Alina observava o apavorante momento pré-guerra.
Aquela não era a primeira vez que assistia ao marchar dos soldados, os gritos dos comandantes, a multidão correndo com tudo o que lhe restaram para o mais longe dali. Também não era a primeira vez que toda uma nação dependia dela, que o mundo todo esperava que ela colocasse um fim em uma angústia de séculos.
Mas aquela era a primeira vez que ela se sentia capaz disso.
Ela observou um grupo de jovens, carregando os pergaminhos e mapas de dentro das tendas. Uma garota a fez lembrar de si mesma. Era a última do grupo, segurando mais peso que podia carregar, tropeçando nas próprias botas. Tentou se lembrar de quando era como aquela jovem, se sentindo frágil e incapaz o tempo todo.
Agora estava ali, sentindo o poder pulsar em seu coração, correr pelas suas veias como seu próprio sangue. O poder que passou anos escondendo e negando por razões tão infantis que a fazia sentir pena da antiga Alina. Ela aguardou, observando a dobra, até Aleksander aparecer ao seu lado.
"Estão quase prontos" ele disse calmo. "Como se sente ?"
"Estava pensando justamente sobre isso. Uma jovem passou por aqui, era muito parecida comigo. Frágil, um pouco atrapalhada, sempre a última do grupo. É estranho me lembrar que essa versão minha já existiu"
"Eu me lembro a primeira vez que vi você" ele disse com um sorriso tímido.
"Na tenda? Depois de explodir em luz e tudo mais ?"
"Não. Essa não foi a primeira vez"
"Como não ?" ela perguntou surpresa.
"Eu estava dentro da carruagem a primeira vez que te vi. Sempre gostei de observar as pessoas. Mesmo depois de muito tempo é interessante ver como cada um é diferente, mesmo que alguns tentem desesperadamente ser comuns. Você não era nada comum."
"Eu estava provavelmente suja e cansada quando você me viu"
"Todo mundo está sempre sujo e cansado no exército, querida. Mas foi algo em seu olhar que me abalou. Quando você olhou para dentro da carruagem, provavelmente você não me viu. Mas eu vi você, e estava olhando diretamente para mim" ele fez uma pausa, encarando os próprios pés.
"Quando você apareceu na tenda eu mal pude acreditar. Então eu testei você. No momento em que eu toquei na sua pele eu senti, Alina. Senti que tudo iria mudar"
"Acho que você tinha razão" ela disse segurando sua mão. "E você, como se sente?"
"Para ser sincero? Estou apavorado. Não por ver minha terrível obra desaparecer, mas as consequências de tudo isso"
"Que seriam..."
"Bom, se tudo der certo"
"e vai" ela interrompeu.
"Isso. Depois que tudo der certo, vai ser um grande caos reunir toda Ravka de novo. Sem contar que Zlatan provavelmente vai nos trair, ou pedir minha cabeça, o que vier primeiro. Estou exausto só de pensar"
"Nós deveríamos tirar uma folga depois disso não acha? Ir para algum lugar mais ensolarado, sem tanta gente querendo nos matar ou nos transformar em Sanktos"
"Se me prenderem depois do meu julgamento eu vou finalmente poder dormir" ele disse rindo.
"Ei, não vão prender você"
"Nikolai vai ter que dar justiça ao povo, ou eles me matam, ou me prendem"
"Você pode fingir que morreu de novo e começar uma nova vida"
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beyond darkness
FanfictionCom Ravka sofrendo ameaças de Fjerda e Shu Han, Alina propõe um acordo ao seu inimigo Darkling, para unir forças e salvar Ravka da destruição eminente.