão por algo mais sinistro.
— Você escutou. Meu irmão não é o santo que pretende ser. E acho
que você sabe. Se quiser meu conselho, fuja agora. Não confie nele. A
única coisa que sabe fazer é mentir e machucar as pessoas.
— Eu... Um... — O que dizer sobre uma declaração como essa? Não
era como se Faith não entendesse o recado. Era possível que ela
soubesse mais do que a metade das mulheres na família, assistira ao
assassinato antes de ser apanhada por Angelo na noite em que se
conheceram. Mas Gemma não era um dos cordeiros ingênuo, nem ela
estava contente em participar do código de silêncio da família.
A irmã de Harry olhava Faith diretamente. Uma vez que ela viu o que
estava procurando, disse:
— Ele matou meu marido. E suspeito que não tenha sido de forma
rápida.
— Por que ele faria...?
Antes que Gemma pudesse responder, Harry vagava por ali. Outro
sobrinho, Michael, o acertou na parte de atrás da cabeça com uma bola
de neve quando se voltou para o grupo.
— Golpe baixo! — Gritou por cima do ombro.
— Que seja! — Disse Michael. — Não há regras com bolas de neve.
A atenção de Harry voltou para Faith e sua irmã.
— Gemma. — Ele assentiu com a cabeça.
Mas seu rosto estava tenso, os olhos frios e apertados. Se Faith
tinha alguma dúvida antes, foi-se. Ele havia matado o marido de
Gemma. Ela deu um passo involuntário para trás e o agudo olhar de
Harry passou de sua irmã a Faith. Em um laivo fluido de energia, ele a
puxou pelo braço e a atraiu para ele em uma imitação de um abraço.
— Não faça nada estúpido. — Ele sussurrou no seu ouvido.
Faith ficou gelada.
Harry voltou sua atenção para sua irmã.
— Perdi alguma fofoca interessante? — Seu aperto tenso em Faith
com cada sílaba de sua boca, apesar de que parecia ser um ato
inconsciente de sua parte.
— Ela necessita conhecer nossas bases. Como toda maldita coisa
desta família retorcida. — Replicou Gemma.
— Não me provoque. — Disse Harry. — O que disse a ela?
Enquanto isso os membros da família deixaram cair às bolas de
neve e se aproximaram para mais perto para ouvir a confusão, à
exceção dos poucos adultos que levaram as crianças para longe dentro
de seus automóveis. Os outros paroquianos se foram durante a guerra
de neve, e o sacerdote se retirou à casa paroquial. Estavam somente os
membros adultos da família agora. E Faith.
— Não acredito que queira começar um escândalo agora mesmo. —
Gemma desafiou. — Não diante de toda a família.
— Estou seguro de que não sei o que quer dizer. — A advertência
no tom de voz de Harry era inconfundível.
— Vamos colocar desta maneira. Você é o único membro da família
que tenho cem por cento de certeza ser um assassino.
Houve um ruído surdo quando um corpo caiu no chão.
— Grammie! — Harry gritou.
— Ela está bem. — Sal assegurou quando alcançou Alba. — Ela só
desmaiou.
Gina fez o sinal da cruz.
— Não pode ser verdade. Meu Harry é um bom menino. Nunca faria
mal a uma mosca.
— Merda. — Murmurou Harry. — Emilio havia quebrado a
mandíbula de Gemma e algumas costelas. Ela estava um desastre na
noite em que veio a minha casa. E não era a primeira vez. Ele a teria
matado eventualmente, e nenhum de vocês fez absolutamente nada a
respeito!
— Olha o vocabulário! — Repreendeu tio Sal.
— À merda com o vocabulário. Emilio merecia morrer. Ninguém
toca em ninguém da minha família. Sendo casado ou não o mantêm a
salvo de mim se fizer mal a alguém a quem amo. Não me importa se não
seja assunto meu. — Ele soltou Faith e se dirigiu para o carro.
Gemma ficou no meio da neve como um anjo abandonado com a
boca aberta, incapaz de acreditar que a verdade havia sido falada.
Todos os outros foram para seus próprios carros. Talvez eles
estivessem muito cansados e usaram isso para pretender que as coisas
más não os faziam comportar-se de maneira diferente. Eles
provavelmente redefiniriam tudo como um monte de computadores e já
teriam se esquecido de toda esta desagradável discussão pela manhã.
De repente a noite estava tão fria que sugava a alma de cada um deles,
deixando apenas cadáveres congelados atrás.
— Sério? — Rezingou Gemma, seu fôlego fazia grandes baforadas
brancas no ar enquanto falava. — Ele mata o meu marido, e tudo o que
fazem é entrar em seus carros como se nada tivesse acontecido?
