52. Novos Sentidos.

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           𝓓e repente, eu podia ouvir todos os sons, alto e claro. Mesmo sem forças para abrir os olhos, a sinfonia ao meu redor era impossível de ser ignorada. O canto das aves, o burburinho de conversas, passos apressados, choros esganiçados e risadas descontroladas; tudo. Tudo em perfeita clareza. Passos soaram mais próximos, pesados e confiantes. Madeira se arrastou contra o chão, provavelmente uma cadeira. Alguém passou a mão sobre uma superfície de pedra, um suspiro veio a seguir. 

— Porque está mantendo-a aqui, Niklas? — Uma voz masculina perguntou, mas não reconheci de quem era. 

— Porque sei que ela não está morta. — Outro homem respondeu. Familiaridade queimou em mim, mas novamente, não soube quem era. — Ela irá acordar, Taurus. 

— E como você sabe disso? — Taurus perguntou descrente. Um suspiro audivel acompanhou suas palavras, ouvi o som de alguém engolindo em seco. 

— Ela estava com meu sangue em seu organismo. — Niklas respondeu. Sua voz era baixa e limpa, um timbre calmo e confiante que despertava nostalgia em mim. — Ela irá acordar. 

— E você acha que seu sangue será capaz de curar a morte, Niklas? 

Outro suspiro, dessa vez, impaciente. A madeira voltou a arranhar o chão, alguém se colocou de pé duramente. 

— Você realmente acha que meu sangue só é capaz disso? De curar? Você nunca se perguntou porque nunca dei meu sangue a ninguém? O motivo de eu sempre pedir a qualquer vampiro que estivesse comigo parar curar quem era preciso? — A voz de Niklas abaixou até se tornar um sussurro. — Eu posso criar vampiros como eu. Imortais, imbatíveis e invencíveis. 

Ouvi um arquejo de surpresa, ouvi os lábios do outro homem se separarem e novamente se unirem. Ouvi o som de pele sendo arrastada por cabelos, provavelmente o homem estava passando as aos pela cabeça. 

— Porra. — Taurus xingou. — Como você irá explicar que ela reviveu? Imagino que a verdade deva ser um segredo. 

— Obviamente. — Niklas concordou seco. — O mundo dos vampiros viraria de cabeça para baixo caso descobrissem que não só os Lostess podem conceder a imortalidade. 

Outro suspiro. 

— Diremos que a mesma magia que a fez me trazer de volta a vida a transformou. Quem poderá discordar? 

Niklas perguntou irritadiço, mas Taurus não respondeu. O barulho de uma porta abrindo e logo sendo fechada foi a única resposta que o homem familiar teve. Um instante depois, senti uma mão fria em meu rosto. Quis abrir os olhos, mas não consegui. Parecia que eu tinha perdido o controle sobre meu corpo, que estava ali somente de alma. 

— Você irá acordar, Lizzie. — A voz de Niklas sussurrou, dessa vez bem perto de meu rosto. — Eu estarei aqui, para que você me odeie por toda a eternidade. 

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Abri os olhos com dificuldade e encarei um teto branco, vazio. Era estranho, mas eu conseguia ouvir o zumbido da lambada, o barulho irritante dos pequenos mosquitos que a rondavam. Também conseguia ouvir passos próximos a mim, e a sensibilidade de meus olhos fez com o que eu os fechasse para escapar da Liz cegante acima de mim. 

— Porra. — Xinguei ao sentir minha garganta seca, apertada em uma sede que nunca havia sentido antes. Chegava a ser doloroso. 

Cerrei os olhos e me sentei na cama de casal. Não sabia onde eu estava, o quarto sem decoração, totalmente impessoal, não me dava nenhuma dica. Passos rápidos no corredor me fizeram levantar da cama num pulo, e antes que eu pudesse me perguntar quem era, a porta se abriu num clique alto. Não me lembrava de já ter ouvido aquele barulho. 

Num segundo, Darkless estava dentro do quarto, me lançando um olhar assombrado. Ao vê-lo, tudo voltou com força total. A batalha nos jardins, seu sacrifio, sua morte, sua ressurreição. 

— Aztraz… — Sussurrei e novamente a sede inexplicável queimou minha garganta. Levei a mão até o pescoço, sem conseguir entender. — Preciso de um pouco de água… Minha garganta parece cheia de areia. 

— Lizzie… — Darkless sussurrou ao se aproximar de mim e envolveu meu rosto em suas mãos. Pela primeira vez, elas não estavam geladas, e sim em temperatura ambiente. — Não é de água que você precisa. É de sangue. 

— O que? — Engasguei com as palavras, a garganta doendo como se estivesse sendo cortada por vidro. — Sangue? 

— Você morreu com meu sangue no organismo, Lizzie. Você é uma vampira agora. 

Esperei que meu coração batesse acelerado no peito, que a respiração me faltasse, mas não aconteceu. Meu coração permaneceu batendo num ritmo lento, calmo, sem nenhuma alteração. A respiração continuou pacífica e fluida, nada mudou. 

Nada mudou. 

— Não. — Arquejei. — Não, não, não. 

— Lizzie… — Ele tentou me segurar, mas saí do seu alcance. Tentei andar para longe, mas tudo que consegui foi me curvar quando a dor na garganta tomou proporções horríveis. — Lizzie, você precisa de sangue. 

— Eu não vou beber sangue! — Gritei em pavor. Darkless me olhou com tristeza, mas não disse nada. 

O Mestre tirou do bolso o canivete dourado que sempre levava consigo e usou sua lâmina para abrir um corte da dobra do cotovelo até o pulso. Sangue verteu, inerente, vermelho brilhante. O aperto em minha garganta se tornou ainda mais insuportável e os instintos dentro de mim agiram. 

Me joguei contra ele e levei seu braço até boca, as pressas cresceram, surgindo de minha gengiva, e eu cravei meus dentes em sua pele. Darkless me segurou apertado com o braço livre, e me deixou beber dele. Seu sangue já não era mais nojento e amargo, era delicioso, a melhor coisa que eu já tinha experimentado, como mel quente descendo por minha garganta que já não reclamava mais. Mas não era o suficiente. Soltei o braço dele apenas para me erguer e enfiar meus dentes em seu pescoço; ali o sangue fluiu mais rápido, mais quente. Darkless passou ambos os braços ao redor do meu corpo e inclinou seu pescoço para o lado, deixando com que eu me alimentasse diretamente de sua veia. 

Todas as células do meu corpo se acenderam como luzes de natal quando o maravilhoso líquido quente inundou meu organismo. Eu me sentia forte, incrível, invencível. 

— Lizzie, meu sangue vai aplacar sua sede, mas você precisa de sangue humano para se saciar. 

Ao ouvir sangue e humano na mesma frase, eu me afastei dele. Minha nova visão era tão incrível que eu podia me ver no refletida em suas pupilas; meu queixo e pescoço estavam manchados por seu sangue e meus olhos estavam vermelhos. 

— Não. Não beberei sangue humano. — Decidi conforme sentia meus dentes voltarem ao normal. 

— Bebendo somente sangue vampirico, você não terá força, bem estabilidade. Nunca ficará saciada. Daqui a uma hora você voltará a sentir sede, o incomodo horrível na garganta. Com sangue humano, você pode ficar dias sem se alimentar. 

— Não quero… Não posso… — Um soluço cortou minhas palavras e pude sentir as lágrimas frias descerem por meu rosto. Frias. Minhas lágrimas nunca foram frias. — Não posso ferir um humano… 

Darkless me puxou para seus braços e me apertou com força num abraço. Eu havia jurado nunca perdoa-lo, mas como poderia? Havia o visto morto depois dele se sacrificar por seu povo, por mim, por Liam, e dei minha vida por ele. Como poderia julga-lo e odia-lo por tomar uma atitude drástica para não me perder quando eu mesma não conseguia viver sem ele? 

— Iremos resolver isso, Lizzie. Eu prometo. 

Me deixei chorar em seus braços ao ouvir sua promessa, me deixei ter esperanças, mesmo que eu soubesse que não havia forma de resolver aquilo. 

A Corte De Sangue - VAMPIRE HISTORY. | CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora