Capítulo 29

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Acordo com um barulho de um telemóvel a tocar a meu lado.
Abro os olhos, vejo o meu irmão e reparo que já escureceu, o que me indica que devo ter dormido durante algumas horitas.

-"É a Sara, queres falar com ela?"-
O Hugo posiciona-se mais perto de mim com uma expressão facial neutra.

-"Sim idiota, eu é que lhe disse para me ligar. E já agora, estou sem telemóvel."-

-"Já tratei disso. Agora pega o meu"-

Faço o que ele diz e tento clicar no botão de "atender", nao consigo fazer , e dou sinal ao Hugo para que o faça.
Agora está no alta voz e o telemóvel apoiado na beira da cama.

-"Olá"- digo primeiro.

-"O que se passou?"- ai outra vez não.

-"Depois da aula de natação deu-se o acidente. E agora aqui estou eu." -
-"Uhm OK" - ouço do outro lado da linha.

-"Podias ter vindo visitar-me, tinha ficado contente."- o meu irmão põe-se a pé e caminha pelo quarto. Agora... Irrequieto e irritado? Não entendo.

-"Não desconfiei de nada, porque podia ser outra vez aquela crise que eu achei estúpida que tiveste da outra vez e que estivesses a ignorar-me ou algo assim, ou então tu a seres tu, uma nerd que precisasse de estudar o dia todo."- o que se passa com ela? Tem-me dado respostas e mostrado atitudes não muito agradáveis. Uau, mas um uau pela negativa. O Hugo olha para mim com um olhar de "Desliga essa porra, porque ela foi muito egoísta e má contigo "

-"Pois"-

-"Ai nem sabes, o que passou hoje, marquei um date com o novato."- o H revira os olhos e  fazendo jus ao pensamento dele, só diz assim à Sara:

-"A minha irmã liga-te mais tarde, se não te apercebeste ela está no hospital e precisa de cuidar dela."- e desliga

-"Mas que lata"-

-"Também pensei isso."-

-"Quer dizer, tu no hospital e ela a tentar ser o centro das atenções, pelo amor de deus. E a desprezar a saúde mental. Menos, muito menos."-

-"Enfim. Podes-me chegar esse copo de água?"- ele tem razão no que disse, se bem que não quero admitir, afinal de contas... ela é a minha melhor amiga, não é? Dou uns goles e termino com o líquido. Com isto, tentei desviar a conversa.

-"Sim. E olha a mãe já vai embora hoje do hospital, por isso vou ter que a levar para casa e vais ficar sozinha por pouco tempo. Além disso, o fim de semana com o pai era este, mas como precisas de repouso vamos para o próximo."-

-"Falando nisso, preciso de ajuda para o próximo sábado."-

-"Qual ajuda Marta?"-

-"Porque o..."-

Somos interrompidos pela mãe, pelo médico e pelo Treinador. A sério? Posso-me fingir de morta?por uns minutos? Mais valia
É a primeira vez que vejo a minha mãe desde o acidente, e, sendo honesta está com um ar de quem não ia matando a filha. Entram e fecham a porta. O H vem para mais próximo de mim.

-"Boa noite, Marta. Eu sou o teu médico. Chamo-me Carlos."- apresenta-se.

-"Boa noite."- digo-lhe com boa educação.

-"A tua mãe já me esteve a informar do teu excelente desempenho na natação. Ela está preocupada com consequências, e foi informada de que não haverá problemas a longo prazo."-

-"Ah claro que sim, porque a mãe só se preocupa com a natação" - o Hugo diz num tom de voz baixo, derrotado e principalmente cansado da conversa da nossa mãe.
Todos ouvem, mas não respondem. Apenas há uma troca de olhares entre a minha mãe e o treinador. E entre o meu querido irmão e a minha mãe. Muito intensa esta troca de olhares.

Do outro lado da pistaOnde histórias criam vida. Descubra agora