Capítulo 2 - Vida e Vasos Sanitários

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ANNELISE


Eu precisava de um analgésico

Ou melhor, de um pote com vários deles. Sim, isso soa melhor. Quase como um sonho doce e tranquilo

- Annelise!

Levanto a cabeça rapidamente piscando os olhos e vejo a sra. Mari me lançar um olhar pesaroso em troca. Cobrindo um bocejo com a mão estico minha coluna ao máximo e vou em direção ao meu chefe ignorando os olhares maliciosos em torno das minhas pernas.

- Me chamou senhor? – pergunto e o vejo contar com uma expressão atenciosa as notas de dinheiro em sua mão. Faço uma careta quando vejo ele lambendo os dedos para passar mais um maço e coloco uma expressão limpa no rosto quando ele levanta a cabeça

- Você estava dormindo de novo

- Não senhor, eu estava... – paro um segundo buscando na minha cabeça a última resposta que eu tinha dado na semana passada e estalo os dedos mentalmente quando me lembro – Limpando o balcão, tinha algumas manchas de gordura e eu odiaria que os clientes vissem

Alonso Vasco, vulgo meu chefe, era um homem baixinho, com um bigode que tinha mais cabelo do que o seu próprio cabelo e tinha olhos pretos que mais pareciam duas fendas escuras. Há exatos seis anos atrás eu tinha batido no pub pedindo um emprego.

Podia ser qualquer coisa, faxineira, assistente, garçonete, ou o que mais ele precisava. Obviamente o Pub Vasco não priorizava currículos, e sim aparência, onde os homens que frequentavam poderiam ter uma belíssima imagem de peitos e pernas por onde olhassem.

Não me julgue, era o único emprego ao qual me aceitaram

O fato é que eu trabalhava desde então onde Alonso me colocava, comecei limpando, depois assando aperitivos que me deixavam enjoada a semana inteira e cheirando a óleo, depois migrei para o caixa e agora eu fazia de tudo um pouco. O que significava dizer que eu fazia o trabalho bruto enquanto as meninas mais novas roçavam suas pernas nos homens que tinham a carteira mais gorda.

Tudo bem, eu não me importava. Não quando eu recebia meu salário, não quando eu necessitava do dinheiro. E nesses anos qualquer migalha servia.

- Você sabe que eu odeio quando você dorme em cima do balcão – volto meus olhos para Alonso e aceno humildemente suas acusações que não são nada mais do que resmungos em voz baixa – Da próxima vez durma em sua casa, e não aqui

- Sim, senhor – respondo abaixando a cabeça. Ele resmunga mais alguma coisa e volta a contar seu maço de dinheiro

- A Ana não pode vir hoje, estava gripada ou algo do tipo – Alonso fala e lambe os dedos enquanto separa outro maço – Faça o trabalho dela e quando estiver concluído pode ir embora

O trabalho dela...?

Ah porra

- Espere – eu falo e pigarreio – Hoje era o dia dela lavar os banheiros, eu já fiz isso essa semana sr. Vasco

- Não me importo nenhum pouco – ele responde e vejo sua boca se retorcer em uma careta – Faça seu trabalho e está dispensada por hoje

- Mas...

- Agora! – ele diz levantando a cabeça em um rugido e eu engulo o xingamento que dança na ponta da língua

Me volto para o salão onde as mesas estão espalhadas e respiro contando até dez e de volta para o inicio até que minha respiração se controle. Tudo bem Liz, você consegue.

Olho para o relógio em meu pulso e xingo vendo que já passa das seis horas da noite. Ah Luke, não poderei jantar com você de novo

Resmungando um palavrão passo por entre as mesas com os sapatos all-star estalando no chão pegajoso e paro abruptamente quando sinto uma mão deslizar por entre minhas pernas e subindo. Me volto para o homem barbudo na mesa ao lado e vejo seu sorriso nojento no rosto

A Mentira PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora