Capítulo 5

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Lembrando rapidinho: estamos focando na relação do Jay com o Harry nesses primeiros capítulos porque mesmo se gostando, os dois tem muita dificuldade em se dar bem. Após eles se resolverem, vamos ter mais foco na relação de todos três msm. Dito isso, vamos ao capítulo de hoje!

Jay e Harry se olharam sem graça após Gil sair.

Harry aproveitou o momento de estranhamento para refletir consigo mesmo, girando o gancho na mão.

Provavelmente, pensou, provavelmente ele estava aceitando isso por causa de Gil e não por gostar de mim. É, faz mais sentido. Qualquer coisa, por mais absurda que parecesse, faria mais sentido do que acreditar por mais de um momento que Jay de Agrabah realmente gostava de Harry Gancho.

Qualquer coisa.

Afinal, eles se odiaram e brigaram por tantos anos, por tanto tempo. Por que acreditaria que haveria qualquer outro sentimento além de ódio entre eles?

— Então...

Antes que concluísse a frase, o celular de Jay tocou.

O rapaz fez careta ao ver o que era e suspirou, cansado, se levantando.

— Já tenho que ir. – suspirou. — Me acompanha até lá fora, Gancho?

Harry cerrou os olhos, desconfiado. Se levantou cuidadosamente, ajeitando o chapéu pirata sobre os cabelos e o acompanhou. Fez questão de manter o gancho de prata bem à vista.

— Por que já tem que ir? – questionou tentando não parecer interessado demais na resposta.

— Programas de integração. – respondeu entediado. — Quando não estou na loja do meu pai, tô aguentando essa merda.

— Programas de que?

Jay riu, em seguida lançou um olhar incrédulo a Harry ao perceber que o rapaz não estava brincando. Revirou os olhos.

— Programas de integração do povo da Ilha com Auradon. Eu cuido dos programas culturais e de lazer, como as batalhas de esgrima, o tourney, os teatros e etc. Evie me ajuda com o de teatro porque está encarregada dos programas de arte e educação, mas também os de química, designer... Carlos cuida dos programas de tecnologia e história, ajudando o povo da Ilha a aprender a usar a internet.

— Ah...

— Além disso, todos colaboram com os programas de reformas, verificamos como tão as coisas na Ilha, ajudamos com os censos... É bem chato e gasta muito do meu tempo, mas gosto de ajudar as crianças da Ilha. Também tem as reuniões de segurança com o Ben e a Mal, por causa do lance com a Úrsula e a Malévola.

— Parece muito chato. – Harry comentou sem saber o que mais dizer. — Eu ainda não entendi... Como a Malévola voltou? Ela não tava presa como lagarto?

Jay hesitou coçando o rosto. — Na real, nem a gente entende ainda. Um dia ela era um lagarto e no outro, apareceu na TV incendiando o palácio da Bela Adormecida. Ainda estamos tentando descobrir como ou o que aconteceu. Enfim... É bem chato. Acaba que tenho muito pouco tempo livre pra sair com o Gil e é muito difícil arranjar alguma desculpa pra vir ver vocês dois.

— Não finja que vinha me ver.

— Não estou fingindo.

Harry rangeu os dentes, olhando-o torto enquanto cruzavam o enorme pátio até a entrada da escola.

— Olha, Gancho... Eu sei que temos uma história meio complicada...

— Meio? – Harry arqueou a sobrancelha. — Você beijou minha irmã menos de uma semana depois de termos terminado.

— É, e você beijou a garota que eu considero como uma irmã menos de um dia depois de terminar comigo, estamos quites nisso. – Jay bufou, os braços cruzados.

— Sim, porque eu queria um passe livre pra gangue da Mal e você não me ajudou muito a conseguir um, já que não me queria na ganguezinha de vocês!

— Porque a Uma ia usar isso pra tentar entrar no nosso território e você sabe disso! E eu não queria acabar causando a droga de uma guerra de gangue!

— Por que não? Era a Ilha dos Perdidos! Guerra era a única coisa que tínhamos para passar o tempo! – Harry falou alto, gesticulando com o gancho.

Jay respirou fundo tentando manter a cabeça no lugar.

— Eu tenho um pai velho e morava numa ilha sem remédios. Uma briga de gangue ou outra, beleza. Agora uma guerra? Quando eu era o único que cuidava daquele velho? Não, apostas altas demais.

Harry fez careta, a contragosto.

— Tá, entendo isso, mas...

— Mas, desculpe ter ficado com sua irmã. Me perdoa.

Harry parou de andar, olhando para Jay sem ter certeza se entendera direito. Sua mente programada para a maldade e pirataria ainda não era capaz de assimilar direito pedidos de desculpa.

— É uma pegadinha? – cerrou os olhos.

Jay revirou os olhos, sua atenção voltou-se para a estátua do Rei Fera na entrada do colégio.

— Não é uma pegadinha, Harry. Me desculpe. – repetiu, se aproximando mais do garoto, os olhos gentis brilhavam como de cachorrinhos. — Por favor...

Harry engoliu em seco. A distância entre os dois diminuindo perigosamente. A diferença de altura se tornando irrelevante enquanto Jay se esticava... Lábios entreabertos...

— Acho que seria estranho pro Gil se você me beijasse agora. – comentou, hesitante, a mão livre no ombro de Jay. — Sabe... Se a Uma não aprovar eu e ele namorarmos, vai ser estranho você ter me beijado.

Jay hesitou e fez careta. Concordando a contragosto, se afastou.

— Tem razão.

Quando não tenho? — Me desculpa ter ficado com a Mal logo que terminamos... E desculpa ter terminado. Era estranho... Era estranho ter algo mais sério na Ilha.

— É, era um pouco. – Jay riu, o sorriso reluzente e enorme fazendo seus olhos parecerem fendas. — Mas, tudo bem. Aqui isso não é estranho.

Harry cerrou os lábios e se balançou nos pés, girou o gancho na mão, sem jeito.

— Você tem que ir, né?

— É... – fez careta. — Vou tentar vir ver vocês dois de noite, tá bom?

— Tá.

— Até, Gancho. – riu, puxando Harry pelo gancho e encostando a testa na dele.

— Até.

Os dois trocaram um sorriso, os narizes se encostaram de leve. Jay conteve um suspiro, obrigou-se a lembrar o que Harry tinha dito sobre como seria estranho se beijassem agora.

— Até. – repetiu, apertando levemente o gancho de Harry antes de sair da escola.

Harry franziu os lábios e se deixou cair no chão logo que Jay sumiu de vista.

***

— Você não estava namorando com o Jay? – Uma perguntou, as sobrancelhas arqueadas/, os cabelos azuis balançando com o vento que soprava enquanto cruzava um corredor aberto em direção a sala de aula.

— Eu posso namorar os dois. – Gil respondeu simplesmente, dando de ombros. Mexia as mãos ansiosamente, torcendo para que a capitã aprovasse. — Os dois estão de boa com isso.

Uma bateu o indicador contra os lábios, carregando cadernos e livros, os saltos das botas batendo contra o chão.

— Certo, certo. – concordou por fim, com um suspiro. Os lábios se abriram num sorriso de canto. — Fico feliz por vocês três.

— Você é a melhor, Uma!

— Mas... – Gil engoliu em seco com o tom sério de sua capitã. — Mas, isso não pode interferir no comportamento dos dois, hein? A hierarquia do navio ainda é a mesma. Ele é seu superior e eu não tolero favoritismos, entendeu?

— Tá legal... – murmurou, sem jeito.

Isso não soava nada legal.

Ladrões e PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora