39. Inspirador.

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           𝓓epois de duas horas, já não não estava mais tão chateada com toda a atenção que recebia. Mesmo depois de Darkless ter saído do meu lado para uma breve reunião com o Conselho, as cabeças ainda se viravam quando eu passava. 

Havia ouvido a frase “prostituta do Darkless” algumas vezes, mas o que mais recebi foram olhares de respeito. E medo. O respeito eu poderia até entender; respeitar a mulher que vestia a cor de seu Mestre, mas o medo ainda me era estranho. Porque sentiriam medo de mim? Porque Darkless tinha me colocado ao seu lado? Se eles soubessem que ele só tinha feito isso para me proteger de possíveis agressores, não teriam esse sentimento. 

Caminhei até Elysha e Benjamin quando Darkless assumiu seu lugar no palco de vidro e ficou em silêncio absoluto, esperando que todos olhassem para ele. Ele sequer precisou fazer nenhum barulho; a música parou e cada ser presente ali se ajeitou na multidão para o encarar. 

— Há mil e quinhentos anos atrás construimos um império. Começamos uma dinastia que perpetuou por séculos, e cada um daqueles que vieram antes de mim lutaram até a morte para proteger esse povo, assim como eu faço todos os dias. — A voz dele ecoou pela multidão, havia paixão em suas palavras, não somente a calma imaculada de sempre. Ao falar de seu povo, Darkless falava com sua alma. — E continuarei fazendo até a minha morte.

“As coisas não estão fáceis. Um inimigo astuto tentou nos desestabilizar, mas essa Corte é forte demais, o sangue secular que corre por nossas veias é forte demais. Há quinhentos e oitenta e oito anos atrás eu fiz uma promessa. Jurei que lutaria até a minha morte por todos vocês, e eu não pretendo quebrar essa promessa. Serei fogo caso nossos inimigos precisem queimar, serei água caso eles precisem se afogar. Serei ar, terra, caso vocês precisem que eu seja. Cada um dos nossos inimigos irão cair, cada uma das famílias que choraram nessas últimas semanas serão vingadas. E nós encheremos o inferno com os gritos daqueles que ousaram nos desafiar.”

Um brado ecoou no meio da multidão, e depois, foi seguido por outro, e por outro, até que todos estavam gritando em concordância, aplaudindo e reverenciado Aztraz Niklas Darkless. Meu coração errou uma batida quando percebi que também batia palmas. Eu não sabia como tinha chegado ali, não sabia como minha vida havia virado de cabeça para baixo, mas pela primeira vez na vida, me senti em casa. Me senti em família. Darkless não era mais somente  o mestre dos vampiros, era também meu Mestre e cada uma de suas palavras me fazia sentir um desejo insano de seguir o que ele havia dito. Meu coração queimava em concordância, e eu bati palmas ainda mais forte. Não era mais eu e eles. Éramos nós. Eu lutaria ao lado da minha família, e ao lado de Darkless. Eu o ajudaria queimar o mundo se fosse necessário para proteger cada uma daquelas pessoas que o olhavam com a mais profunda adoração. 

Quando Darkless pousou seus olhos sobre mim, encontrando minhas íris, eu soube que ele sabia o que eu sentia, porque tinha certeza: meu orgulho estava estampado em cada traço de meu rosto. 

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A música alta ecoou pelo jardim quando a banda voltou a tocar, e diversos corpos se colaram para dançar. Elysha ria enquanto girava nos braços de Benjamin, e eu não pude suprimir meu sorriso ao vê-la tão feliz. Darkless beijava mãos de mulheres e recebia abraços carismáticos de seus apoiadores, e eu também não conseguia parar de sorrir ao vê-lo receber tanto amor e gratidão. O Mestre se aproximou de mim quando a música se tornou lenta, deleitando os casais. 

— Me concede essa dança? — Darkless perguntou estendendo a mão em minha direção. Sorrindo, coloquei minha palma sobre a dele e o acompanhei até o espaço onde pares dançavam. 

— Seu discurso foi incrível, e inspirador. — Elogiei ao colocar minha mão em seu ombro enquanto ele erguia as nossas palmas unidas e passava o braço livre ao redor da minha cintura. 

— Que bom que você achou. — Ele respondeu num sussurro e me girou pela grama. Ri baixinho. 

— Todos acharam. Vi até lágrimas! 

Foi a vez de Darkless rir baixo enquanto  guiava nossa dança lenta pelo chão de esmeraldas. 

— Cumprirei tudo que eu disse, custe o que custar. 

Assenti seriamente e me aproximei mais para sussurrar contra o ouvido dele. 

— E eu farei de tudo para lhe ajudar nisso. Luke Balmer irá pagar pelo que fez ao seu povo, ao meu povo. 

— Seu povo. — Darkless frisou. — É a primeira vez que você se comporta como uma Relish. Kyle ficaria orgulhoso. 

Suspirei ao pensar no meu pai. Nunca havia o conhecido pessoalmente, e qualquer lembrança que tinha de seu rosto haviam vindo através de fotos. 

— Como ele era? Meu pai…? 

Niklas abriu um sorriso saudoso e nos girou novamente. Ao longe vi Elysha sorrir para mim. 

— Gentil, carismático, irritantantemente positivista, sempre acreditava que tudo iria melhorar, soltava frases de efeito. — Darkless riu. — Ele era um dos meus únicos amigos, estava ao meu lado para qualquer coisa. Desde bebedeiras vergonhosas até coisas que poderiam acabar com nossas vidas. 

— Como… Como ele morreu? 

Darkless me encarou por um longo momento, e somente continuei a dançar porque ele havia assumido o controle desde o começo. 

— Alguém disse a ele que Elysha estava sendo atacada por Lostess, e ele saiu da Corte com dois dos meus guardas. Somente um dos guardas voltou. Era uma armadilha, e Luke usou a filha dele para atrai-lo até lá. Quando cheguei, era tarde demais. Ele já estava cinza.

Me arrepiei por inteira ao ouvir suas palavras e encostei minha testa em seu peito quando lágrimas traiçoeiras encheram meus olhos. Darkless acariciou minha cintura, mas não disse nada. 

— Ele precisa pagar. — Sussurrei. — Luke precisa pagar pelo que fez. 

— Ele vai. — Darkless me garantiu e nos girou novamente, dessa vez, por trás vezes seguidas, fazendo com que eu ficasse tonta. — Luke irá beber o próprio sangue e quando eu o encontrar, irá implorar pela morte. 

— Eu sei que vai. Se existe uma pessoa no mundo em quem posso acreditar firmemente, essa pessoa é você. — Confessei, sinceridade pingando de minha voz. Darkless me olhou surpreso por um longo momento. — Enquanto você viver, sei que Luke não terá paz. Porque você é imbatível. 

Darkless assentiu e algo brilhou em seus olhos. Algo mais quente que respeito, algo estranhamente reconfortante. Carinho. Havia carinho no rosto de Aztraz. E eu tinha certeza de que seus sentimentos eram reflexo do que eu sentia.

A Corte De Sangue - VAMPIRE HISTORY. | CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora