Capítulo 32

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Continuação de sexta-feira

     Durante a viagem o tempo piorou, o que pode ser visto como um mau indício.
Quero acreditar que não.
Confesso que estou nervosa devido ao jantar que se aproxima, porém tento me manter o mais calma possível.

Chegamos rapidamente à casa do nosso pai. É obviamente mais pequena que a nossa, mas não deixa de ser grande.

-"Olá filha, queres ajuda?"- pergunta após o H estacionar e abre-me a porta.

-"Então pai"- cumprimento, esboçando um sorriso no meu rosto já pouco magoado.

-"Filho"- diz o meu pai quando o Hugo sai do carro, para abrir a mala com as coisas.

O Hugo esforça-se para lhe dizer um simples "Olá".

Enquanto eles se ocupam com as 2 malas eu tomo a inicitiava de nas minhas calmas ir entrando para casa.

Avisto ao longe na garagem a mota que o meu pai me prometeu que me iria dar assim que eu atingisse os 18;

Ambos sabemos que não é preciso ter mais que 18 para a carta da mota, mas assim fica mais económico.

  Assim que entro lembro-me dos poucos mas bons momentos que já aqui passei. A casa tem um ar moderno e está como o habitual. Os sofás pretos no mesmo sítio, a cozinha com os móveis modernos vermelhos e o ar cheiroso. Para um homem que não sabia lavar uma loiça safa-se bem.
   O meu quarto é lá em cima mais o do Hugo e ainda tem mais outro no piso de cima. Já o do meu pai é cá embaixo.

Uma vez que eles ainda não vieram para dentro, decido ir lá em cima dar uma olhada. O quarto que aqui tenho certamente é bastante aconchegante, num estilo branco e rosa claro. As paredes no tom de mais rosa claro possível, e, além disso, tem um daqueles baloiços em formato de asa. A cama estofada com a coberta branca e uma risca rosa, preenchida com muitas almofadas toma grande parte do espaço e está feita de lavado. A iluminação é embutida, esta secretária com a cadeira a condizer tem uma história por detrás bastante cómica e podia continuar a descrever o quão lindo este quarto é.... Porém lembro-me que passo cá pouco tempo.

  Eu sei que não me devo habituar a coisas incertas, não devo mesmo. De todo.

    Visto o pijama que está sempre guardado nas gavetas, pois a mala não está aqui. Visto o pijama que trouxe na mala amanhã.

  Como ouço finalmente barulho no andar de baixo, desço as escadas e vou ao encontro deles.

   Reparo no Hugo e parece tenso? Não quero mesmo que fique assim....

-"O pai tem certeza que não se importa de amanhã ficar sozinho?"- questiono para quebrar o gelo.

-"Claro que não princesa."- chamar-me princesa é meio estranho, nem eu sei se gosto ou não -" Sei que me vais deixar para te ires divertir, e gosto de te ver feliz. Mesmo que isso não me envolva. Mas vê lá tu a manha que arranjas que ainda não quero netos."- Não menciona o facto de o Hugo também ir jantar fora, e eu também não faço questão. Sei que sabe, pois fomos nós mesmos a dizer e para que nos encubrisse face à mãe.

-"Pai!... Oh meu deus, não!...Não mesmo"- grunho quase a rir-me e sinto as minhas bochechas a corar.     
Neste aspeto o meu pai está sempre a fazer piadas, o que se torna num fator positivo, e torna estes assuntos menos "tabus". Mas mesmo assim é estranho.

-"Quero conhecer esse menino que anda a roubar a minha menina"-

-"É da minha equipa"- responde o Hugo por mim.

-"Não é assim tão mais velho que tu. Eu e a tua mãe temos bastante mais diferença de idades."- Não parece preocupado com o facto de o Tiago ser mais velho que eu.
Eu e o Hugo decidimos ignorar a parte em que menciona a mãe.

-"Certo. Com que nos vai deleitar no jantar de hoje?"- pergunto para mudar o tema.

   Enquanto isso junto-me ao H no sofá e o nosso pai  liga a televisão e senta-se no outro sofá.

