02x14 Os Estágios

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Depois de quase uma hora de transporte público e mais alguns minutos andando até as estações específicas, Peter finalmente se encontrava no bairro Murray Hill, e a primeira coisa que percebera ao chegar é que teria sido mais rápido ter pego um Uber ou um Taxi até ali direto de sua casa, o que teria dado aproximadamente 20 minutos. É claro que o garoto tinha que ter ido a Estação Central para pegar seu uniforme, ouvir todos os avisos do professor Murdock e se despedir de seus amigos; mas ainda assim, o moreno estava em um misto de emoções, por um lado um pouco irritado pela distância que estava do seu local de estágio, mas principalmente o quão perto estava do mentor do Homem-de-Ferro; o Dr. Ho Yinsen, ele tinha arrepios só de pensar.
Andando após ter saído do ponto, olhando rapidamente no GPS para ter certeza aonde ia, o garoto relembra a extensiva pesquisa que havia feito no professor de origem Afegã que havia ajudado Homem-de-Ferro a torna-lo quem ele era hoje, o mesmo tinha sim um passado recente de construção e pesquisa de equipamentos de suporte para heróis, mas aonde ele era reconhecido mundialmente era na área científica; PhD’s tanto em medicina quanto em engenharia mecânica e física, diversos prêmios de diversas organizações, além de dois prêmios Nobels, de física e de medicina. Mesmo não sendo um herói, ou não parecendo ter muitas conexões com heróis, ele era sem dúvida impressionante.
Perdido momentaneamente em seus devaneios, Peter quase não nota quando chega ao complexo de apartamentos onde Dr. Yinsen teoricamente morava. Tendo pesquisado o local antes de pesquisar sobre o homem em si, Peter havia pensado que o Sr. Stark havia passado o endereço errado, já que pensava que o mentor do herói número 1 morava ao menos em uma das grandes casas que haviam mais para trás na mesma rua, não naquele complexo de apartamentos minúsculos. Mas ao pesquisar sobre o Doutor e conhecer sua origem humilde e seu próprio jeito de ser e de falar com as pessoas em entrevistas ou palestras, Peter podia ver que a personalidade do mesmo era bem diferente, se não oposta, ao do seu ídolo Tony Stark, o que não parecia soar algo tão ruim assim.
Adentrando o local, Peter rapidamente sobe alguns lances de escada em direção ao número de apartamento escrito no papel; como já eram quase 9:30 da manhã, não parecia ter muita gente no prédio, a maioria provavelmente na escola ou no trabalho, ele apenas conseguia ouvir algumas poucas vozes e algumas músicas quando passava por cada porta, até que ele chega no apartamento de número 304. Checando algumas vezes o número escrito no papel pelo Sr. Stark, em especial se certificando e que aquilo era um “4” mesmo e não um nove “9”, ele bate na porta que se abre com um ranger, estava destrancada. Colocando a cabeça para dentro ele olha para ver se há alguém;
— Alô!? Alguém em casa? – o garoto pergunta, mas não obtém resposta, olhando para o pequeno hall de entrada, ele se vira para observar alguns quadros na parede, reconhecendo rapidamente o cientista e duas mulheres, uma mais velha e outra mais nova em diversos momentos “pelo menos estou na casa certa” ele pensa – sou Peter Parker, da M.A, vim para o meu estágio!
O garoto lentamente adentra a casa, passando pelo hall de entrada e chegando até o que parecia ser a sala, mas diferente de uma sala tradicional, com a mesa de jantar e alguns sofás e poltronas, em vez disso ele encontra a pequena mesa de jantar encostada na parede entre duas janelas, e em vez dos assentos almofadados, ele vê vários tapetes e almofadas vermelhas com desenhos detalhados espalhados pelo chão, se lembrando da origem Afegã do cientista e do design tradicional. Olhando um pouco mais ele percebe um pequeno e antigo televisor encima de uma mesa perto das almofadas, um corredor provavelmente para os quartos e uma entrada a direita mostrava a cozinha e onde haveria provavelmente a dispensa.
Peter se sente mais confortável naquele lugar do que ele imaginava; ele nunca visitara a casa do Sr. Stark, mas pelos vídeos nas redes sociais que ele postava ela era gigantesca, e por ter sempre morado em lugares pequenos (ele achava, já que não lembrava onde havia morado com os pais em seus primeiros anos de vida) pensava que um lugar grande iria intimidá-lo, por isso estava feliz que o lugar era bem mais humilde do que havia previsto.
Peter pensa no que iria fazer; não tinha o telefone do Sr. Yinsen então ele poderia no máximo pedir para o Sr. Stark falar com ele enquanto esperava do lado de fora para que ele chegasse sem um pré-adolescente tendo invadido sua casa. O menino considera esse plano e estava prestes a sair, até observar uma prateleira com algumas coisas; pareciam troféus e prêmios, mas oura coisa que lhe chamou a atenção.
Deixando a maleta com o uniforme no chão o garoto se encaminha para ver o que parecia uma réplica do primeiro reator Arc de Tony Stark. Todo o mundo sabia que ele havia construído aquilo para energizar sua primeira armadura e foi alterando de reatores ao longo do tempo. Réplicas dos diferentes reatores eram famosas e ou custavam milhares de dólares ou eram quase impossíveis de se conseguir, mas Peter sentia que aquilo era o verdadeiro. Se aproximando para olhar mais de perto, mas não tendo coragem de encostar nele;
— Belíssimo não? – uma voz pergunta atrás de Peter
Em um movimento rápido, Peter se vira para a pessoa atrás de si e bate com o braço de baixo para cima no que estava nas mãos daquela pessoa e a mesma cambaleia para trás caindo. Em um instante, Peter reconhece o velho senhor dos vídeos e fotos que havia achado na internet e imediatamente seu corpo reage, ele dá um rápido passo para frente e segura a blusa do senhor com o braço esquerdo para que ele não caísse, e com o direito, ele pega o que havia lançado para cima, nesse caso uma caixa de papelão, e em movimentos precisos coleta tudo o que estava dentro da caixa, no caso copos de plástico com terra, antes que espatifassem no chão.
Envergonhado, Peter trás o senhor um pouco para frente para que ficasse de pé e lhe entrega a caixa com os copos com terra;
— Mil perdões, eu sinto muito... – o garoto diz abaixando um pouco a cabeça e coçando a nuca – eu sou...

