2. O Mestre de Preto.

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               𝓝ão me lembro muito bem de como cheguei até a Corte da qual Elysha tanto falou nos últimos meses, mas de fato, estava ali, deitada numa grande cama macia, num luxuoso quarto que eu nunca pensado um dia ver pessoalmente. O teto, que eu encarava há horas, era de madeira cor de caramelo e um lustre brilhante pendia dele. As paredes eram brancas como neve e o chão da mesma madeira que sustentava o lustre; as janelas que iam do chão ao teto estavam cobertas com cortinas pesadas, vermelhas como sangue. Sobre a enorme penteadeira do quarto, havia tantos artigos de maquiagem que eu nunca tinha visto, quanto mais tocado, mas eu não tinha interesse de ir até lá, porque isso necessitava que eu saísse daquela cama. Elysha havia dito que também tinha diversas roupas apropriadas no closet, mas eu também não tinha interesse nelas. 

Não tinha interesse em nada. 

Minha mãe nunca tinha sido amorosa, nunca tinha sido carinhosa e eu podia contar nos dedos de uma mão só quantas vezes ela disse que me amava, ou que foi carinhosa comigo. Mas ainda assim, era minha mãe. E ela tinha se matado, jogando-se da janela, porque acreditava firmemente que eu era uma aberração, que me por no mundo, tinha sido uma escolha terrível. 

Elysha entrou no quarto, fazendo meus pensamentos serem interrompidos por sua aparição. Seu lindo cabelo loiro estava preso com grampos de safira num penteado elaborado, que combinava perfeitamente com seu vestido azul com nuances cinzas. Seu belo rosto não precisava de maquiagem, mas ainda assim, ela usava, ressaltando ainda mais sua beleza dolorosa. 

— Querida, nós precisamos ir. — Minha irmã disse com suavidade, abrindo um sorriso de culpa. — Sei que você ainda não se acostumou, depois do que aconteceu… 

— Foi ontem. — Respondi, a voz saindo rouca pelo desuso. — E hoje é um novo dia. 

Elysha me olhou sem entender quando me levantei da cama, provavelmente esperava ter que me convencer a segui-la, mas eu tinha outros planos. Quanto mais cedo tudo terminasse, quanto mais cedo provassemos que ela tinha sim direito ao seu lugar no Conselho, mais cedo eu iria embora daquele lugar. 

Assentindo satisfeita, Elysha caminhou até o closet e se enfiou lá por um momento, antes de voltar com um vestido azul marinho estirado sobre os braços. Encarei a peça, passando os olhos pelo decote comportado e o tecido nobre e respirei fundo. 

— Não posso vestir algo preto? 

Elysha arregalou os olhos, esbabacada com uma pergunta que eu jurei ser boba. 

— Não, claro que não! — Exclamou. — Jamais, jamais use preto. É a cor do Mestre Darkless. Só ele pode usar preto. 

Quando ela percebeu que eu não entendia nada, começou a explicar: 

— Todas às onze famílias tem uma cor específica, que deve ser usada sem excessão por todos da família em ocasiões oficiais, como a de hoje. A nossa, é a azul. Fora dos momentos oficiais, podemos usar qualquer cor, mesmo que seja a cor de outra família, exceto, preto. Preto é a cor da família do Mestre, e somente ele pode usar, um modo de reconhecer que ele é o soberano. — Elysha deu de ombros. — Ele até pode usar outras cores, mas eu nunca o vi com nada que não fosse tão escuro quanto preto e se alguém aparecer de preto perto dele, provavelmente vai perder a cabeça. 

Continuei encarando Elysha, me perguntando quando ela diria que o drama das cores era uma brincadeira estranha. Não aconteceu. Respirei fundo para conter a vontade de revirar os olhos e peguei o vestido da mão dela, indo em direção ao banheiro que era duas vezes maior que meu antigo quarto. 

O banho foi rápido, não utilizei a banheira enorme, e nem me demorei com os produtos que me eram estranhos. Após sair do chuveiro, me enxuguei com rapidez e me enfiei dentro do vestido azul marinho, que tinha adoráveis mangas curtas ao redor dos ombros, sendo acinturado com um fino cinto de couro, da mesma cor do tecido. O vestido ia até abaixo dos joelhos, e se a situação fosse diferente, acharia encantador. Mas nada daquilo era encantador, principalmente quando saí do banheiro e encontrei Elysha segurando um par de saltos pretos. 

A Corte De Sangue - VAMPIRE HISTORY. | CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora