Capítulo 34

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    Enquanto subimos as escadas para o quarto dele recebo uma mensagem da Sara a dizer que precisa de ajuda.
Por mais que adore ajudar não posso. Literalmente agora não posso.

   O Tiago olha para mim e pergunta-me:

-"Humm já tens de ir?" -

-"Achas, não! Era só a Sara a pedir-me ajuda. Além disso, está a chover imenso."-

-"Disso não hajam dúvidas. Bem vinda ao meu quarto" -

Abre a porta e mais uma vez esforço - me para não ficar especada e de boca aberta.

-"Para rapaz tens o quarto muito limpo" - O quarto tem o cheiro dele.

Cede-me a passagem deixando - me passar primeiro. Como um cavalheiro.
  Entro e espero que diga para onde me sentar. Não o faz e vai por música baixinha na sua aparelhagem. Põe "alone" do Alan walker. Adoro esta música, se não a minha preferida.

-"Gostas Mar?" - pergunta sentando-se num sofá azul que tem, pousando antes o seu copo com água e gelo na mesinha de cabeceira. Pouso o telemóvel na secretária, ponho com som caso o Hugo ligue, e vou ao encontro dele.
Sei que ele já não é propriamente virgem e que para ele estar num quarto com uma gaja deve ser perfeitamente normal. Mas pela reação dos pais, não parece que ele traga cá a casa muitas moças.
Se bem que para mim, é íntimo. Só tive um namorado mas nunca passou de beijos nem nunca fui a casa dele jantar sem a minha mãe lá.

  Sento-me perto dele e os nossos joelhos tocam-se.

Não sei que dizer.

Componho o cabelo, mas a mexa cai.
Ele faz isso por mim e fica perfeito.

-"Estas bonita hoje Mar" -

-"Só hoje?" - dou um pequeno sorriso.

-"Sim só hoje."- ironiza.

-"já tu nem hoje" -

    Ele parece reparar algo em mim que lhe causa preocupação. Tento perceber o que é, mas até para mim é óbvio.

-"O que tens na mão?" -

-"Ah isto não é nada...humm...Foi do acidente" - minto. O som da chuva misturado com a música, contrasta com o ambiente neste momento.

-"Mar,... Por favor" - faz o mesmo joguinho que fiz com ele ao bocado.

-"Tiago... A sério...não é nada"- o meu tom de voz trai a minha tentativa de tentar mostrar que isto não é nada.

Vejo nos olhos dele que ele sabe que estou a mentir...vá...a ocultar a verdade...

"-Marta, sabes que podes confiar em mim...confia em mim, por favor."-

-"Tabem...Mas tens de Prometer que Não contas a ninguém, por favor. Estou a falar a sério." - Chego mais perto dele. Ele acaba por me abraçar para que eu me sinta confortável. Eu quero-o olhar nos olhos. No hospital óbvio que repararam no estado das mãos mas eu inventei uma desculpa credível.

-"Eu não conto. Eu prometo-te."-

-"Sabes... Quando eu era mais pequenina não conseguia dormir em casa de ninguém. Nessa altura não sabia porque. Nessa altura, evitava que a minha mãe me levasse a casa de alguma amiga, pois sempre que sabia que havia a probabilidade de lá dormir...." - paro um pouco para pensar.

-" Estas a ir bem Mar"-  dá-me um beijinho na testa.

Prossigo com dificuldade... Mas faço-o para me sentir melhor.

-"eu não conseguia comer. Ficava de tal maneira a pensar e a entrar num conflito comigo mesma, que não conseguia mesmo comer. Ficava doente e davam-me os vómitos. Sempre dei a desculpa à minha mãe que o problema era dormir. Agora que penso.... Acho que se tratava de ansiedade. E essa ansiedade revelava-se na hora de comer. Não entendia, não entendo e penso que nunca vou entender o porque de ser na hora de comer. Automaticamente ficava com ainda mais borboletas na barriga. A necessidade de voltar para casa, a ansiedade de saber fazer o que vamos fazer a seguir, a ansiedade, simplesmente Atacava-me. Eu era uma criança não tinha necessidade de ter ansiedade...-" ele não interrompe apenas olha para mim, sem julgamento. E eu procuro os olhos dele. -" Pode parecer estúpido, mas para mim na altura era uma assombração. Davam-me borboletas na barriga sempre. Até que um dia... foi o dia. Fui dormir a casa da Sara, e apesar de estar nervosa, tentei deixá-los de lado e combati esse medo. "- estou lavada em lágrimas. Foi uma fase da minha vida que felizmente já passou, mas custou a passar. E, agora que já foi, agradeço a Deus e a todos os santinhos que combatem a ansiedade. Nem eu sei o que era ao certo... Medo? Passou, mas ainda não passou de todo. Confesso a mim mesma que ainda fico nervosa, mas como sei que já correu bem e me mentalizei que era tudo psicológico consigo passar dias foras de casa. -"Ver a dor, preocupação e medo nos olhos da minha mãe era o que mais custava. Ela sem saber o que realmente fazer. Ela até queria que eu fosse a um psicólogo... Eu disse sempre que não era preciso..."-

Do outro lado da pistaOnde histórias criam vida. Descubra agora