Capítulo 4

1.2K 124 8
                                    

Ao chegar no acampamento as mãos de Alina suavam ao pensar em ver Genya. Seguiu ansiosa o soldado que Aleksander convocou para levá-la até a tenda onde Genya estaria. Ela só não esperava encontrá-la naquele estado. 

"Pelos Santos!" disse Alina com as mãos na boca. Genya se virou completamente em um pulo, arregalando os olhos. 

"Alina?" ela disse erguendo as mãos amarradas. 

"Solte ela! Solte agora!" berrou Alina para o soldado, que não hesitou em seguir as ordem. Ela observava os pulsos machucados de Genya, as olheiras em seus olhos, seus cabelos bagunçados e o pior de tudo, as manchas negras que subiam por parte de sua mão direita e os arranhões manchados de preto em sua bochecha e pescoço. 

"O que ele fez com você?" disse ela com lágrimas nos olhos, abraçando Genya, que tremia e hesitava em retribuir o abraço, mas Alina a apertou ainda mais forte, desejando que o abraço apagasse tudo de ruim que tinha acontecido. 

"Acho que nem ele mesmo sabe o que fez" disse Genya segurando os soluços. "Ele estava perturbado Alina, andava de um lado para o outro, olhava para mim vez ou outra. Ele me perguntou o por que não fugi com vocês quando você entrou naquele barco, e eu disse que tive medo. Ele me encarou por um tempo, disse que não estava certo, que ele deveria nos acolher e não nos assustar, ele estava confuso. As criaturas que ele criou, os nichevo'ya" as palavras sumiram da boca de Genya, ela encarou a mão negra e apertou o punho, as lágrimas tanto dela quanto de Alina escapavam sem controle. "Ele nem a viu crescendo atrás dele. Foi como se uma fúria maior vindo de dentro tomasse conta dele. A criatura me atacou antes que ele pudesse interromper. Eu tentei me proteger com os braços. Ele ficou desesperado, pude ver o medo nos olhos dele".

Alina segurava as mãos de Genya com força, negando com a cabeça. Mais uma vez a razão apertava seu coração e mostrava como isso não estava certo. "Genya eu sinto muito, eu sinto muito de verdade por favor me desculpe" ela se lamentava entre as lágrimas. 

"Por que está se desculpando Alina?" ela perguntou confusa "Alina como... como você chegou aqui ? Onde ele está?". 

Ela a olhava com medo, com um terrível medo de seu julgamento. "Genya, eu... eu e o Nikolai" ela começou tentando pensar em um modo menos catastrófico de dizer que se aliou ao inimigo por uma trégua. 

"Nikolai? O filho do rei? Como". 

"Eu vou explicar tudo, prometo. Sturmhond é o Nikolai. Longa história, mas formamos uma aliança. A questão é que criamos um acordo. Uma trégua. Uma trégua com Darkling" disse Alina, mas parou de falar assim que viu a reação de Genya. 

"Em troca de que?" ela disse séria.

"Bom, no acordo iniciaríamos um tipo de embaixada nos países, para proteger os Grishas. Paz para os Grishas em troca da destruição da dobra". 

"Colocou um preço para acabar com a dobra?" perguntou Genya indignada. 

"Não é bem isso... é mais como uma garantia para o nosso povo. Estamos sofrendo ameaças de todos os lugares, o outro lado da dobra quer emancipação, Fjerdanos e os Shu estão ameaçando um ataque a qualquer momento. Nosso povo está dividido, e ele é o único capaz de colocar medo em nossos inimigos. Não temos soldados o bastante. Não posso derrotá-lo, então estou usando a crueldade dele para algo útil".

 "Útil Alina? Acha o que ele fez comigo útil?" ela disse se levantando. 

"Estou tentando garantir que ninguém mais sofra Genya, eu não vejo outra opção. Não tenho força o bastante para derrotá-lo". 