— Peter Parker – a voz do homem era bem suave ele sorri, parecendo se divertir um pouco com a situação – eu te vi no festival de esportes, não pensava que seus reflexos eram tão bons assim – ele diz levantando e se referindo a caixa e a levando para a cozinha

— É desculpa por isso também – o garoto diz mais envergonhado ainda – e desculpa por invadir sua casa...

— Não, isso foi minha culpa – ele diz voltando da cozinha – esqueci que tinha de pegar uns projetos da escola que dou aula e acabei indo de última hora – ele então chega na frente de Peter e estende sua mão – doutor Ho Yinsen, um prazer
Peter conseguiu então ter uma melhor visão da aparência do homem ao qual iria estagiar pela próxima semana; o mesmo era bem alto e esguio, pele clara, um rosto fino e alongado, um nariz mais protuberante, e um rosto sem muitas rugas. Era careca e o rosto era liso tirando pelo cavanhaque esbranquiçado no queixo. Olhos castanhos e os óculos redondos de armação fina lhe davam o ar intelectual, juntamente com as roupas; calças caqui, sapatos, uma camisa com gravata e um suéter por cima, parecia um professor universitário no fim de semana; o que ele tecnicamente era.

— Peter Parker, o prazer é todo meu – Peter diz cumprimentando o senhor – me desculpe novamente pelo incidente, eu estava distraído

— Pelo reator Arc ou pelos troféus? – o homem pergunta apontando para ambos e ficando ao lado de Peter

— O reator no caso... – o garoto diz – mas os troféus são também muito...bons? São seus? – o garoto tenta seguir o assunto depois do pequeno embaraço

— Não – o homem não parece ligar e pega um quadro da parede, o entregando a Peter – são dela
Peter pega o quadro em mãos para ver o próprio Dr. Yinsen, sem muita diferença, ao lado de uma garota que à primeira vista não se parecia muito com Yinsen, mas algo nos olhos dela e o óculos parecido fazem Peter pensar que a mesma é filha dele. A menina era mais baixa que o pai, tinha um rosto fino, nariz pequeno e tinha os cabelos em um tom de rosa, ela vestia uma bata e segurava um diploma, sorrindo para a câmera ao lado do homem que também sorria.
— Se quiser arrumar suas coisas; seu quarto é a porta da esquerda e o banheiro é a porta da direita – ele diz apontando para o corredor, e Peter concorda, pega sua maleta, devolve a foto e vai em direção ao quarto.
Entrando no aposente ele se depara com um quarto bem simples; paredes em um tom bege, uma janela que dava para a rua, uma cama de solteiro com lençóis brancos, um pequeno armário de madeira, e um gaveteiro também de madeira. Sem querer perder tempo arrumando suas roupas nas gavetas, o garoto simplesmente deixa a mala no chão no pé da cama e segura a maleta com o número 18 em sua frente, que guardava seu mais novo uniforme. Depois que a tentativa de reparo do seu uniforme original com ajuda da tia May tinha ido por água abaixo, o mesmo tentara de várias maneiras ter seu uniforme projetado pelas indústrias Stark, mas haviam alguns problemas; Tony havia dito que o design dos uniformes passava por outras pessoas, então ele ter um aluno atrasado pedindo o uniforme iria levantar suspeitas, mas o mesmo havia prometido que tinha contatado alguém que lhe daria um uniforme ultra moderno no futuro, mas ele precisava de algo no presente.
Felizmente, sua nova amiga do curso de suporte Riri o encontrou depois do festival de esportes e entre conversas ele mencionara o estado de seu uniforme e a mesma se voluntariara para ser responsável pelo conserto e por upgrades nele como parte do trabalho dela para as aulas do professor Octavius, responsável pelo departamento de suporte. E agora, ali estava o resultado;
Abrindo a maleta ele pode observar as três partes separadas do uniforme; a roupa em si, a máscara e as luvas, como ele queria testar as roupas, ele havia deixado equipamentos extras de fora, já que teria que ver exatamente o que iria querer usar no dia a dia.
Ele primeiro tira sua roupa, ficando apenas coma cueca e pegando a parte maior do uniforme; que pelo visto embalava muito bem, já que em pouco espaço havia desdobrado para seu tamanho, e pelo visto Riri havia realmente considerado suas anotações e pedidos, os tons de azul e vermelho, os acolchoados extras para as pontas das articulações e todo o padrão com as teias negras pelo peito e costas da roupa. Ele coloca primeiro as pernas na abertura que tinha por cima e o puxa para seu tronco antes de colocar os braços nas mangas até estar com as mãos de fora. Ele então para e percebe... que estava pelo menos dois tamanhos maiores que ele. Não fazia sentido, ele havia conferido suas medidas três vezes antes de enviar, tudo bem estar alguns centímetros errado, mas ele sentia que cabiam dois dele ali dentro. Rapidamente olhando para a maleta ele observa um bilhete que havia sido deixado embaixo do uniforme;
“Aperte a aranha para ajustar o tamanho. – Riri”
Peter não sabia a que exatamente a menina da classe de suporte estava se referindo, até olhar para baixo e ver o símbolo de aranha preto em seu peito, a qual as pernas se espalhavam pelo peito do uniforme; ele percebe a diferente textura e relevo do símbolo e logo o aperta, o que faz com que o uniforme se encolha e passe a servir certinho em seu corpo, como se tivesse encolhido em um segundo. Peter sentia que algum filme antigo tinha um tênis que fazia isso, mas ele não conseguia lembrar exatamente qual era.
O mesmo então percebe que a roupa havia sido feita com as mangas compridas, ele suspira e as arregaça até próximas do cotovelo, liberando seus pulsos e vendo a grande cicatriz no direito, ele precisava achar um jeito de usar aquele poder melhor. O menino pega as luvas da maleta e as coloca, essas eram do tamanho ideal no caso e com as características preferidas; as pontas dos dedos com um tecido mais fino para suas setas e com protuberâncias na ponta do punho para melhores golpes. Pegando a máscara, mas ainda não a colocando, ele volta para a sala de estar para encontrar o Dr. Yinsen
Chegando no cômodo, Peter pôde ver o senhor colocando os copos de plástico com terra na janela, provavelmente eles continham sementes de plantas, e o mesmo logo levanta a cabeça e encara o garoto e seu uniforme, logo levantando e se dirigindo ao garoto.
— É um belo uniforme esse – ele diz ao chegar perto e sorrir admirando a roupa

— Obrigado – Peter diz dando mais uma olhada na roupa – o meu primeiro estragou então pedi pra uma amiga me dar uma ajuda

— Você tem uma amiga que sabe trabalhar com fibra inteligente? – o Dr. Yinsen pergunta

— Fibra inteligente? – Peter até podia saber bastante sobre individualidades e super-heróis, mas não tanto assim

— É um dos tipos de tecido mais utilizados para super-heróis iniciantes – ele explica – você conecta as fibras individualmente a pequenas máquinas, que se localizam nos pedaços mais protegidos da roupa, que as recolhem dependendo do espaço disponível sendo comandados por uma mini placa de computador acoplada – ele diz encostando no símbolo de aranha – são ótimas roupas; são leves, ajustáveis e caso haja algum ferimento, elas são capazes de reconhecer o fluxo sanguíneo e pressionam a circulação o suficiente para diminuir o sangramento, como um mini torquinete automático

— Legal... – o garoto diz, colocando em sua lista mental agradecer Riri pelo trabalho duro

— Mas! – o senhor diz pegando algumas coisas da mesa próxima – não estamos aqui pra um desfile de moda, temos que te treinar para ser um herói não é mesmo? – ele diz entregando o que pareciam ser óculos de esquiador só que completamente pretos

— É sim..., mas o que vamos fazer exatamente? – o garoto pergunta colocando os óculos na cabeça, mas não os pondo nos olhos ainda

— Isso é um aparelho orbital de controle remoto que utilizamos para consertos e construções de grandes aparelhos – o senhor diz mostrando o que parecia ser uma esfera de ferro cheia de placas e com um fino cano de ferro, ele então aponta para tal “cano” – essa coisinha é um soldador de plasma, que foi calibrado para liberar minúsculas quantidades de plasma em curtos períodos, é geralmente utilizado para soldas, mas vamos usá-lo para testar seus reflexos

— Que nem naquele filme antigo; “A Nova Esperança”! – o garoto diz colocando os óculos

— É, podemos dizer isso... – o Doutor diz ativando o controle e fazendo a esfera se erguer da mesa e flutuar na direção de Peter, até que estivesse a mais ou menos meio metro do garoto -muito bem Peter, nosso objetivo é testar seus reflexos; Tony me passou uma breve descrição dos seus poderes, então vamos focar no disparo de teias e no “Arrepio do Peter” ou alguma coisa assim...

— É “Sentido Aranha” ... – o garoto diz um pouco decepcionado por Tony saber desse nome, mas logo se coloca em posição, agachando um pouco e tentando perceber seus arredores com seus outros sentidos

— Vamos lá então! – o doutor diz e pega um controle remoto, ligando alguns botões que logo fazem a esfera se erguer da mesa e começar a flutuar na direção de Peter
A esfera vibrava levemente ao flutuar, mas era quase imperceptível. Mesmo tendo assistido o festival, Yinsen começa o teste de forma devagar, apenas avançando a máquina na direção de Peter. Peter facilmente percebe a aproximação e desvia para o lado, evitando o robô, com isso o homem mais velho aumenta a velocidade das investidas que o robô fazia na direção do garoto cada vez mais, e o menino não tinha nenhum problema em acompanhar o aumento do ritmo.
Em pouco tempo Peter já desviava da máquina como se soubesse sempre de onde ela viria, ele pulava, abaixava, desviava, sempre sentia um arrepio vindo exatamente de onde a esfera flutuante estava, mesmo não conseguindo ver nada. Porém, isso logo muda, ele ouve um pequeno som de dispara, e algo vindo muito mais rápido o pega desprevenido, e logo ele sente seu pulso queimar levemente, como se tivesse encostado em uma vela recém apagada com o braço
— AI! – ele diz esfregando o braço depois do ataque

— Fique tranquilo, foi tudo calibrado para não fazer muitos estragos – o professor diz preparando outro dispara

— A sua sinceridade é comovente! – Peter diz sarcástico antes de dar um mortal no ar para escapar de outro disparo
“Vamos lá, vamos lá, preciso de uma estratégia!” o garoto pensa consigo mesmo “isso aqui é como uma simulação, não é um medidor, encare como uma luta de verdade” felizmente, Peter era ótimo em criar fantasias de vilões contra ele como herói, ele fazia isso desde os quatro anos;
“Ok, vamos lá, fui atingido por uma individualidade que me deixou cego...não, muito pesado, que jogou uma substância encima dos meus olhos que eu não consigo tirar, melhor! O vilão escapou e deixou o capanga para me distrair enquanto ele foge!” Peter pensa ao desviar mais uma vez do disparo e do robô “mas para perseguir o vilão e conseguir tirar isso dos meus olhos eu preciso capturar esse...cara?” Peter pensa desviando mais uma vez no robozinho e seus disparos. Depois de mais um mortal no ar, Peter usa uma manobra que vinha treinando com seu disparo de teias. Ele se concentra e sente a teia fluindo pelo seu braço, o que em si já era uma sensação bastante esquisita, como se ele estivesse indo fazer xixi, mas pelo braço, ele então sente a teia parar em um pedaço de seu braço e antes que ela possa sair, ele pressiona o dedo da outra mão por cima da teia, a forçando a sair por um espaço menor. Isso faz com que, com a pressão e a liquidez da teia, ela se espalhe, como água em uma mangueira, e forme uma rede, que rapidamente é lançada e prende o robozinho na parede completamente. Mas o que Peter não esperava era a dor que viria com aquilo;
— AGH! – o garoto grita caindo de joelhos no chão e apertando o braço
Yinsen, como médico acostumado a situações ainda mais urgente e precárias, serena, mas rapidamente vai na direção do garoto e o leva até a mesa da sala, o sentando em uma das cadeiras para que pudesse lavar seu ferimento, ele sai para buscar o kit de primeiros socorros enquanto Peter retira os óculos e observa o ferimento; percebendo que era bem maior do que normalmente era.
Ele havia se esquecido da cicatriz em seu pulso e agora sangue escorria por seu braço e a dor era latejante. Yinsen logo volta com os aparatos necessários e com precisão e rapidez, é capaz de limpar o sangue e estocar o sangramento com maestria. Ele enrolava a gaze no braço e Peter e até aquele momento nenhum dos dois falava nada;
— Assumo que se surpreendeu com isso? – o homem pergunta para Peter

— Os machucados já aconteciam – o garoto diz fazendo um pouco da cara de dor – mas meu braço está cada vez mais sensível, as teias são levemente ácidas e tem causado alguns estragos...

— E você já pensou em como resolver essa situação? – o mais velho volta a perguntar

— Não muito... – o garoto diz coçando a nuca com seu braço bom – esperava que pudesse em ajudar com algo, já que o Sr. Stark nunca discutiu muito esse poder comigo, tive que basicamente aprender por conta própria...

—... – Yinsen fica calado por um momento, como se pensasse me suas próximas palavras – sabe, nós temos um lema na área de Suporte, principalmente na M.A; “Para tudo existe uma solução” é algo que nos motiva a buscarmos as respostas para as perguntas e problemas que temos, é desafiador ao mesmo tempo que reconfortante, mas nós sempre nos focamos em uma coisa: resolveremos nossos problemas nós mesmos
“Pedir ajuda não é errado, e é até aconselhável, mas no fim do dia, seus problemas e suas dúvidas são suas próprias, e você precisa chegar a suas próprias conclusões, é claro, pessoas podem te aconselhar no que elas fariam em seu lugar, mostrar coisas que elas poderiam fazer, mas você precisa tomar suas decisões no tipo de herói que quer ser. Quando heróis mandam pedidos a agências de Suporte, eles fazem seus pedidos baseados no que sabem sobre sua individualidade e o herói ou heroína que querem ser; se não, seira o suporte que estaria criando o herói”
— Por isso, em minha visão, mesmo que sua admiração por Stark, por mais genuína que seja, é o que está te impedindo de ser o seu próprio herói – o doutor diz se levantando da cadeira – ele tem recursos, inteligência, contatos e anos de experiência, além de uma individualidade completamente diferente da sua, não importando o quão próximas elas realmente são. Quero que pense nisso, ouvi dizer que sou bom em fazer as pessoas considerarem outros pontos de vista – ele diz pegando seu sobretudo e seu chapéu – vou ir comprar o almoço, agradeceria se pudesse arrumar essa bagunça – o mesmo diz e sai pela porta
Peter permanece ali, sentado, a dor da ferida esquecida, afogada em meio ao mar de pensamentos conflitantes que navegam sua mente. “Minha admiração ao Homem-de-Ferro é o que está me impedindo de ser um herói?”
Os dois lados, emocional e racional dele estavam em guerra naquele momento, por um lado, sua admiração pelo Homem-de-Ferro foi o combustível que o impulsionou a tentar com todas as suas forças ser um herói, mas o que o Dr. Yinsen havia dito fazia sentido; ele não era e nunca seria o Homem-de-Ferro, mesmo se tomasse o lugar dele como herói número 1 e como Símbolo da Paz, ele nunca seria exatamente igual ao seu ídolo e nem queria ser, ele precisava cravar seu próprio caminho.
“E isso começa com resolvendo os meus próprios problemas...” Ele pensa observando o braço enfaixado
Uma ideia então logo lhe vem à cabeça, se levantando ele vai até sua mochila no quarto, de lá ele pega seu estojo, alguns livros sobre individualidades que havia trazido, juntamente com um livro sobre aranhas e seu caderno de anotações, ainda um pouco amassado, mas que agora conteria uma nova página ne informações;
“Peter Parker: O Homem Aranha...” Ele escreve, era hora de analisar a si próprio, como ele vinha fazendo com outros heróis durante toda a sua vida.









Um pouco distante daquela pacata vizinhança onde Peter se encontrava, outro herói mirim em treinamento se encaminhava para o local onde realizaria seu estágio. Danny conhecia as ruas de East Harlem nas quais caminhava, as lojas, as localidades, até algumas pessoas lhe traziam lembranças das vezes que havia acompanhado Orson até a agência ou quando o mesmo lhe levava para dar uma volta. Mas ao invés de boas lembranças e nostalgia, Danny tinha em sua cabeça o nome daquele que encerrara a carreira de seu pai, e o que ele faria sobra isso.
Quase sem perceber, ele chega até seu destino, em uma das esquinas da Terceira Avenida estava a agência ao qual estagiaria; se deparando com a construção que seria seu lar e dojo pela próxima semana, a Agência do Herói Mestre do Kung Fu; Shang-Chi. Por fora a construção era bastante padrão e discreta, não tendo nada muito chamativo pelo lado de fora e com vidro espelhado, mas ao adentrar, as coisas mudam.
Por dentro, todo o espaço tinha um aspecto que lembrava bastante construções chinesas, paredes de madeira, na maior parte pintados de preto, mas com imagens de paisagens em ambas as paredes, alguns sofás e mesas com revistas indicavam o que parecia ser uma espécie de recepção, e mais afrente havia uma mesa grande de madeira com uma mulher de cabelos negros falando em um telefone enquanto digitava em um computador. Mas o que mais impressionou Danny foram os heróis que conversavam na recepção; nenhum deles parecia ser muito famoso, mas todos usavam uniformes que os entregavam como heróis, pelo que o garoto poderia ver, todos eram heróis artistas marciais.
“Provavelmente uma força-tarefa para pegar o Treinador...” O garoto pensa e respira fundo antes de seguir em direção a mesa, felizmente nenhum dos heróis parecia ter o percebido ou não sabiam quem era. De qualquer forma Danny estava feliz por não ter muita gente querendo falar com ele como havia sido depois do Festival de Esportes, principalmente agora com a situação do Orson.
— Ah, com licença, meu nome é Daniel Rand, nome de herói “Rand” e estou procurando... – Dany começa a falar para a secretária, que logo ao percebê-lo abre a boca em um perfeito “O” e para de falar ao telefone

— Shi, eu falo com você depois! – a mulher fala ao telefone antes de desligar e continua encarando Danny abismada – é você...

— Ah, sim? – o garoto não sabia exatamente o porquê, mas a mulher de traços asiáticos e cabelo preto preso em um rabo de cavalo parecia bastante animada

— Eu jurava que tinha sido uma pegadinha no primeiro e-mail, mas tinha o selo da M.A e tudo mais... – ela diz se levantando e o observando como se ele fosse um espécime raro – mas você está aqui agora! – ela diz animada, mas logo para ao ouvir uma voz vinda de sua esquerda, direita de Danny

— Muito bem pessoa, temos um longo dia pela frente, muito trabalho a fazer e... – A voz era advinda de um homem adulto, por volta dos trinta anos. Tinha pele clara, olhos puxados e cabelo liso escuro penteado para trás. Era relativamente alto e tinha músculos como um verdadeiro artista marcial com treino intensivo. O mesmo vestia sapatos flexíveis e calças pretas com um colete vermelho com pedaços e detalhes pretos e com mangas que paravam logo depois de seus cotovelos, ele também tinha o que pareciam ser cinco braceletes de ferro cinzento no antebraço direito. Aquele era o herói artista marcial e líder da Agência...

— Shang! – a secretária chama a atenção dele, que para e se vira para ver a melhor amiga, e pede para os outros heróis esperarem um pouco

— Qual é a boa Katy? – ele diz se debruçando no balcão sem notar Danny

— Seu presente de natal chegou mais cedo, em carne, ossos e... – A tal Katy diz, mas logo encosta no braço de Danny e percebe que ele era bem mais forte do que parecia -... músculos, uau!

— Pera aí, você é o... – Shang diz se virando para o garoto, por um momento Danny era quem havia virado a celebridade

— Daniel Rand, nome de herói “Rand” é uma honra poder estagiar com o senhor – Danny diz de forma educada se abaixando para o cumprimento asiático tradicional

— Ah...o prazer é todo meu... – ele diz um pouco envergonhado e então se vira para seus subordinados – comecem com as rotas de patrulhas que discutimos de manhã; equipe 3, se dividam e cubram a minha área até eu chegar lá, vou mostrar o lugar pro rapazinho aqui
Tendo dito isso, todos os outros concordam e começam a sair da agência e Shang se vira para Danny mais uma vez.
— Bem, eu sou o herói Mestre do Kung-Fu: Shang-Chi, e eu que estou honrado em tê-lo como aprendiz durante essa semana – ele diz de forma mais formal, mas ainda sim bastante entusiasmado – vamos lá então, vou te mostrar o espaço – ele diz chamando Danny enquanto caminhava de volta para a parte mais interna da agência. Danny agradece a secretária Katy e passa a seguir o herói.
Pela próxima hora, Danny seguiu o herói profissional pela agência, para que conhecesse o lugar que passaria a semana. O local era realmente um dojo antes, mas Shang-Chi havia reformulado ele como sua agência, adicionando o hall de entrada com secretária, o pequeno escritório e sala de reuniões para preenchimento de relatórios e outros documentos necessários para o funcionamento de uma agência, o refeitório e lanchonete e uma pequena área perto dos vestiários com alguns quartos pequenos; que eram um dos requisitos para que a agência fosse apta a receber alunos da M.A, por isso não eram todas as agências que recebiam alunos, apenas locais com acomodações ou, em caso de heróis que não eram donos de agências, um quarto de hóspedes na casa. Tais quartos não eram muito grandes, uma cama com uma grande gaveta embaixo que servia de armário, uma pequena escrivaninha e um móvel ao lado da cama, o banheiro que era usado era o dos vestiários
— Construí esses há um tempo já – o herói diz se referindo aos quartos depois de Danny colocar sua mala em um deles – eu recebo alguns alunos de intercâmbio da China às vezes

— Alguma filiação com uma escola de heróis de lá? – Danny pergunta com seu uniforme em mãos. O mundo era repleto de academias de heróis, mas fazia sentido que ele recebesse alunos de fora, a M.A era referência de escola e Nova York era uma referência ao heroísmo

— Sim na verdade, o “Instituto Fu-Mang-Shu de Heróis” se conhece – o herói diz, não parecendo muito animado com o local – meu pai é o diretor...

— Já ouvi falar... – Danny diz, percebendo que o pai de Shang parecia ser um tópico sensível, não quis citar que o instituto era uma das maiores escolas de herói da Ásia, e a maior da China – meu pai estudou em “K’Un L’Un”

— Uau, a grande escola de heróis marciais do Himalaia – Shang começa a dizer, mas para como se tivesse lembrado de uma coisa – seu pai é o Orson Randall certo? O Punho-de-Ferro?

— Sim, é ele sim... – Danny diz, e sente um pesar em si, não por Orson em si já que ele estava se recuperando bem, mas por outra coisa

— Ah, desculpa, é que... – o herói sente a mudança de humor do garoto e pensa o pior, felizmente Danny percebe e corrige

— Não se preocupe, ele está bem – Danny diz forçando um sorriso mais amigável que parece convencer o herói

— Ah, ufa, que bom, fiquei preocupado por um momento – o herói diz de forma aliviada – mas eu só queria dizer que ele é uma grande inspiração para mim e ele foi um dos motivos de eu estar onde estou – o herói diz abrindo os braços como se indicasse a agência

— É, pra mim também – Danny responde

— Bem, coloca seu uniforme e vamos patrulhar! – o herói diz indicando o vestiário masculino para Danny que adentra para colocar seu uniforme para sue primeiro dia estagiando com um herói profissional.









Não tão longe dali, em um recluso e mal iluminado bar em Chinatown, três figuras se encontravam no recinto e se encaravam; as quais eram o jovem vilão Ezekiel Stane, sentado em um dos banquinhos e debruçado sobre a mesa de forma relaxada seu capanga/guarda-costas Azazel, que limpava alguns copos empoeirados que havia encontrado e uma última figura que estava se tornando famosa nesses últimos dias: O Caçador de Heróis, Treinador.
O mesmo vestia uma roupa tática militar com as cores branco, azul escuro e laranja, por baixo de uma armadura de kevlar das mesmas cores e que incluía proteção para o torço, antebraços, ombros, coxas e panturrilha, que além de proteger também escondiam muito bem todos os diferentes tipos de armas que o mesmo sabia utilizar. Ele também vestia um capuz branco e uma máscara de caveira também branca, sua marca registrada;
— Você me chamou aqui... – o homem diz cruzando os braços e encarando a dupla – comece a falar.

— Por que a pressa, estamos todos entre amigos aqui – o jovem Stane diz abrindo os braços mostrando os arredores, mas vê que o mercenário nem se move, então decide mudar de estratégia – direto ao ponto então, eu tenho uma proposta a você...

— Sabe onde você pode enfiar essa tua proposta? – Treinador começa a falar, mas é interrompido

— Você verá que será benéfico para ambos – Stane diz, elevando a voz para ficar por cima da do outro – é bastante lógico; você mata heróis e eu quero um herói morto, nós dois ganhamos

— Você simplifica muito o que eu faço – o armadurado diz retirando sua espada na bainha nas costas e inspecionando a lâmina – eu mato com um motivo, não sou um assassino qualquer ou um psicopata

— Bem, não que eu me importasse se fosse, mas essa pessoa me irritou bastante, isso é motivo suficiente? – Stane já estava cansado daquele cara, então zoava com a cara do mesmo e sua moralidade ou qualquer coisa

— Hmmm
O homem nada diz, ainda inspecionando sua lâmina e de costas para Ezekiel, mas em um movimento rápido, ele se vira e avança na direção de Stane, com a espada em punho pronta para um golpe fatal de cima para baixo. Mas em um piscar de olhos, Azazel se teleporta detrás do balcão de bebidas para o lado de Zeke, com uma de suas espadas empunhada e bloqueando o ataque do Treinador para cima de seu oponente
— Bitte, somos todos homens civilizados – o homem diabo diz, não parecendo fazer muito esforço ao segurar a espada de seu oponente
— Você é uma junção dos dois tipos de pessoa que eu mais odeio; alguém que só pensa em si mesmo... – ele então vira o rosto para Azazel, mesmo que só a máscara sendo percebida – e alguém que se diz grande, mas que não consegue se defender sozinho – ele diz e desiste da investida, dando alguns passos para trás e embainhando a espada novamente, enquanto Azazel desaparecia em uma nuvem de fumaça e logo reaparecia de volta atrás do balcão ainda limpando copos
“Essa sociedade está repleta de heróis com essas motivações deturpadas; eles criam heróis que só ligam para seus próprios interesses ou os de poucos, ignorando o interesse da população e da maioria. E também há aqueles que se dizem lutadores, mas não são páreos para um adversário preparado, preferindo bater em bêbados ou ladrões de comida na calada da noite do que arriscarem suas vidas em um real desastre”
— Esses “heróis” são a doença deste mundo, dessa geração, e serei eu que irá avalia-los, se passaram no treinamento necessário para serem considerados heróis – ele diz pegando uma garrafa no caminho para porta – obrigado pela bebida... – ele diz saindo

— Devemos ir atrás dele? – Azazel pergunta para a tela do computador onde estava o “mestre”

— Não, deixe-o ir, ele já fará um estrago suficiente para nos ajudar e levar o holofote com ele enquanto preparamos nosso plano

— Ainda bem, já estava ficando irritado com ele – Stane diz se levantando da cadeira do bar e indo para os fundos do aposento. O mestre estava certo, os holofotes e o público estariam completamente focados nele pelos próximos dias, criando um momento ideal para o recrutamento que planejava fazer para a Liga, ele já tinha até uns nomes de interesse.

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