Sofisma || Jikook

O começo

- Hm, essa não - concluiu após algum tempo de análise. A peça então foi descartada para o lado e logo uma outra foi selecionada. - Nem essa.

Até então sequer havia notado aquela mudança repentina de hábito.

Jungkook passou de "vestir a primeira coisa que ver na frente", para a figura de um adolescente insatisfeito mesmo com tantas peças à disposição.

A cama estava lotada de variadas peças de roupas, e ainda uma boa quantidade ocupava os cabides de seu closet. Mesmo com o alto cargo em uma agência de publicidade que possuía bastante contato com estilistas de renome, não foi o suficiente para deixar o guarda-roupas de Jeon muito diversificado além dos diversos tons de preto, branco ou cinza. Cores tão neutras como seu humor habitual.

- Estou indo a um enterro, por acaso? - queixou-se consigo mesmo. Mais uma peça de mistura com o branco e o preto sendo atirada contra a cama, que ironicamente era coberta por um lençol da cor preta.

Virou-se de costas, encarando a montanha de roupas que acumulou sobre a cama, só agora tendo noção da proporção que seu surto adolescente causou. Odiava se sentir velho, mas também devia saber admitir que também não era mais assim tão jovem para se preocupar com coisas tão fúteis como o que vestir. Aliás...

- Porque caralhos eu estou me preocupando com isso? - Apoiou as mãos na cintura, incrédulo com suas próprias atitudes; o cabelo ondulado passando poucos centímetros da altura da orelha sendo penteado para trás pelas mãos grandes.

Enquanto divagava tentando buscar algum cabimento para suas ações, pôde jurar sentir o gosto açucarado de um algodão doce na boca, quase tão doce quanto o sorriso que ocupou seus pensamentos. Uma gargalhada gostosa tilintou em seus ouvidos, o contagiando ao ponto que acabasse rindo também. E mesmo quando uma face irritadiça pareceu cobrir sua visão, seu sorriso pareceu dobrar de tamanho, vislumbrado pelo quão adorável aquele garoto conseguia ser, mesmo parecendo ser meio desconcertado das ideias.

- QUE MERDA É ESSA? - indagou em voz alta, arregalando os olhos por seus próprios pensamentos. Pensou estar ficando louco, divagando acerca de lembranças de um cara que sequer sabia o nome. Um desconhecido praticamente.

Pilhado consigo mesmo, apenas catou todas as roupas que conseguiu comportar nos braços e atirou dentro do cabideiro, fazendo o mesmo com a outra metade do monte posteriormente, enquanto que baixinho xingava-se por tamanha tolice.

Ainda assim, não exitou quando, bem no cantinho, avistou um uma camiseta de mangas longas e gola rolê vermelho escuro beirando o vinho. Ainda tratou de convencer a si mesmo de que aquilo nada de especial significava. É só que o vinho combinaria bem com seu paletó preto. E só!

[...]

O estresse agora estava servindo como um bom agente para distrair Jimin do sono que ainda sentia em demasia por ter acordado tão cedo. Mas agora, diante das circunstâncias, concluiu que não poderia mesmo ter acordado mais tarde que aquilo. Já havia perdido a conta de quanto tempo havia gasto pressionando a compressa de gelo no rosto, na intenção de diminuir o inchaço em seu rosto.

Agora estava apostando em um paninho com água morna, sendo este para ajudar na circulação do sangue e, portanto, suavizar o tom escuro de vermelho na pele sensível de seu rosto.

O Park não era nenhum expert em maquiagem, então quando situações como aquelas aconteciam - de Taemin exagerar demais nas broncas -, era quase impossível cobrir completamente as marcas. E agora parecia ser uma destas situações novamente.

De repente, viu-se chorando tão calminho que não fazia barulho sequer; frustrado com sua própria incompetência para apenas cobrir uma marca. Apenas notava o reflexo em suas lágrimas de um dia que se iniciava do outro lado da janela. O coraçãozinho doía em uma angústia que ele mal conseguia descrever como ou mesmo o por quê.