Ariana acordou no dia seguinte com o seu corte a doer e a brilhar intensamente. Levantou-se e foi até à casa de banho, onde deixou que a água fria corresse pela sua mão durante algum tempo, numa tentativa falhada de aliviar a dor que estava a sentir.
Sentou-se na cama algum tempo depois, sentindo-se frustrada. Pensava que o seu misterioso ferimento estava, finalmente, a voltar ao normal e a sarar. Tirou uma ligadura nova da gaveta da mesa de cabeceira – tinha comprado algumas e guardado no seu quarto para que a sua mãe não visse o seu corte – e enrolou à volta da sua mão, vestindo-se para ir para a escola.
Ainda era cedo, mas queria procurar Patrick. Talvez ele soubesse o que lhe estava a acontecer.
Após deixar um recado à sua mãe a avisar que ia mais cedo para a escola, saiu de casa. No entanto, alguns minutos depois, teve a sensação de que estava a ser seguida. Olhou para trás algumas vezes, mas nunca viu ninguém.
“Joel!” Ariana chamou, quando viu o amigo sair pelo portão de sua casa, um pouco mais à frente. A rapariga sorriu e fez sinal para que esperasse, mas Joel permaneceu sério, o que preocupou Ariana. “O que é que se passa?”
“Nada…” Respondeu. “Na verdade, sim, passa-se algo e muito estranho.” Joel fez pressão sobre o osso do nariz, algo que ele fazia sempre que estava nervoso. “Eu sei que vais ficar a pensar que eu estou maluco, ou assim, mas tens que ver isto.”
Joel respirou fundo e tirou a mão do bolso das calças, mostrando a Ariana o seu anel que estava a brilhar tal como o seu corte quando acordou.
“Oh, Deus… o teu anel…”
“Consegues ver?” Joel perguntou quase aliviado. “Consegues ver o brilho?”
“Sim.”
“É que hoje de manhã perguntei à minha mãe se o meu pai alguma vez lhe tinha falado do anel a brilhar, mas ela não estava a ver nada. Estava tudo normal para ela.”
“Como assim?” Ariana perguntou confusa.
Se a mãe de Joel não conseguia ver o brilho do seu anel, então, será que mais alguém conseguia? Será que o mesmo se aplicava à sua mão?
Lentamente, Ariana desenrolou a ligadura e ergueu a sua mão, mostrando a Joel o brilho que emanava dela
“Wow! Ariana, estás a brilhar como o meu anel!” Joel sussurrou-berrou, olhando para os lados. “A tua mão e o meu anel têm que estar relacionados de alguma forma, não?”
“Não sei. Acho que devíamos procurar respostas e-”
O som de um homem a saltar para o chão interrompeu Ariana. Vestia-se de preto e o seu rosto estava coberto por uma máscara igualmente negra, tapando-lhe quase todo o rosto. Um pouco como os alunos da universidade de Ethan.
“O que é que quer?” Ariana perguntou.
“Ele.” O homem respondeu, apontando para Joel e, então, um segundo homem apareceu, saltando de um muro para o chão.
“Mas, especialmente, tu.” O homem que aparecera depois falou, apontando para Ariana.
“Não. Vocês não lhe vão tocar.” Joel meteu-se à frente de Ariana e estendeu os braços, enquanto caminhava para trás, de forma a ficarem de costas para o muro de sua casa.
“Joel…” Ariana murmurou preocupada. Não queria que o amigo se sacrificasse por sua causa. “Por favor, Joel.” A rapariga agarrou na sua mão para o puxar para o seu lado, mas, no momento em que o fez, ambos sentiram uma onda de choque percorrer os seus corpos, o que gerou um pulso eletromagnético. Os homens mascarados caíram quando o chão tremeu, olhando para Joel e Ariana, confusos.
“Ah…” Joel gemeu de dor. Do seu anel, saiam pequenos raios de luz que se pareciam entranhar na sua pele, viajando do seu dedo anelar até ás costas da sua mão, onde se formou um símbolo: um círculo azul, da mesma cor da pedra do seu anel. “Ariana, o que é isto?”
“Não sei, será-ah!” Ariana sentiu o seu corte pulsar com a dor. Então, do nada, o corte transformou-se em vários raios de luz prateados, que se espalharam e encontraram-se nas costas da sua mão, onde também se formou um estranho símbolo semelhante a uma cruz. “Um Punhal…” Ariana murmurou quando se apercebeu do que realmente se tratava.
“O que é que se está a passar?”
Um gemido rouco soou, subitamente, vindo de Patrick que ainda se estava a perguntar como é que tinha ido parar ao outro lado da cidade. De repente, o seu peito começou a emitir um brilho em tons de laranja, que o levou a cair de joelhos no chão.
Joel e Ariana correram na sua direção, assim que o brilho desvaneceu. A rapariga ajoelhou-se ao seu lado, afastando um pedaço de tecido, expondo o peito de Patrick. Um estranho símbolo laranja, com cinco traços partindo do mesmo ponto central, estava, então, cravado no seu peito.
“Uma estrela de cinco pontas…” Ariana murmurou. Ergueu a sua mão, assim como Joel, para que Patrick visse os seus símbolos.
“Os Herdeiros do Anel e do Punhal vão-se juntar,” Um dos homens de máscara falou, após se ter levantado. “E o Herdeiro da Estrela eles encontrarão. Apanhem-nos!” Gritou e cerca de mais dez homens mascarados saltaram para cima dos muros das casas que os rodeavam.
Estavam cercados.
“Eu não consigo derrotar todos.” Patrick admitiu.
“O que é aquilo?” Joel perguntou.
Ao olhar para cima, Ariana viu uma luz que descia na sua direção, parando apenas quando se encontrava ao nível dos seus olhos. Inconscientemente, estendeu a sua mão, segurando em algo. No momento em que o fez, a luz desapareceu, revelando o punhal em que se cortara.
“Segurem-se a mim.” Ariana pediu, como se soubesse o que estava a fazer, como se o objeto que segurava na sua mão lhe estivesse a dizer o que devia de fazer. “Leva-nos daqui…”
Ariana fechou os olhos ao sentir que os seus pés deixaram de tocar no chão, seguido de uma turbulência. Não sabia o que é que ia acontecer, nem para onde é que estavam a ir, mas sentia as mãos de Joel e de Patrick que se seguravam aos seus braços e isso era o mais importante para ela.
Só queria salvar os seus amigos.
Alguns momentos depois, os seus pés voltaram a tocar no chão e Ariana abriu os olhos, olhando à sua volta para tentar reconhecer o sítio em que os três se encontravam, mas sem sucesso. Joel, por outro lado, decidiu simplesmente andar ás voltas, até que desistiu e perguntou:
“Que sítio é este, afinal, Ariana?”
“O meu mundo.” Patrick respondeu com um enorme sorriso no rosto. “Mas como é que fizeste isso? Como é que sabia vir para aqui?”
“Não sei, eu… acho que simplesmente senti que era o que tinha que fazer…”
“Bem, então, e o que é que fazemos agora?”
“A minha missão está concluída, portanto, o que temos que fazer agora é ir para o castelo e anunciar a nossa presença ao rei.” Patrick explicou. “Algum de vocês sabe andar a cavalo?” Perguntou e dirigiu-se a um estábulo que não ficava muito longe do sítio onde se encontravam. Ariana e Joel seguiram-no.
“Eu tive aulas quando era mais novo, acho que ainda devo de me lembrar de algumas coisas.”
“Eu não.”
“Então, Ariana vens comigo. E tu, Joel, vais na Onyx, que é a mais amigável e a mais calma.”
Patrick entrou no estábulo e, alguns minutos depois, saiu com um cavalo negro e um castanho, devidamente equipados, voltando para dentro de novo para trazer consigo um bloco com dois degraus.
