Em alta velocidade, manjiro sano

6

Minutos se passavam e as conversas dentro daquele quarto estavam se tornando mais engraçadas. Minha avó simplesmente falava de suas doideiras que fazia na adolescência e o Juan ria, fingindo que entendia. Faltava uma hora para eu poder deixar o Juan em casa com o senhor Kim e partir para o trabalho.

— E aquele velho fedorento, me traiu! - Minha avó diz, mostrando os punhos.

Dou uma gargalhada alta e me jogo na poltrona toda desengonçada. Ela é uma velha com a boca mais suja do planeta, mas modera no xingamento quando o Juan aparece.

— Sério? - Juan abre a boca surpreso.

— Acha que eu estou mentindo? Juan, nunca traia sua amada. - Aperta seu nariz e fica balançando.

— Como assim?! - Faz um olhar confuso.

— Você ainda é muito novo para entender essas coisas. - Me levanto, indo em direção a cama e bagunço seu cabelo. — Está gostando de conversar com a vovó?

— Muito, muito! - Ele afirma e abre os braços. — Estava com muita saudade!

— Igualmente, meu neto! - Minha avó sorri.

A porta se abre, e uma enfermeira aparece ali com alguns medicamentos na bandeja de metal e soro ecológico ao lado. Me aproximo do Juan, passando minhas mãos por de baixo de seus braços e o subo para o meu colo. Me sento na poltrona com ele e ficamos observando quietos a enfermeira ajudar nos medicamentos.

Eles conversavam algo baixo, minha avó tinha uma expressão chateada. Depois dela acabar seu afazeres de sempre, Juan sai dos meus braços e corre para cama novamente ao lado dela.

Me levanto também, mas a enfermeira que continua na sala, toca em meu braço.

— Senhorita Ramos, será que poderíamos conversar? - Ela faz uma referência, e me pergunta com receio de minha resposta.

— Oh, claro! - Me afasto dos dois, e vou seguindo para fora do quarto com a enfermeira.

Fecho a porta devagar e suspiro tentando me acalmar diante a situação. Ponho minhas mãos no bolso de cada lado da calça. A enfermeira fica me encarando, mexendo um pouco nas mãos nervosas.

Por que ela está tão nervosa?

— Eu não deveria estar falando isso, mas... - Tosse para recuperar a voz. — A sua avó poderá partir esse mês.

— O que? - Falo rápido. — Como assim? - A enfermeira encolhe com minha reação.

— Sua avó não queria que falasse, dizia que você tinha muitas coisas para se preocupar.

Isso não pode acontecer.

— Meu Deus do céu... - Encosto na parede, colocando minha mão na testa.

A minha vontade era de chorar ali mesmo. Levo minhas mãos até meus cabelos, e as apertei puxando com força. Meu coração batia na velocidade de meu pé que se agitava no chão nervoso.

— Eu sinto muito.

— Ela está escondendo isso de mim a quanto tempo?

— A uma semana. - Diz em sussurro. — Sinto muito mesmo, vejo como você e seu irmão estão com ela, vai ser uma perda difícil.

Outra pessoa indo embora.

Conheço minha avó, ela tem o dom de manipular as pessoas para ter o que quiser. Não duvido nada que subornou os podres dos enfermeiros, para não me contar absolutamente nada. Como é que ainda doente, ela consegue fingir seu papel de atriz barata?!