Quatorze.

4 0 0
                                    

Eu decidi levar a Sofia pra minha casa, nunca deixaria ela ficar sozinha daquele jeito. Dei um banho nela e coloquei ela pra dormir no sofá, eu ainda tô na casa do Nate e divido a cama com meu filho. Sofia sabe que eu tenho um filho mas nunca contei sobre o pai, sempre desconversei. Não posto fotos do meu filho, prefiro não arriscar.

Acordei com a Sofia entrando no meu quarto. Ela estava com a maquiagem borrada e cara de sono.

- Não acredito que deixou seu irmão gostoso me ver assim - ela choramingou.

- Desculpa, dormir demais. - falei me sentando. O Ben ainda estava dormindo. Ela sentou na cama e olhou ele com carinho.

- meu Deus, ele é lindo - ela sussurrou. - ele é a cara do Jasen.

- que? Não.

- Claro que é - ela riu - não sei como você vai esconder essa criança.

- ele não deve ficar muito tempo - falei tentando manter a calma

- eu não sei - ela deu de ombros - mas não deve ficar mesmo

- você vai na festa?

- Vou. - Sofia falou confiante.

Sofia almoçou comigo e quando perguntei sobre o surto ontem ela disse que estava bebada demais e que a vida dela estava perfeita. Ela só foi ora casa na hora da festa, mas eu acabei não conseguindo ir. O Ben ficou com febre do nada e eu acabei tendo que cancelar, ela disse que iria levar uma amiga e que iria. Sofia nunca vai me contar o que tá acontecendo, ela vestiu uma capa de vida perfeita e não se abre mais. Sinto falta da minha amiga da escola, mas pensando bem, naquela época ela também não se abria.

- mamãe - Ben perguntou quando deitei pra fazer ele dormir. - Não vamos mais voltar pra casa?

- Não, amor. Por que? Não gosta daqui?

- eu gosto de ficar aqui por causa da Nanda, do tio Nate, tia Naya mas... - ele pensou um pouco. Parecia envergonhado - não gosto da escola.

- porque? - perguntei curiosa.

- eles ficam zoando porque o meu papai tá na lua - Ben corou - a tia disse que é impossível meu papai tá na lua. E disse também que eu não posso participar dos dias dos papais, vai ter um futebol de pais e filhos lá e eu não posso ir.

- ah meu amor - abracei ele - prometo que vou dar um jeito nisso, pra que papai se a mamãe pode jogar
Com você?

- eles vão machucar você, mamãe - ele parecia bem triste - eu não quero jogar.

- e se o Tio Nate jogar?

- ele já vai jogar com a Nanda - Ben abraçou meu pescoço - eu não ligo. No dia das mamães eu participo.

Depois que o Ben dormiu eu queria ligar pra escola e matar essa professora que fez meu filho sofrer, queria chorar, gritar, e bater todo mundo que magoou ele. Tomei um longo banho, e fui pra cozinha procurar alguma coisa pra beber. Eu vesti um short do pijama e uma blusa antiga que usava ora dormir. Só sequei meu cabelo e a cara de choro ainda estava lá. Me sentei no sofá com meu celular é uma grande taça de vinho. E então recebi uma mensagem.

" Amiga me perdoa - Sofia"

São quase uma da manhã, que merda ela fez? Então alguem socou a porta da frente. Corri pra atender, pra não acordar o Ben. Quando abri a porta tomei um susto quando vi o Jasen, ele estava com um boné virado pra trás, uma camiseta azul marinho e um short. Ele estava vermelho, ofegante.

- Ta fazendo o que aqui? - perguntei fechando a porta atrás de mim

- Quando você já me contar? Quando ia falar que eu tenho um filho? - ele falou alto e bem bravo - Me diz, Ayla. Quando você pretendia me contar dele?

- como... - toca cor do meu rosto deve ter sumido, tive que me encostar na parede pra não cair. Não pode ser. Isso não pode tá acontecendo. - quem...

- não importa quem contou, porra. - ele berrou e eu nunca vi ele assim antes - eu tenho um filho e nem mesmo imaginava isso.

- Você não tem filho - falei baixo - você gritando de madrugada prova isso - falei agora sentindo toda raiva do mundo cair em mim - ele é meu filho! Eu criei ele sozinha e vou continuar assim, ele não precisa de você - falei brava - nunca precisou e nunca vai precisar. Eu tentei contar pra você, mas você já tinha mudado de numero e me descartado como um nada - falei brava - Eu tive o pior ano da minha vida, passei por coisas que você nem imagina. Então não vem gritar comigo. Você não tem esse direito.

- Tudo teria sido diferente - ele falou passando a mão no cabelo desesperado - tudo seria diferente. - repetia como se fosse pra ele mesmo - filho da puta - ele falou dando um soco no vaso de planta destruindo tudo.

- Eu não preciso que você leve meu filho pro seu mundinho de fama, que faça todo mundo cair em cima dele porque ele filho de outra que não seja a Mandy, eu não quero que você entre na vida dela e faça ele sofre quando você decidir ir embora. Estamos muito bem sem você, Jasen. Não fode tudo como você faz com tudo na sua vida.

- você tá certa - ele falou com os olhos cheios de lágrimas. - desculpa pelo vaso - ele falou e uma lágrima escorreu e então ele foi embora. Mais uma vez partindo meu coração, mais uma vez destruindo meu sentimentos. Eu nunca vi ele chorando antes, mas talvez essa seja a coisa que mais tenha partido meu coração até agora. Meu deus, como ele pode ser bonito até chorando? Ele parecia destruído, eu destruí ele. Eu deveria me sentir vingada, mas não. Eu me sinto arrasada. Mas vai ser melhor assim.

Quando eu fui deitar ao lado do meu filho eu já não me sentia mais bem, é óbvio que o Ben precisa de um pai, isso é tão claro quanto a luz do dia. Meu filho grita pro uma figura paterna. Eu tento de todas as formas ser tudo pra ele, mas eu não sei se consigo. Ver ele tão feliz com a atenção do Nate sempre me deixa deprimida. Merda. Por que eu tô pensando nisso? Não é uma hipótese trazer ele pra nossas vidas.

O presente do acaso. Onde histórias criam vida. Descubra agora