Joel colocou o bloco do lado esquerdo do cavalo e subiu sem qualquer dificuldade, sorrindo vitoriosamente.
“Parece que não perdi o jeito.” Riu, acariciando a égua.
Ariana, por outro lado, levou algum tempo até que conseguiu, com algum custo, subir para cima do cavalo, segurando-se a Patrick.
Quando chegaram ao castelo, Ariana ficou maravilhada, sentindo que estava dentro de um livro de fantasia. O edifício que se encontrava à sua frente era branco, com apenas alguns detalhes em dourado à volta das enormes janelas, e tinha duas bandeiras negras de cada lado da entrada com uma lua prateada.
Depois de Joel ter ajudado Ariana a descer e terem amarrado os cavalos, Patrick guiou-os até ao interior do castelo, onde tudo era igualmente branco e cheio de luz. No salão até onde Patrick os tinha levado, havia uma carpete negra com bordados e pequenas luas prateadas desenhadas, que se estendia até ao trono onde se encontrava o rei, com mais dois homens de cada um dos seus lados.
“Patrick!” Uma voz soou atrás dos três. Ao olhar para trás, Ariana viu o rapaz do seu sonho: Luc. “Que bom ver que voltaste bem.”
“Sim.” Patrick sorriu.
“Patrick, porque é que não nos apresentas os Herdeiros?” O rei falou, olhando para Joel e Ariana com um sorriso no rosto.
“Esta é Ariana, Herdeira do Punhal.” Apontou para a rapariga, fazendo uma pausa e, de seguida para Joel. “E este é Joel, Herdeiro do Anel.”
“E tu, Patrick, Herdeiro da Estrela, vejo.” O homem que se sentava à direita do rei falou, o que causou alguns burburinhos, pois nenhum deles estava à espera de que Patrick fosse um dos Herdeiros. “O meu nome é James. Os meus colegas são Brom, Falkor e Kael. E claro, o nosso rei Evander e o príncipe Luc.”
Enquanto falava e apontava para cada um deles, Ariana reparou que também os quatro tinham um símbolo negro nas costas das suas mãos. Era um pouco parecido com o de Patrick, embora fossem apenas três traços e, estes, ondulares.
“É o símbolo dos Sábios.” Kael, o mais sério falou ao ver a curiosidade de Ariana. “Cada traço representa um dos Sábios que sacrificou a sua vida pelos três símbolos supremos.”
“Tal como o teu, brilha sempre que usamos o nosso poder.” James falou.
“O meu poder…” Ariana ainda não tinha assimilado totalmente o facto de ter poderes mágicos. Ao olhar para o seu símbolo, este começou a brilhar e uma forte dor de cabeça apanhou-a de surpresa, tal como no dia em que tivera a primeira visão. “Patrick…” Chamou, tocando no braço do rapaz.
Patrick olhou para Ariana ao sentir o seu toque e viu os seus olhos ficarem completamente negros uma vez mais. Numa questão de segundos, acabou o espaço entre os dois, mesmo a tempo de a segurar e impedir que o seu corpo caísse no chão.
Os seus olhos mostravam um sítio escuro e sujo, algo que a fazia lembrar uma masmorra. embora se sentisse um pouco aliviada por não estar no meio de uma batalha, o sítio onde se encontrava conseguia ser mais sombrio e trazer-lhe uma má sensação.
Ao tentar perceber onde é que se encontrava, deparou-se com um corpo no meio daquele espaço. Do teto saíam duas correntes grossas que prendiam os seus pulsos e, do chão, outras duas para os seus tornozelos.
Ariana correu até ao corpo para tentar encontrar alguma coisa que pudesse ajudar quando acordasse, e entrou em choque ao ver que era o seu melhor amigo que se encontrava naquele sítio, com uma expressão de dor nos seus olhos entreabertos.
O som de passos a aproximarem-se alertou Ariana, embora ela soubesse que não seria vista, tal como na primeira visão. Ficou atenta, pois queria saber quem é que se estava a aproximar, quem tinha levado Joel e feito tal atrocidade.