-"Vou mandar vir pizzas claro. Querem jogar wii?" -

-"que criancinha" - rebato.

-"Pai, vou encomendar as pizzas para as 8. Se me dá licença." -

-"Manda vir 5" -  a televisão começa a preencher o som de fundo. - "Não acredito que vou condicionar a alimentação da minha filha devido aos treinos" -

-"Até parece. Sabe que uma excessão não faz mal a ninguém. Além disso, mereço. Estive uma semana mal, preciso de mimos." -

-"Pega o comando para jogarmos." - tem sempre tudo pronto para nós, para que nos consigamos sentir em casa. Podia ter tido sempre esta atenção connosco.... O Hugo vai lá cima pousar as coisas e volta num ápice.

-"Não querendo tocar muito no assunto, mas o acidente trouxe-te ou vai trazer problemas a longo prazo?" - pergunta o meu pai preocupado. Sei que ele não é tão viciado em me manter na natação, diz que é uma distração e uma boa maneira de manter a postura, já que se não fosse a natação eu andava toda lixada das costas. E que se eu tivesse a decisão de abandonar este percursos, ele apoiava-me; Apesar de claro, querer que eu fique. Uma diferença grande entre a minha relação com o meu pai e com a da minha mãe, é que me sinto bem em tratar o meu pai por "tu", com a minha mãe é ao contrario, tem de ser por "você". Ela diz que não a devo tratar por "tu", pois trata-se de uma questão de respeito.

-" Pai... Já lhe expliquei que a Tatá não vai ter problemas" - aparece a sua voz de fundo e não tem condenação quando responde - "Agora vamos lá dar-lhe uma sova neste jogo"- mudança de humor repentina pela positiva do H. Olho para ele e sorrio-lhe.

    O entretenimento dura até as pizzas chegarem. Não fazemos grandes cerimónias do género por a mesa. Como a casa apresenta um "open concept" e da sala se flui para a cozinha, a única coisa que o pai faz é ir buscar 3 copos e guardanapos, para comermos na sala.
Fazemos uma pausa no jogo, e peço ao Hugo que me chegue uma manta.  Apesar do frio lá fora, aqui não está frio, porém nunca dispenso de uma boa manta.
   As pizzas voam num instante e penso que ninguém fica com fome.
Após mais um tempo a ver fotos nossas, e a jogar, o meu pai põe no canal 9 onde está a dar um dos meus programas preferidos, o dos irmãos gémeos que constroiem casas é a seguir vai dar o Survivor de Australia. Adoro!

  Como penso que já fiz a digestão faço sinal ao Hugo que quero encostar a ele e, eventualmente, adormecer.

Encosto-me a ele do meu lado esquerdo, de maneira a evitar aleijar-me, aconchego o cobertor e pego no telemóvel que até então me tinha esquecido de mexer.
O pai vai fazendo alguns comentários sobre o design e tudo mais, e vou concordando. O barulho da ventania de lá de fora faz-se sentir. Adoro mesmo ouvir o som da chuva e do vento. Relaxante por completo.

Vejo que tenho mensagens do Tiago e por pura surpresa uma da Sara.
Abro primeiro a do Tiago, que diz

<espero que ainda nao tenhas desistido da ideia de vir cá >

Não estamos propriamente todas as horas a conversar.
Neste aspeto partilhamos o mesmo ponto de vista. As pessoas têm vida e o telemóvel nem sempre está numa lista de prioridades.
Até porque às vezes me esqueço por completo dele.  Respondo com uma mensagem divertida e abro a da Sara.

<amiga estás melhor? Preciso de ajuda>

Claro que tinha que vir com um pedido.

<Diz-me> digito apenas isso.

Largo o telemóvel e direciono a minha atenção para a televisão.
Começa a dar Survivor e fico feliz por isso...

   Quando dou por mim já não estou mais na sala, mas sim no quarto. Apercebo -me imediatamente do que aconteceu.

Adormeci.

Verifico o telemóvel para ver as horas e vejo que são 4 da manhã. Torno a dormir e o som da chuva forte ajuda.







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Novo capítulo!!!

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Com amor,
                       Ana ❤️

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