Harry parou e se voltou para o grupo.
— Emilio era um sacana.
— Se Harry não tivesse feito, eu teria feito. — Admitiu Sal.
— Nunca saberá o que me custou matá-lo. — A voz de Harry era
fragmentada. — Nunca. Pensei que me unir ao sacerdócio poderia
organizar o que estava em meu interior, mas depois de Emilio, não
pude.
— O que tem que precisava ser organizado antes de matar o meu
marido? O que poderia ter feito em sua pequena vida perfeita que o
deixou com um complexo tão grande para querer tomar as ordens
sagradas? Porque sei que não tem nenhum grande sonho de ser
sacerdote. — Gemma se voltou para Faith. — É esta a família que
deseja entrar? Pelo menos sabe quem é a família Styles?
— Sim. — Sussurrou Faith. — Eu sei.
Gina fez o sinal da cruz de novo.
— DISSE a ela? — Sal gritou.
Harry girou ao ouvir a voz rouca do tio.
— É claro que não. Mas não é como se os rumores não voassem ao
redor de nós. Estamos no século XXI. Não é como se ela soubesse os
detalhes incriminadores. Não mais que qualquer das outras mulheres
da família. E minha futura esposa é assunto meu. — Harry olhou furioso
para Faith, como se isto fosse sua culpa. Ou talvez ele estivesse a
desafiando a impugnar a mentira inocente que havia dito para encobrir
sobre as rachaduras e fazer as coisas bem de novo.
O que supunha que ela devia fazer? Fingir que não escutou o que
Gemma disse? Atuar de forma estúpida para retomar a encenação? Era
muito insultante fazer-se passar por essa idiotice rodeada por um grupo
de homens que pareciam como se tivessem saído do Goodfellas.
— Bom, demônios, por que não colocamos um anúncio no jornal,
para que os nossos assuntos sejam de conhecimento geral? Não era
assim quando eu era jovem. — Disse Sal.
Se olhadas matassem, Faith estaria morando com os peixes no
fundo do mar. Sabiamente, optou por não verbalizar o clichê. Não
queria se fazer de querida para o tio Sal, ele só precisava terminar ficar
em paz com sua família.
A viagem de volta para casa foi tensa. Lily olhava pela janela
enquanto Gina chorava em silêncio. Ambas as mulheres estavam
tentando, a sua própria maneira, tornar-se invisível, devido à raiva
demoníaca que saia de tio Sal no assento traseiro.
— Será melhor que não se transforme em uma carga para nós. —
Disse Sal.
Faith não se virou. Se havia pensado que não morreria nas mãos
de um membro desta família, estava brincando consigo mesma. Que
diferença fazia se fosse Angelo, ou tio Sal, Harry, ou algum capanga ao
acaso? Ela estaria morta sem importar o que acontecesse. Entretanto,
algo estúpido em seu interior queria obstinar-se à pequena esperança
que Harry a protegeria, estava preparado para a tarefa de salvá-la, que
havia algo nele que era bom e decente e não era como os outros. Algo do
nobre instinto que o moveu na direção da igreja e da oração, em lugar
do crime e da morte.
— Sal! — Sussurrou Gina. — É obvio que não vai ser uma carga.
Ela é a noiva de Harry. Ela é da família agora. Como pode dizer uma coisa
assim?
— Não a conhecemos desde então. Harry é melhor manter sua garota
na linha.
— Se há algum problema, fale com Gemma. Foi ela quem abriu a
boca grande. — Disse Harry. — E deixe Faith fora disto. Não estava
brincando quando disse que Faith era preocupação minha.
— Está me ameaçando, moço?
Faith abria e fechava as mãos no colo. Queria gritar. Queria
escapar na verdade. Nada a faria se sentir melhor do que dizer: “Não há
necessidade de se preocupar. Vi Angelo matar um pobre homem em um
beco. Harty e eu não estamos juntos de verdade. Sou sua prisioneira para
me proteger, imbecis”. Mas Faith tinha muito medo do que Harry poderia
fazer se perdesse o controle, se dissesse o que pensava. E a situação já
estava muito perigosa com Sal no momento. Não era uma família que
fazia ameaças vãs.
Já era bastante ruim que tivesse dito o que disse, admitiu que ela
não fosse uma flor ingênua como se supunha. Mas Gemma
quase atirou a verdade na sua cara. Mesmo se não soubesse de nada,
seria ridículo pensar que agora não o fazia. Era preferível que a considerassem uma possível responsabilidade do que uma possível
idiota.

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