A dor de cabeça que tinha sentido no início parecia estar a voltar e Ariana lutava para manter os olhos abertos. Não podia permitir que a sua visão acabasse naquele momento. Não antes de saber quem é que se estava a aproximar.
No entanto, a rapariga não podia controlar aquilo que queria ver e os seus olhos acabaram por se fechar contra a sua vontade, no momento em que um par de olhos azuis escuros fitaram os seus, causando-lhe um sentimento de nostalgia.
Ariana abriu os seus olhos e, ao reparar que estava no chão, inclinada sobre o peito de Patrick, simplesmente endireitou-se, não tendo forças suficientes, nem motivação para se levantar naquele momento.
Que tipo de visão tinha sido aquela? O que é que tinham feito a Joel? Porque é que ele estava preso num sítio horrível como aquele? E quem é que o teria levado?
“Ariana, o que é que viste?” Joel perguntou, aproximando-se.
“Não…” Os olhos de Ariana rapidamente se encheram de lágrimas ao olhar para Joel.
“Esperem. Não a iremos forçar a contar o que viu, já que parece tão perturbada.” James falou e caminhou até Ariana, metendo a mão, levemente, sobre a sua cabeça. “Metam as vossas mãos sobre a minha.”
Todos se aproximaram de Ariana e colocaram as suas mãos por cima da de James e, então, os seus rostos que antes mostravam curiosidade e preocupação em relação a Ariana, passaram a estar aterrorizados.
Estavam a ver, através de James, a visão que Ariana tivera.
“Tu viste o futuro.” James falou, assim que a visão chegou ao fim.
“Quer dizer que isto vai mesmo acontecer-me?”
“O futuro muda a partir do momento em que simplesmente o olhamos.” James explicou, tentando acalmar Joel. “O dom das visões é muito raro e, geralmente, apenas os Sábios o têm e nem todos, porque este poder é concebido apenas àqueles em quem a Oráculo acredita que podem mudar aquilo que viram.”
“Mas e os olhos azuis? Como é que aquela pessoa me viu se eu estava a ter uma visão do futuro?” Ariana perguntou e todos olharam para ela de forma confusa.
“Que olhos?” Falkor perguntou.
“Alguém olhou para mim, olhos nos olhos, na visão, vocês não viram?”
“Ariana, não apareceu lá ninguém.” Joel falou, abanando a cabeça.
“Eu vi os olhos.” Patrick admitiu, olhando para todos os que estavam à sua volta. “Mais ninguém viu?” Todos abanaram a cabeça negativamente.
“Eu e os meus colegas vamos tentar perceber o que aconteceu. Normalmente, quando uso o meu poder, vejo tudo o que a pessoa viu. Se mais ninguém viu, a não ser vocês os dois, tem que haver uma explicação, portanto, não se preocupem porque vamos descobrir.” James olhou para Ariana. “Se, por acaso, vires mais alguma coisa, por favor, avisa-me.”
Ariana limitou-se a abanar com a cabeça afirmativamente, cansada demais para falar de novo. Sentia que aquele dia tinha sido equivalente a uma semana, por causa de todos os acontecimentos e emoções. Quando saiu de casa naquela manha, nunca pensou que ria acabar o seu dia num outro mundo que não o seu.
Como é que iria conseguir contar tudo à sua mãe? E a Sara? Será que iria sequer voltar a falar com alguma delas?
E Joel? Não podia deixar que a sua visão se tornasse realidade. Não sabia exatamente como é que iria impedir que algo assim acontecesse, mas se tinha poderes mágicos e se tinha sido escolhida, tinha que haver uma razão e Ariana iria proteger o seu amigo a todo o custo.
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A Marca do Obscuro
FantasyAriana era uma rapariga normal até encontrar algo estranho no meio da rua. Patrick, seu colega de turma, que tinha sido transferido alguns dias antes, encontrava-se no chão: tinha sido esfaqueado. Enquanto esperava pela ambulância, Ariana encontrou...