★ Capítulo 05★

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Ela riu e eu disse que ia desligar. Dormi bem, sem pesadelos. Acordei às 07:00 da manhã, arrumada e pronta para trabalhar, limpava uma casa de família três vezes na semana, segunda, quarta e sexta, havia uma menina de 6 anos e seus pais trabalhavam fora justo no dia em que eu fazia a arrumação toda, tinha mais uma empregada também, Olívia, ela cozinhava e era simpática comigo, foi ela que me ajudou com esse emprego inclusive. Eu estava limpando o quarto de Anne quando ela puxou a perna da minha calça.

– O que foi Ane?

– Não quero comer isso.

Ela disse olhando para o prato colorido, que Olívia havia preparado para ela me agachei e recebi o prato de suas mãos. O olhei e disse:

– Pode parecer estranho mas ele é gostoso.

– Como você sabe?

– Porque já provei disso aqui, conheço o gosto.

– Mas é muito esquisito.

Refleti um pouco e continuei.

– Eu já devo ter te contado que na escola todos me acham entranha, não?!

– Sim. Menos a… Sônia.

– Isso. Você me acha estranha?

– Não…

– Por quê?

– Eu não acho porque te conheço e você é super legal.

– Exatamente. Eu conheço esses legumes e eles são super legais, além de fazerem um bem danado pra nossa saúde.

Ela pareceu pensativa, recebeu o prato da minha mão e me ofereceu uma batatinha, abri um bocão e ela fez o mesmo, pondo um pedaço na minha boca e depois comendo também.

– É bom.

– Não te disse! Claro, vai ter algumas que você não vai gostar, mas é preciso…

– Conhecer para saber como é o gosto!

Ela terminou, contente.

– Isso, garota esperta! Agora sente-se na mesa, vou terminar meu trabalho.

Ela saiu andando para a mesa e Olívia sorriu para mim em aprovação.

– Não sei o que faria sem você.

Ela me disse.

– Eu também não.

Eu disse, fôra ela que me arrumara o emprego que tanto precisava, recebo um salário sendo que só limpo a casa TRÊS vezes na semana, os pais de Anne são gentis e nos tratam bem, costumo almoçar aqui e Olívia também, como eu ela é solteira e mora sozinha, mas tem família próxima e já está na casa dos trinta. Ela é morena e tem os cabelos tingidos de castanho nas pontas, cacheados e volumosos quando os solta do coque. Sempre faço um rabo de cavalo, já pensei em cortar o cabelo curto, me pouparia tempo até, mas gosto dele assim, passa uns cinco dedos dos ombros e é cortado reto, também é cheio como o de Olívia. Depois que tudo estava pronto e já havíamos almoçado também, tinha que ir embora, tomar banho e me preparar para voltar à escola. Corri do abraço de Anne por estar não muito limpa e me despedi de Olívia sorrindo. Arrumava a casa por completo no sábado, sou organizada e morar sozinha ajuda enquanto a isso. Tirei uma soneca, era 01:00 da tarde quando comecei a me arrumar apressadamente não sei porquê. Tranquei a porta como sempre, abrindo o portão me surpreendi.

– Thomas?

– Decorou meu nome em?!

– Sim.

– Está indo para a escola?

– Estou.

– Posso te acompanhar?

– Pode.

Fomos de moto, quase me arrependi se não fosse pelo vento nos cabelos, gostava daquilo, e também gostava de ir a pé. Desci da moto e logo vi os olhos arregalados de Sônia. Fui até ela, Thomas me seguindo logo atrás.

– Oi, lindinha.

– Oi.

– Oi! Eu sou o Thomas.

Sônia sorriu sem mostrar os dentes e me puxou para o lado para sussurrar algo.

– É um gato!

Eu ri e concordei.

– Mas ainda acho o Justin um pedaço de mal caminho.

Afirmei. Ela ficava irritada quando eu falava assim do professor, temia que eu fosse apaixonada por ele e tivesse problemas com isso, mas dessa vez nem ligou para mim, se voltando para o rapaz próximo de nós.

– Vai ficar na nossa turma?

– Não tem como ele saber.

Eu disse.

– Ah sim, eu vou. Pedi que me colocassem na mesma turma da Bonnie.

O encarei por alguns segundos e dei de ombros.

– Tuuudo bem, vamos?

Disse Sônia agarrada a mim, pela primeira vez o colarinho alto da blusa que eu vestia por baixo do fardamento pareceu me sufocar um pouco. Ele sentou na cadeira em frente de Sônia, eu na outra fileira sorria com a expressão de minha amiga. Os olhei disfarçadamente e concluí, eles combinam. Lembrei de Tom… havia me proibido de chamá-lo assim, ele não merecia meu afeto mas era inevitável. Como seria se eu o tivesse procurado? Um inferno, disse para mim mesma, não podia cair na ilusão de ter uma vida com um maníaco que me amaldiçoou a ficar longe do toque humano… o qual é tão precioso, não posso sentir nada sem que minha pele esteja coberta, as sensações de antes… todas se foram… talvez eu devesse tê-lo processado, mas que provas teria?! Nem existem câmeras na minha rua, depois eu não podia falar sobre isso… sobre o que sou, primeiro ninguém acreditaria e depois que eu mostrasse me prenderiam e tentariam fazer experimentos comigo, isso na melhor das hipóteses, já me vi com uma bala no meio da testa e no coração também. Já lancei várias hipóteses sobre o que fariam caso me descobrissem, nenhuma delas termina bem. Percebi que focar na aula seria mais produtivo, foi o que fiz. No refeitório comemos nós três, não houve uma apresentação formal do novo integrante da turma, os alunos ( principalmente as garotas) o cumprimentavam com um aceno ou sorriso tímido, ele retribuía fazendo o mesmo.

– Quantos anos você tem?

Perguntou Sônia para ele.

De Encontro Ao Passado Por Um Futuro Melhor.Onde histórias criam vida. Descubra agora