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     Dirigi entre os caminhões que andavam de madrugada atravessando o país com cargas que levavam para a Califórnia e as cidades da costa. Evitei as perguntas de Thomas sobre o garoto de olhos bicolores, já que eu não poderia responder questionamentos como "Qual era o nome dele mesmo?", já que ele havia me dado apenas um apelido, ou em "Quem ele era para analisar o seu carro?". Olhei para Thomas mostrando as feições de tédio para a curiosidade desnecessária do meu amigo e mecânico nas horas vagas, pois sabia – ele também – que eu não poderia fazer amizades ou até mesmo conversar mais do que o usual com as pessoas que frequentavam corridas de rua.

     Entrei na rodovia 306 acelerando ao saber que não teria caminhões ou carros no meu caminho, a partir daquela entrada tudo se transformava em um lugar parado no tempo, era como se ainda estivéssemos nos anos 80 e como se o mundo ao redor não existisse. Aquele era o motivo de Crescent Valley não ser interessante para os turistas ou os próprios americanos.

     Ouvi um suspiro pesaroso vindo de Thomas o que me fez olhar em sua direção para vê-lo com um braço apoiado na janela de vidro aberto observando o deserto escuro que nos cercava nos bons quilômetros até nossa cidade.

– Crescent Valley, o lugar perdido no tempo. – disse ele me fazendo sorrir ao diminuir a velocidade.

– Divagando, amigo? – perguntei por implicância e já esperava os olhares diretos para mim quando Thomas o fez.

– Era para ter sido um mês e olha só onde estamos. – respondeu deixando escapar uma risada fraca.

– Cinco anos. – respondi.

     Aquela lembrança me fez engolir em seco encarando a estrada em minha frente e pelo silêncio que se iniciou, poderia dizer que Thomas percebeu meu incômodo. Ficamos em silêncio mesmo depois de passar da placa simples de ferro enferrujado com desenhos símbolos do Estado que decoravam e tentavam dar vida a uma coisa que não tinha jeito. Observei o grande quilômetro de terra deserta até chegar nas primeiras casas no bairro que todos conheciam como o subúrbio por ficar longe demais do centro.

     Diminui a velocidade entrando na primeira rua à direita parando na última casa para deixar Thomas e meu McQueen.

– Quer ajuda? – meu amigo perguntou antes de descer do carro.

– Não, eu devo começar meu turno daqui a cinco minutos, vou passar em casa para trocar de roupa e ver meu irmão.

     Vi Thomas olhar para o relógio em seu celular como se precisasse de uma confirmação das minhas palavras, o que me fez erguer uma sobrancelha que ele ignorou ao sair do carro para abrir o portão de ferro de sua casa, no mesmo terreno a garagem era feita de oficina nas horas vagas de Thomas.

     Aquela era a parte que eu mais odiava, deixar McQueen por não poder contar a todos que ele era meu e que eu o havia herdado de meu irmão depois do acidente. Ajudei Thomas a escondê-lo debaixo da lona empoeirada sentindo o coração apertar ao saber que ele não só era importante para mim como também foi importante para Tahoe quando ainda era considerado um dos melhores corredores de rua.

Correr ou Morrer - DuologiaOnde histórias criam vida. Descubra agora