Capítulo 19

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A dobra nunca pareceu tão amedrontadora como agora. Um silêncio ansioso preenchia o ar a ponto de se tornar sufocante. 

Alina estava de pé no esquife, encarava a tenebrosa muralha negra a sua frente. As memórias das últimas vezes estavam lá, lhe assombrando como um fantasma. Aleksander estava ao seu lado, seus olhos também fixos na dobra. Ela o encarou por um instante, suas cicatrizes pareciam piores agora, como se brilhassem com o poder da dobra. Seu olhar era inexplicável, ele parecia não respirar. 

Ninguém precisou dizer uma só palavra pra que Alina soubesse o que fazer. Ergueu suas mãos sem muito esforço e uma esfera luminosa protegeu todo esquife das sombras e dos volcras. 

"Estamos indo bem" disse Zoya, conduzindo o esquife ao lado de outro Aeros. "Tudo bem por ai? Parece um enterro"

"Estamos bem Zoya" respondeu Alina respirando fundo, se concentrando para manter a esfera. 

O grito ensurdecedor dos Volcras foi o primeiro sinal da distância que estavam. Eles berraram e se contorciam quando tentavam se aproximar da luz. Queimando-se, os mais corajosos se partiam ao tentar atravessar. Alina olhou para Aleksander, ele estava pálido, quase doente.

"Você está bem?" ela sussurrou para que os outros não ouvissem.

"Estou" ele afirmou tenso. "São só as cicatrizes, acho que tudo fica mais intenso aqui dentro"

"A luz... deveria ajudar"

"E está querida, eu estou bem, estamos quase chegando"

Ao redor todos começaram a se preparar. Encheram seus coldres, rechearam todos os bolsos com munições. Poderia ser tudo em vão, mas sem a resposta do outro lado da dobra eles não poderiam ter o privilégio da dúvida. Não haveria escolha senão a que já haviam feito. 

O esquife deslizou sobre a areia apodrecida até o outro lado. Alina então abaixou as mãos devagar, estava impressionada com a facilidade de tudo isso, seus esforços no treinamento haviam levado a algum lugar afinal. Seu olhar calmo se derreteu quando encarou o cais da cidade. Ela se lembrava dos estragos feitos pela expansão da dobra, mas aquilo ainda era perturbador. 

Rapidamente homens armados dominaram todo cais, irritados com suas miras apontadas.

"Eles já me viram" alertou Aleksander. 

Alina então colocou o plano em ação. Com a cabeça erguida, ela e o restante de sua tripulação desembarcaram em silêncio. 

"Não hesitaremos em atirar. Se ele erguer um dedo, matarei todos" disse o general. Nikolai havia comentado sobre ele.

"Acredito que tenha recebido nossa carta General Zlatan" disse ela.

O homem abaixou a arma na altura da cintura, ainda apontada para Aleksander. 

"Você é a conjuradora ?" ele perguntou com desdém.

"Mas você já sabia disso" ela disse firme. 

O general a encarou por um instante, depois olhou para toda tripulação. 

"Então é mesmo verdade? Você veio derrubar essa coisa?"

"Podemos discutir esse assunto sem todas essas armas pontadas para nós?"

O general avaliou toda situação por uns instantes, murmurando coisas aos seus aliados que Alina não conseguiu compreender.

"Certo, vamos conversar em outro lugar" disse abaixando a arma. "Revistem o esquife, não deixe ninguém sair até que eu mande"

Alina encarou rapidamente Aleksander, que parecia analisar todo ambiente a sua volta. Seguiram Zlatan até uma grande tenda bagunçada perto dali. A situação era precária, mas ele parecia não se incomodar.

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