06. Girassol 🌻

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- não vai mesmo me dizer o que aconteceu?- Júlia pergunta pela milionésima vez.
- eu não me sinto confortável em falar, dói muito ainda- digo.
- onde dói tia Dani?- Lipe pergunta vindo me abraçar.
- o meu amor o coração da titia tava doendo mas já passou - beijo seu rosto.
- não gosto quando o coração dói, é igual quando eu lembro da mamãe e meu coração dói?- ele pergunta.
-quase isso pequeno.- falo emocionada - vai brincar com a Ceci - aponto para a árvore onde a irmã está brincando.
- tá bom - sai correndo.
- ele é um fofo né ?- Júlia sorri pra o sobrinho.
- muito. Tanto ele quando a Cecília são especiais demais.
- mas não muda de assunto. Você pode abrir comigo Dani.
- obrigada Julinha mas ainda não tô preparada quem sabe logo eu consiga falar sobre o assunto.. E como você é o Jeff estão?- mudo de assunto e funciona.

Julinha discorre sobre o ela e o Jeff e que ele finalmente a chamou para sair hoje, e ela me pergunta sobre marcos já que ele vive falando que vai sair comigo desde que eu aceitei.
- acho que deveria da uma chance ele é muito jeitoso - ela ri.
- ele é sim mas não quero relacionamento - falo - eu não vim e busca de um. Me sinto melhor sozinha.
- e não sente falta de alguém?- suspira - eu sei que hoje as mulheres são extremamente modernas mas no fundo ter alguém do lado é bom não é?
Suspiro. É bom sim quando você não tem traumas que te deixam com medo.
- eu já pensei assim Ju, mas hoje tenho uma versão mais realista sobre isso. Não preciso de relacionamento pra ser feliz e completa, quando sinto falta de alguém eu tenho relacionamentos casuais e nunca afetivos.- confesso  e ela me olha assustada - não gosto de me relacionar com pessoas próximas justamente pra não ter vinculo.
- tipo o marcos? Vocês dois trabalhando aqui na fazenda?
- exatamente.- concordo - ele é sim um cara "jeitoso"- imito sua frase e ela ri - se eu não trabalhasse aqui provavelmente eu teria um envolvimento sem sentimentos com ele. Mas não é o caso, e ele parece querer mais, o que eu não estou disposta a oferecer a ele e nem ninguém.
- entendi- fala e fica em silêncio me analisando - você teve algum relacionamento que te deixou assim Dani? - a olho confusa- não me leve a mal, e confesso que me sinto sua amiga- ela sorri - e as vezes você fala algo como se tivesse tido uma grande decepção.
- eu tive sim - suspiro em meio da minha confissão- mas isso é um assunto pra um outro momento.
- claro.- sorri - quando quiser conversar estarei ouvidos.
- posso te fazer uma pergunta?- falo curiosa.
- com certeza.
- se eu estiver sendo invasiva por favor não sinta obrigação de me responder - ela concorda -  o que aconteceu com a mãe das crianças? O seu irmão nunca fala sobre ela, na verdade ele nunca fala nada.- dou de ombros.

Um silêncio ocupa o ambiente por um tempo até Júlia soltar um suspiro e olhar em direção as crianças.
- a Gio era minha melhor amiga, junto com o Tony, crescemos juntos nessa fazenda, e crescemos juntos. - a vejo sorrir - a Gio era a pessoa mais incrível que eu conheci, e várias vezes você me faz lembrar dela.
- eu?- pergunto assustada.
- sim. Ela se parece com você na personalidade a diferença é que ela era mais loira que você  por isso eles são tão clarinhos. Meu irmão nem sempre foi assim, casca grossa, machista e bruto. Ele ficou assim depois da morte da Gio.
- nossa sinto muito.- não sei o que pensar mas eles devem ter ficado arrasados.
- obrigada. Os dois eram loucos um pelo outro até que começaram a namorar e logo casaram. O que nunca foi dúvida pra ninguém. - ela sorri com a lembrança - primeiro veio a Ceci a alegria da nossa casa, e depois veio Lipe nosso príncipe. O parto foi complicado e ela teve uma hemorragia bem grave e acabou morrendo. Foi um choque pra todo mundo principalmente meu irmão. Ele foi no fundo do poço. 
- que história triste as crianças devem sentir muita falta.
- sim mas com você muita coisa amenizou. O Lipe não teve mais crise de choro e a Ceci parou os pesadelos. Lembra na primeira semana que você chegou?- concordo - então você tá sendo ótima pras crianças.  Mas quando o Tony voltou em si ele já não era o mesmo homem.m, não tinha mais brilho nos olhos dele, não tinha mais aquele sorriso estampado pra todo mundo, eu não reconhecia meu irmão. Ele se tornou esse cara que você conhece hoje.
- entendi. Deve ter sido um trauma muito grande. Mas pelo que eu vejo a relação com as crianças é ótima.
- sim ele é louco por elas. E quando ele está com as crianças eu vejo meu irmão de volta mesmo que seja por momentos. Hoje ele é esse promíscuo pervertido que você conhece. A Laisa e apenas um caso fixo mas sem compromisso.
- sinto muito pela perda de vocês. Eu sei a dor de perder alguém que amamos.- finjo não escutar a última parte e não entendo porque isso me incomoda.
- você também perdeu alguém Dani?
- sim. Prometo que em breve eu conto minha história mas eu preciso me preparar pois meche muito comigo.
- eu entendo.- ela sorri- vamos?
- vamos tá na hora de banhar as crianças- digo.

O primeiro a toma banho e Lipe que é um homenzinho tão espero e lembra muito do pai nas características. Ele vai até o quarto e fica brincando enquanto vou banhar a irmã.
- tia ?- Ceci diz enquanto a ajudo colocar a roupa.
- diga princesa - sorrio.
- eu amo voce!- ela diz simplesmente da forma mais pura que alguém poderia dizer.
- oh meu amor, a tia Dani também te ama muito - falo emocionada - você e seu irmão - a abraço.
- promete que nunca vai deixar a gente?
- prometo meu amor, mesmo que eu não trabalhe mais aqui um dia eu juro que sempre vou visitar vocês.

O jantar foi esquisito, pois ao mesmo tempo em que as crianças se divertiam eu preferi ficar na cozinha jantando sozinha.
- não vai jantar lá na mesa?- a voz grossa soa atrás de mim.
- não.
- olha, eu... quero te pedir desculpas se eu te machuquei - ele fala mas eu não me viro para olhar em seus lindos olhos.
- tudo bem.
- não precisa fugir de nós, as crianças estão querendo você - diz.
- estou terminando e já vou colocá-los para dormir.
- está bem.

Conhecer um pouco do Antônio me faz entender melhor a forma bruta como ele trata todos ao redor menos algumas pessoas como a família.

Coloco as crianças na cama, apago as luzes e desço indo em direção ao meu quartinho,tomo um banho e assim que chego nele encontro um lindo jarro com girassóis. Minhas flores favoritas, dentre as flores tinha um cartão amarelo com um único girassol.

" toda vez que eu olho pra você, vejo um girassol, algo lindo, cheio de vida e que está sempre em busca do sol."

Sem identificação de quem possa ter sido. Marcos seria capaz de entrar assim e por isso aqui?
Dormir foi a última coisa que eu consegui fazer nessa noite.

Um cowboy para chamar de meu!❤️‍🔥Onde histórias criam vida. Descubra agora