34-Alma profunda 🌘

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Nojo de mim por ter sido tão burra e não ter descoberto essa sujeirada, matei meus pais de desgosto, matei meu filho, sim porque eu não tivesse nascido ele poderia nascer através de outra mulher que merecesse essa dádiva.

Saber que fui criada por aqueles seres desprezíveis e descobrir toda sujeira e que além da surra que me deram eu fui abusada, eu não lembrava disso, essa parte se apagou da minha memória pois a única coisa que eu sabia era que eu estava apanhando é meu filho precisava ser protegido! Que bela mãe eu fui que nem protegi meu bebê das garras dessas pessoas horríveis.

Confesso que por alguns momentos eu realmente achei que merecesse uma chance de ser feliz, me senti parte de uma família. Antônio, Júlia e as crianças me fizeram sentir que eu poderia ser muito mais do que a menina que sofreu, a vó Rosa meu Porto Seguro que graças a ela estou viva, mas hoje eu preferia não estar e acabar com toda essa dor que existe dentro de mim.

Sou despertada pelo som da porta abrindo.
- desculpa entrar assim Dani mas eu queria falar com você - Júlia se aproxima.
- Oi Jully.- tento parecer feliz, mas é em vão.
- eu sei que não deve tá sendo fácil pelo que o que você passou, e longe de mim querer comparar com as dores que não conheço, mas eu não aguento mais de ver assim, você sempre tão alegre iluminando nossos dias e os das crianças que te amam assim como todos nós. Precisa reagir, por você e por nós que te amamos.- ela fala segurando minhas mãos.
- eu não sei como fazer isso. - confesso - eu ouvi tanta coisa sórdida que não consigo pensar que tudo poderia ser evitado se eu não tivesse existido.
- não fala isso Dani, você é especial pra queles que te amam e tem o prazer de ter você na sua vida. O que aconteceu foi um acaso infeliz que faz parte de quem você é e te tornou forte.
- eu não consigo pensar assim.- confesso.
- o Tony chamou alguém pra conversar com você por favor tenta por nós e por voce queremos te ver bem.
- como assim chamou alguém? Não quero ver ninguém - falo nervosa- eu preciso ficar sozinha.
- por favor Dani escuta o que ele tem a dizer! - implora.
Eu não consigo responder verbalmente já que meus olhos estão cheio de lágrimas. Júlia se afasta e da passagem ao homem que está vestindo uma calça jeans escura, botas, camisa xadrez e terno com um chapéu que não demonstra nada de sua personalidade bagunçada.

- bom dia srta Daniela, me chamo Wagner, sou psiquiatra e vim aqui pra gente conversar tudo bem?
Eu o encaro. Psiquiatra? Eu não sou louca.
- olha Dr. não sei qual é a brincadeira mas não preciso de médico para loucos! Eu estou bem. Então desculpe o transtorno de fazer você vir até aqui mas acho que não precisamos do seu serviço.
Ele me analisa e sorri. Tira o chapéu e senta na poltrona em frente à janela.
- o psiquiatra não é médico para loucos - ele ri - apesar que já ouvi coisas piores a meu respeito. Eu entendo seu receio mas eu estou aqui para te ajudar conversar, o que você quiser.
- achei que esse papel fosse do Psicologo- argumento com desdém.
- também é, inclusive ela vira depois de mim - sorri - você tem uma família extremamente preocupada com você.
- eu estou bem.- limito a falar.
- então me fala um pouco sobre estar bem? - ele me encara.

Eu gostei dele e da sua simplicidade que não percebi quando comecei a transcorrer algumas coisas que se passaram comigo.
- eu não sou a Jaque Psicologo é minha linda noiva, mas posso te dizer que você precisa se autoconhecer antes de julgar o porque das coisas. São respostas que você só encontrará quando descobri as perguntas. Vou te passar um remédio que vai te deixar mais tranquila para as crises que você tiver a ansiedade e a depressao mais intensa, mas não existe em me chamar caso queira conversar. Vou te deixar agora com a Jaque.
- não adianta vocês fazerem esse rodízio eu não vou melhorar- afirmo.

Ele sorri e sai. Uma moça com um vestido combinando com a estampa da blusa do outro médico entra.
- Daniela prazer em conhecê-la me chamo Jaqueline sou psicóloga.- sorri simpática.
- não sei se é tão prazeroso assim, eu não estou doente. Só quero ficar sozinha e ninguém respeita minha vontade - falo cansada.
- entendo. Vamos conversar?
- não acho que tenho assuntos em aberto.
- certo. Então me fala do porque voce ter feito pedagogia?

Eu comecei a discorrer sobre os motivos de eu ter entrado para educação infantil, e quando dei por mim estava contando sobre meu bebê, e como foi a compreensão de que o tinha perdido e da vo rosa e o quanto ela me salvou.

Me emocionei em falar da bondade e generosidade da vó em me acolher sem saber ou questionar quem eu era e de respeitar meu processo de me abrir.
- vejo que você tem um carinho muito significativo por essa senhora.- ela sorri.
- muito!- as lágrimas descem - ela é o significado de mãe pra mim. Me ajudou quando eu mais precisei e me mostrou que dinheiro nenhum nesse mundo compra amor.
- o amor ele surge de diversas formas e nem sempre está relacionado ao casal seja ele qual for, mas também em uma amizade, em alguém que é especial para a pessoa.  Nosso dia hoje foi muito significativo pra mim, compreendi que você também tem muita gratidão pelas pessoas que lhe ajudaram além do amor.
- sim, acho que em alguns pontos eles andam lado a lado.- confesso.
- exatamente o que eu queria ouvir. Espero que voce esteja aberta para continuarmos nessas conversas o que me diz? - ela fala sugestivamente.
- não sei se é uma boa ideia.
- você tem pessoas que te amam e se preocupam com voce , e não medem esforços para te ver bem. Por favor vamos nos da essa chance?
Suspiro derrotada.
- tudo bem.
- ótimo! - ela sorri e bate palmas- te vejo amanhã novamente querida.

Tomo um banho e coloco uma camisola, apesar de não querer ajuda e sim me afundar na minha insignificância eu decido fazer por eles mesmo sabendo que não dará em nada. Antônio veio perguntar sobre como havia sido e se gostei deles eu claramente disse que eram legais e o agradeci afinal eu ainda o amava mesmo sabendo que não Merecia o seu amor.

Um cowboy para chamar de meu!❤️‍🔥Onde histórias criam vida. Descubra agora