"Não quero fazer parte disso. Não quero servir a ele. Mas você não me respondeu Alina, o que ele ganha em troca? Ele poderia conseguir tudo isso sozinho, ele poderia te usar de novo para destruir a dobra só quando ele quiser. Então o que ele ganha em troca?". Alina observou o olhar de desgosto nos olhos de Genya, que a observava dos pés à cabeça. 

"É você não é? Você é o prêmio" Ela disse se lamentando "Pelos Santos Alina, você não fez isso".

A vergonha nos olhos de Genya fez Alina virar se virar, afundou o rosto nas mãos e deixou as lágrimas saírem. 

"Não é um sacrifício, Genya. Eu queria muito que fosse, mas de algum modo eu sei que é a melhor coisa a se fazer. Estou tentando entender o lado dele, lutando todos esses anos pelos Grishas e por Ravka, e olha onde estamos, não há outro jeito". 

"Há milhares de jeitos Alina, milhares onde você não tem que estar ao lado dele". Ela se encolhia de vergonha, sabia que deveria se manter firme. Mas Genya estava em sua frente, machucada, com uma marca que não sairia, mais uma ferida feita por outro homem com poder demais.

"O acordo já foi assinado?" ela perguntou. 

"Será em breve, quando chegarmos em Os Alta"

"O rei. Terei que servi-lo novamente?" ela perguntou com a voz triste. 

"Não enquanto eu estiver viva". Genya a observou, caminhando de um lado para o outro. "Estou tentando concertar as coisas. Não posso simplesmente acabar com a dobra, matar o Darkling e salvar todos os Grishas sem ferir alguém. É simplesmente impossível. Eu não poderia colocar mais pessoas contra ele, chega de sacrifícios" lamentou Alina. 

"Todos que lutam ao seu lado escolheram isso Alina. Nenhum deles se importaria de morrer se fosse por uma causa justa". 

"A causa ainda é a mesma". 

"Certo, você só mudou a estratégia para a mais podre possível". 

"Genya, você também fez coisas em troca da sua liberdade, também se juntou a ele. Por favor, precisa dar uma chance, quando chegarmos em Os Alta você verá o que estou tentando dizer".

Ela se sentou novamente. Alina podia ver seus pensamentos acelerados, a angústia nos olhos dela enquanto ambas sofriam em silêncio. "Isso nunca mais vai acontecer. Nada nunca mais vai acontecer a você enquanto eu viver. Isso é uma promessa". Genya assentiu. 

"Você não pode garantir isso. Ninguém pode" ela sussurrou "Mas sei que vai tentar" forçou um sorriso. "Ainda acho um plano ruim, mas confio em você. Você confiou em mim e eu a traí mais de uma vez. E você ainda está aqui. Não é como ele". 

"Carrego a inocência que ele perdeu a muito tempo atrás. Espero que isso ajude em alguma coisa".

Genya encarava as marcas no braço, se lembrando do medo que sentiu, lembrando de tentar se proteger com os braços e agora eles estavam assim, marcados eternamente. "Acha que vai melhorar?" perguntou Alina. 

"Não faço ideia, ele tentou enviar um curandeiro, mas não adiantou". 

"Ele enviou um curandeiro?". 

"Por mais que eu queira acreditar que ele fez de propósito para me ferir, não acho que foi a intenção dele. Pelo menos não desse jeito" respondeu Genya. 

Alina assentiu, encarando o chão. Isso é um sinal de esperança certo? pensou ela. "Nós partiremos ao amanhecer de amanhã. Vou mandar alguém para cuidar dos seus machucados, e trazer uma comida decente. Eu posso passar a noite aqui se você quiser" disse Alina esperançosa. 

"Eu gostaria. Mas preciso de um tempo para me recuperar. Preciso" as palavras fugindo de seus lábios, ela não precisava continuar. Alina assentiu sem que ela precisasse terminar, e a abraçou uma última vez.

beyond darknessOnde histórias criam vida. Descubra agora